Crimes

Dorinha Duval: o polêmico assassinato que levou um relacionamento abusivo aos tribunais

Dorah Teixeira, mais conhecida como Dorinha Duval foi cantora, atriz e vedete brasileira. Sua carreira ganhou projeção no final dos 1970, quando interpretou a Cuca do “Sítio do Picapau Amarelo” e uma das irmãs Cajazeiras de “O Bem Amado”. Seu sucesso, porém, foi interrompido quando, em 5 de outubro de 1980, matou seu marido, o produtor publicitário Paulo Sérgio Garcia Alcântara.

O crime ganhou repercussão nacional e fez com que a vida íntima de Dorinha fosse exposta em muitas páginas da imprensa da época.
Naquele momento, a atriz tinha 51 anos e seu esposo era 16 anos mais novo que ela. Segundo seu depoimento, na noite do crime, ela procurou Paulo Sérgio com carícias, mas foi repelida por ele com grosserias. No quarto do casal, teria começado uma discussão, na qual o marido teria rejeitado Dorinha e dito que ela estava velha, que ele preferia meninas de corpo durinho.

Mesmo humilhada, ela se propôs a fazer uma cirurgia plástica, no entanto, ouviu de Paulo Sérgio que não adiantaria. De acordo com Dorinha, ele disse: “Você não dá mais, nem com operação. Não adianta plástica, eu gosto de menininha nova, não quero uma bruxa remendada”. Diante da rejeição, Dorinha lhe disse que ele dependia do dinheiro dela e, conforme seu depoimento, o marido passou a agredi-la com socos e chutes. A atriz pegou um revólver que ele havia comprado depois de ter sofrido um assalto e disparou seis tiros, três dos quais o atingiram e tiraram a sua vida.

Após os disparos, ela ligou para amigos pedindo ajuda. Enquanto Paulo Sérgio era operado, Dorinha foi para a casa de um amigo. Sem saber que ele havia morrido na mesa de cirurgia, a atriz saiu de cena, entregando-se à polícia dois dias depois.

O assassinato ganhou uma repercussão imensa e a vida de Dorinha passou a ser escancarada em rede nacional. Em seu depoimento, marcado pela figura de uma mulher devastada e muitas crises de choro, Dorinha afirmou ter sofrido violência física e psicológica ao longo de seu casamento. Durante a discussão com o marido que a inferiorizava, ela teria sacado a arma em legítima defesa. Aos olhos de muitas pessoas, essa versão transformou a atriz em vítima e parte da opinião pública se mobilizou em sua defesa.

Dorinha Duval e seu advogado Técio Lins e Silva

Em uma época em que casos de homens que matavam suas esposas eram tratados com certa naturalidade, o crime de Dorinha repercutia justamente por ter acontecido uma inversão desses papéis. Em 1983, a atriz foi a julgamento. Seu advogado, Clóvis Sahione, explorou ao máximo a imagem de Dorinha como vítima. Para isso, ele lembrou diversos traumas que marcaram a vida de sua cliente. Vítima de estupro aos 15 anos, abandonada por um trapezista de circo aos 18, vendo-se obrigada a prostituir-se para pagar um aborto após uma gravidez tubária, Dorinha teria tido uma vida marcada por sofrimentos psicológicos e por relações abusivas, mas, mesmo assim, era uma mulher pacífica, amorosa, que fazia tudo para agradar o marido, inclusive pagava as muitas dívidas que ele contraía jogando pôquer. Usando a tese de “violenta emoção”, seu advogado insistiu no quanto ela havia sido humilhada pelo marido que a rejeitara. Diante do júri, ele questionava: “Algum dos jurados já experimentou a dor da rejeição?”

Por 7 votos a 0, Dorinha Duval foi condenada a um ano e meio de prisão, que poderia ser cumprida em liberdade, pois era ré primária, tinha boa conduta e era mãe de uma filha, fruto de seu casamento com Daniel Filho.

O promotor recorreu da sentença e, em 1989, um novo julgamento determinou uma pena de seis anos de reclusão em regime semiaberto.

Afastada da TV após o crime, Dorinha Duval tornou-se artista plástica e publicou um livro narrando esse episódio de sua vida e afirmando que havia deixado esse passado para trás.

Referências:
https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/o-crime-de-dorinha-duval-atriz-matou-marido-tiros-durante-briga-em-casa-18420501
ALMEIDA, Rosemary de Oliveira. “Mulheres que matam: universo imaginário do crime no feminino”. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/37006/1/2019_Let%C3%ADciaLealLima.pdf
ELUF, Luiza Nagib. “A paixão no banco dos réus – casos passionais célebres: de Pontes Visgueiro a Pimenta Neves”. São Paulo: Saraiva, 2003.
DUVAL, Dorinha. “Memórias de Dorinha Duval Contadas para Luiz Carlos Maciel e Maria Luiza Campo”. Rio de Janeiro: Record, 2002.

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