“Respeito é pra quem tem”: a conturbada história de vida de Sabotage
Considerado um músico genial, Sabotage viveu entre quebradas, tráfico de drogas, carceragens, cinema e programas de televisão. Sempre trocando ideia, sempre dando uma letra
No dia 3 de abril de 1973, nasceu, em São Paulo, Mauro Mateus dos Santos. Filho de pais pobres, era cria da Favela do Canão, um dos lugares mais violentos da Capital paulista.
O pai, catador de papelão, abandonou a mãe, atitude comum nas periferias do Brasil. O genitor voltava à casa da família de vez em quando, sempre bêbado e pronto para arrumar confusão.
Após uma infância muito pobre, Mauro entra na adolescência e ganha de seus irmãos a alcunha que irá lhe acompanhar até o fim da vida: Sabotage.
O apelido veio porque Mauro aplicava pequenos golpes nos irmãos e sabia se virar muito bem na rua, através das “ideias”.
Na adolescência, ele reencontrou Dalva, a menina por quem era apaixonado desde a infância.
No anos 80, Mauro gostava de ouvir músicas de Chico Buarque e Leo Jaime. Sua canção predileta era “Meu Guri”.
Crescendo em um dos lugares mais violentos do mundo, Mauro teve passagens pela FEBEM e passou a viver suas primeiras experiências no crime.
Consciente de sua cor e de sua classe social, logo cedo passou a ver na música uma forma artística de expressão. Porém, sem oportunidade na vida artística, Sabotage entra na vida do crime, tentando dar à sua família uma situação diferente da que ele teve na infância.
A vida de Sabotage dá uma guinada quando o irmão foi preso por tráfico de drogas no famoso presídio do Carandiru. Visitando o irmão, ele teve contato com histórias e rappers. Pouco tempo antes da data de saída, seu irmão é morto por traficantes. Esse fato marca a vida do rapper para sempre e dá início a um período nebuloso em sua vida. Sabotage passa a usar crack constantemente e chega a morar na rua.
Após esse tempo nebuloso, Sabotage ganha apoio do RZO e dos famosos Racionais, que conheceram o mano e se encantaram pelos versos do cara.
Fazendo aberturas de shows do RZO, Sabotage pega a explosão do Rap de São Paulo. Afiado em rimas, falando a realidade da quebrada, de uma forma única, Sabotage passou a ser muito conhecido e admirado no circuito. O homem fazia rimas fáceis, entregava músicas em poucos dias e transparecia uma verdade muito impactante.
Em 2000, Sabotage é procurado pelos Racionais, que bancam a gravação de seu disco.
Após essa gravação, o cantor passa a ser conhecido nacionalmente e a fazer parceria com uma galera fora do Rap como a banda Charlie Brown Junior. Ele também passa a ser figura frequente no canal MTV.
Sua simpatia e carisma levaram Sabotage a realizar vários filmes como “Carandiru”, de Hector Babenco e “O Invasor”, de Beto Brandt. O filme sobre a prisão foi muito influenciado pelas ideias do cantor. Já que no SET de filmagem, o diretor sempre pedia suas opiniões sobre o mundo do crime e da prisão.
Estourado, finalmente ganhando dinheiro para tirar os filhos da quebrada e mudar de vida, Sabotage ainda tinha alguns contatos no meio do tráfico de drogas e intermediava certas transações. Já na iminência de largar a criminalidade, Sabotage é assassinado com quatro disparos de arma de fogo. O crime foi praticado por traficantes que viam nele uma ameaça ao tráfico da favela, pois ele sabia todos os segredos da dinâmica do comércio de drogas da região e estava ficando famoso.
A carreira de Sabotage foi meteórica, mas muito impactante. Até hoje ele é lembrado dentro do circuito do Rap nacional. Sua história de vida é como a de muitos jovens negros e pobres da periferia de todo o Brasil. Seus versos e músicas são poemas que tocam até hoje nos rádios de garotos, garotas, homens e mulheres de todo o país, como um compêndio sociológico, um manual comunicativo de como se viver em uma selva de concreto e aço, banhada a muita violência, que é a favela num país como o Brasil.