O inferno na terra: como foram os terríveis últimos anos do Czarismo na Rússia
Czar era o nome dado ao monarca russo. O homem que sentava no trono, comandava um país enorme, com muitas fronteiras e um Império que congregava uma centena de nações.
No final do século XIX, o Império Russo era comandado por Nicolau II. No período, a Rússia era um país bastante atrasado no que se refere às forças produtivas. O Czar, na sanha de transformar o país em uma grande potência capitalista, resolveu transformar uma Rússia feudal, ainda com fortíssimos traços da servidão, em um país capitalista.
Para realizar o intento, o monarca irá transformar a vida dos russos e agregados do Império em um inferno na terra.
Primeiro, o Czar, compulsoriamente, obrigou hordas de trabalhadores a construírem a faraônica obra ferroviária Transiberiana, uma estrada de ferro que corta, atualmente, 10 mil quilômetros de território asiático e europeu.
Com a construção da ferrovia e pesados empréstimos internacionais, as regiões urbanas foram se desenvolvendo e fábricas foram sendo montadas ao longo de todo o território.
No período, a Rússia era um contraste social visto a olhos nus. Enquanto nas ruas se empilhava lixo, esgoto a céu aberto e a população vivia sem qualquer assistência social, a nobreza e os donos de terra detinham 95% de toda a riqueza do Império. Era a nobreza também que comandava as grandes fábricas, as fazendas, a cobrança de impostos e tocava a máquina pública. Fazendo com que o filho de um nobre tivesse acesso a 5 refeições por dia, enquanto, nos rincões do país, camponeses morriam de fome e chegavam a adotar o canibalismo para sobreviver.
No início do século XX, o Czar envolveu o Império em uma guerra contra a pujante nação japonesa, por conta de territórios próximos da China. O Japão, que passava por uma industrialização pesada (Era Meiji) e modernização de seu exército, deu uma surra homérica nos russos. Enquanto o armamento e táticas de guerra dos japoneses eram de última geração, os russos ainda usavam cavalos, baoinetas, espadas e embarcações pesadas, muitas delas à vela.
O resultado foi um massacre. Quase 500 mil russos mortos. O Czar, desesperado, passou a desviar dinheiro e comida das cidades para as tropas no front. Hordas de trabalhadores passaram a ter jornadas de 16 e até 18 horas ao dia para poderem pagar os pesados impostos decorrentes do prejuízo causado pelo conflito. Nos navios da Marinha e dentro das tropas do exército, a fome era constante. Faltavam fardas, armamento e comida.
Nas fazendas, as plantações eram confiscadas. Em famílias grandes, os camponeses tinham que decidir quem de seus parentes iria morrer primeiro para que seu corpo fosse consumido pelos outros membros.
Nas grandes cidades, a guarda real, formada por Cossacos, oprimia quem reclamasse da situação. O índice de mortalidade infantil disparou em números jamais vistos antes.
Desafetos do Czar eram mandados para fora do país ou para campos de serviços forçados.
Não bastasse a desastrosa governança de Nicolau, sua esposa ainda levou para dentro do Palácio um guru, cujo nome era Rasputin e que queimaria ainda mais a reputação dos Romanov, nome da família real.
Nicolau II também passou a oprimir e a desrespeitar a nacionalidade do Império Russo, passando por cima de suas tradições, feriados, santos e deuses. Tudo com o respaldo da Igreja Católica Ortodoxa, que o Czar tentava usar como forma de coerção às revoltas que se sucediam naquela ambiente terrível.
Foi nessa situação, permeada por essas crises, que as ideias marxistas passam a circular no território Imperial e partidos de trabalhadores são formados. Entre seus líderes, estão Lenin e Stalin, personagens que mais tarde irão dirigir e dar rumo à revolução que fará o Czar e toda a sua família a serem executados por todo o mal que fizeram ao povo russo. Com a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial, aumento da crise o caminho para um processo revolucionário ficava cada vez mais fértil e o resto é história.
Referência
MARABINI, Jean. “A Rússia durante a Revolução de Outubro”. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
https://seer.ufs.br/index.php/tempo/article/download/3894/3259
REIS FILHO, Daniel Aarão. “As revoluções russas e o socialismo soviético”. São Paulo: UNESP, 2003
CASTRO LEAL, Ernesto. “A Revolução Russa de Outubro de 1917 e os primórdios do regime comunista: aspectos da recepção pública e da dinâmica política em Portugal (1917-1926)”.