Covardia e ajuda de bandidos: Como foi a negociação da devolução da moto e arma roubadas do presidente Bolsonaro, em 1995
Naquela manhã de terça-feira, dia 4 de julho de 1995, o então deputado federal Jair Bolsonaro saiu de seu apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, para mais um dia de campanha pelas ruas da cidade. Ao parar em um semáforo na altura de Vila Isabel, foi assaltado por dois bandidos, que levaram sua moto e uma pistola Glock calibre 380. O deputado não reagiu e declarou a jornais que foi pego de surpresa e se sentiu indefeso no momento do assalto.

A ocorrência foi registrada na 20ª DP, em Vila Isabel e, no mesmo dia, 50 policiais foram designados para realizarem uma busca da moto roubada. O Secretário de Segurança do Rio de Janeiro naquela época era Nilton de Albuquerque Cerqueira, ex-comandante do DOI-Codi, e bastante conhecido por Jair Bolsonaro.
Cerqueira designou policiais para uma busca na favela do Jacarezinho. Entretanto, eles não recuperaram os pertences roubados do deputado. Três dias depois, no entanto, Vanderley Cunha fez a entrega da moto e da pistola roubadas. Conforme negociação com a polícia, a devolução seria feita no fundo da favela Acari, em um local distante das bocas de fumo comandadas por Jorge Luís dos Santos.

De acordo com Cunha, a entrega da arma foi feita ao coronel Alves, comandante do 9º Batalhão da PM e a moto, cujos pneus haviam sido trocados, foi levada pelo capitão Décio. A entrega foi totalmente pacífica e realizada quase em silêncio, pois Jorge Luís dos Santos não queria que as buscas realizadas pelos policiais continuassem ocorrendo na favela. Ele temia que Bolsonaro fosse com uma tropa até lá. Como o coronel Alves era bem visto na comunidade, uma liderança comunitária lhe telefonou e negociou a devolução dos bens roubados.
No dia seguinte, os jornais noticiaram que a entrega foi feita mediante um intenso confronto, então, o traficante Santos pediu que Cunha fizesse contato com o deputado e esclarecesse o que realmente tinha ocorrido. Ele havia comprado a moto e a arma dos assaltantes e pedido que fosse feita a negociação. Conforme Cunha, ele esclareceu como a entrega havia acontecido e Jair Bolsonaro lhe dissera que, a partir daquele momento, passaria a “ter uma visão mais positiva de bandido”.
O desfecho dessa história, porém, não termina aí. O assalto a Bolsonaro desencadeou uma sequência de megaoperações nas favelas da Zona Norte do Rio que resultou na prisão de vários traficantes, dentre eles, Santos.
Em março de 1996, o traficante Jorge Luís dos Santos foi encontrado morto dentro de uma cela da antiga Divisão de Recursos Especiais da Polícia Civil, na Barra da Tijuca. Conforme a polícia, ele teria se enforcado com a própria camisa. Versão que foi contestada por seus familiares e moradores da favela, os quais alegaram que ele não teria motivos para tirar a própria vida. Segundo moradores que acompanharam o velório do traficante, certamente, ele foi morto pela polícia. Márcia, sua esposa, alegara que ele não seria capaz de fazer o nó usado para se enforcar. Um mês depois da morte de Santos, Márcia e a mãe dela apareceram mortas a tiros às margens da Rodovia Presidente Dutra e a versão de que seu marido havia se suicidado permaneceu como a causa oficial de sua morte.

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Referências: