Feminicídio, sensacionalismo midiático e erro policial: Conheça o triste e assustador crime conhecido como Caso Eloá
Após ficar 100 horas sob a mira de um revólver, portado pelo ex-namorado, que não aceitava o término do relacionamento, a jovem Eloá, de 15 anos, foi cruelmente assassinada.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0031.jpg)
A situação emblemática trouxe à tona discussões sobre o sensacionalismo tóxico da imprensa brasileira, o despreparo policial e ajudou a popularizar uma discussão que nunca deveria ter saído de cena: o Feminicídio.
Na longa lista de casos de feminicídios do Brasil, a história de Eloá é um exemplo de uma sucessão de erros e violações que culminaram na sua morte, em outubro de 2008.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0026.jpg)
A jovem Eloá Cristina Pimentel tinha 15 anos e vivia com seus pais em um conjunto habitacional na periferia de Santo André. Era dia 13 de outubro de 2008, a adolescente estava fazendo um trabalho escolar com mais três amigos, quando seu ex-namorado, Lindemberg Alves, invadiu seu apartamento e a manteve por 100 horas sob a mira de um revólver.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0029.jpg)
Os meninos foram liberados logo no início do sequestro, mas sua amiga Nayara Rodrigues só foi liberada no segundo dia e acabou voltando ao apartamento para ajudar nas negociações.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0028.jpg)
Toda a tensão vivida pela adolescente foi transmitida ao vivo por diversos canais de televisão e Lindemberg chegou a ser entrevistado por telefone pela jornalista Sônia Abraão, da RedeTV, numa ação sensacionalista que foi objeto de muitas críticas após o desfecho trágico do sequestro.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0025.jpg)
Aos 12 anos, Eloá iniciou um namoro com Lindemberg que, na época, tinha 19. Desde o início, ele havia se mostrado muito ciumento e possessivo, privando a jovem de sair com outras pessoas e chegando até mesmo a agredi-la. A relação foi marcada por muitas idas e vindas até que, após o término do relacionamento, ele decidiu invadir seu apartamento e ameaçá-la com uma arma, ação, infelizmente, muito comum entre homens que se julgam proprietários das mulheres com as quais se relacionam.
A transmissão televisiva aumentou ainda mais a tensão, pois enquanto mantinha as meninas na sala, o criminoso via suas imagens na televisão e se sentia ainda mais poderoso em seu desejo de dominação.
As tentativas de negociação entre a polícia e o sequestrador eram completamente infrutíferas, o tempo passava e o clima de terror crescia. No final da noite do dia 14, Lindembrg liberou Nayra, toda a ação foi transmitida pela TV, o rosto aterrorizado da jovem foi estampado em todos os noticiários daquele dia, numa espetacularização da tragédia que até hoje causa polêmica.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0032.jpg)
Eloá permaneceu presa com seu agressor. Em alguns momentos, ela aparecia na janela, pedia calma e tentava mostrar que estava bem, no entanto, seu algoz não cedia e, em uma tentativa totalmente irresponsável, em 15 de outubro, a polícia mandou Nayara de volta ao cárcere, com a intenção de que a garota conseguisse a libertação da amiga.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0024.jpg)
A pressão popular, a cobertura sensacionalista da imprensa e a decisão absurda de mandar Nayara de volta ao apartamento, foram o estopim para mais uma ação desastrosa. Os policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais e da Tropa de Choque da Polícia Militar disseram ter ouvido um disparo dentro do apartamento. Sem pestanejar, eles explodiram a porta, entraram em luta corporal com o sequestrador, o qual atirou na direção das duas reféns. Nayara levou um tiro no rosto e Eloá foi baleada na cabeça e na virilha.
Lindemberg foi rendido e, finalmente, saiu algemado do local onde por 5 dias aterrorizou a mulher que ele dizia amar. Na sequência, Nayra saiu andando com seu rosto ferido e Eloá foi carregada até o Centro Hospitalar de Santo André, tudo registrado pelas câmeras televisivas, que não davam um minuto de trégua em sua busca incessante por audiência.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0027.jpg)
No dia 18 de outubro, às 23 horas e 30 minutos, foi decretada a morte cerebral de Eloá, a jovem não resistira aos ferimentos daquele homem que, tomado por seu sentimento de posse e por algo que jamais poderia ser chamado de amor, encerrou tão cedo a sua vida, tirando-lhe qualquer possibilidade de decidir com quem ela gostaria de ficar.
Os órgãos de Eloá foram doados e sua mãe se tornou uma defensora da doação de órgãos no país. Recentemente, Nayara ganhou na justiça o direito a uma indenização do Estado e, desde fevereiro de 2012, Lindembergh cumpre pena na Penitenciária 2 de Tremembé. Embora sua sentença inicial tenha sido de 98 anos e 10 meses de reclusão, em 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo reduziu sua pena para 39 anos e 3 meses em regime fechado, o que pode ser radicalmente reduzido, já que a lei de Execução Penal permite que a defesa solicite à Justiça a progressão para o regime semiaberto após o cumprimento de parte da condenação por crime hediondo.
![](https://iconografiadahistoria.com.br/wp-content/uploads/2020/11/IMG-20201112-WA0030.jpg)
A história desse triste caso é forte, pesada, mas é necessário ser contada para que as pessoas nunca se esqueçam de que milhares de vidas de mulheres são tiradas todos os dias, apenas pela condição de serem mulheres.
Referências:
https://www.terra.com.br/noticias/infograficos/caso-eloa-linhadotempo/caso-eloa.htm
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28256975/caso-eloa
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/10/apos-10-anos-vizinhos-ainda-lembram-a-morte-de-eloa-na-grande-sp.shtml
https://www.camara.leg.br/tv/192854-vasconcelos-quadros-jornal-do-brasil-e-ailton-carvalho-o-globo-caso-eloa/