Biografias

A trajetória de Beatriz Nascimento, uma historiadora do percurso do negro no Brasil

Maria Beatriz Nascimento foi intelectual, historiadora, professora, poeta e ativista antirracista. Ela nasceu em Aracaju, Sergipe, em 17 de julho de 1942. Em 1949, migrou com a família composta por seus pais e nove irmãos para Cordovil, no subúrbio do Rio de Janeiro.

Em 1969, ingressou no curso de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Formou-se em 1971, mesma época em que fez estágio no Arquivo Nacional. Logo depois, passou a atuar como professora da rede estadual do Rio de Janeiro.

Na Universidade Federal Fluminense, fundou, juntamente com outros pesquisadores e pesquisadoras negras, o Grupo de Trabalho André Rebouças, atuando intensamente em movimentos sociais negros.

Em 1981, terminou o curso de pós-graduação Latu Sensu em História do Brasil, sempre procurando unir a militância no movimento negro ao desenvolvimento acadêmico.

Ao longo de sua trajetória como pesquisadora, estudou profundamente a formação dos quilombos no Brasil, defendendo o reconhecimento e a titulação das terras quilombolas no país, mas foi com a sua participação no documentário “Ôrí” que se tornou conhecida.

Ela escreveu e narrou os textos do documentário, no qual foi apresentado o percurso dos movimentos negros no Brasil entre os anos de 1977 e 1988, tomando os quilombos como fio condutor das reflexões apresentadas. Para ela, “Ôrí” foi uma forma de dar voz ao negro, fazer com que ele pudesse ser ouvido em um país que o silencia diariamente.

Beatriz Nascimento fez de seu trabalho de pesquisadora e militante uma forma de combater o racismo e a falsa teoria da democracia racial. De acordo com ela, a história do negro no Brasil foi marcada por “quase quinhentos anos de resistência à dor, ao sofrimento físico e moral, à sensação de não existir”.

Em seu trabalho, ela refletiu sobre a posição subalterna que é dada às mulheres negras no mercado de trabalho, tornando-se um grande nome do feminismo negro no país. Conforme Nascimento, esse processo de discriminação e exclusão da mulher negra é fruto da escravidão e da falta de políticas capazes de permitir que esse grupo alcance uma mobilidade social.

A pesquisadora discutiu também a questão do racismo na educação, apontando que a trajetória das crianças negras na escola é marcada pela solidão, pela dificuldade de se reconhecer nos livros escolares e encontrar o seu lugar nos espaços escolares.

Embora pouco conhecidos, seus trabalhos sobre os quilombos são importantíssimos para a compreensão desse tema. Para ela, o quilombo se constitui como um espaço de resistência, sendo um elemento fundamental para a construção da identidade negra.

Sua trajetória de militância e pesquisa, chegou ao fim em 28 de janeiro de 1995, quando foi assassinada com cinco tiros pelo companheiro de uma amiga. Ela perdeu a vida por orientar uma amiga a abandonar o parceiro abusivo.

Beatriz Nascimento morreu sem concluir a sua dissertação de mestrado, mas deixou um importante legado como historiadora, legado este que ainda é pouco conhecido por causa da invisibilidade das intelectuais negras, infelizmente, ainda tão comum no meio acadêmico.

Referências:

RATTS, Alex. “Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento”. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Instituto Kuanza, 2007.

REIS, Rodrigo Ferreira dos. “Ôrí e memória: o pensamento de Beatriz Nascimento”. Sankofa: Revista de História da África e dos Estudos da Diáspora, ano XIII, n. XXIII, p. 9-24, abril/2020. Disponível em:  <https://www.revistas.usp.br/sankofa/article/view/169143/160374>.

REIS, Rodrigo Ferreira dos. “Beatriz Nascimento vive entre nós: pensamentos, narrativas e a emancipação do ser (anos 70/90)”. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: UFSC, 2020.

UNIÃO DOS COLETIVOS PAN-AFRICANISTAS (Org). “Beatriz Nascimento: intelectual e quilombola”. São Paulo: Diáspora Africana, 2018.

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