História do Mundo

As doenças que dizimaram milhares de vidas durante a Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi o maior conflito bélico entre países da América do Sul. O confronto, ocorrido entre dezembro de 1864 e abril de 1870, opôs Brasil, Argentina e Uruguai, que formaram a Tríplice Aliança, contra o Paraguai.

O conflito se prolongou tempo demais e deixou todos os envolvidos com problemas econômicos e demográficos. O Paraguai perdeu dois terços de sua população masculina acima dos 20 anos, mas a causa das mortes não foi apenas o confronto bélico, muitos soldados morreram por causa de doenças que se alastravam pelo front.

Conforme a historiadora Janyne Barbosa, cerca de 70% dos participantes da Tríplice Aliança devem ter morrido em decorrência de doenças infecciosas, principalmente cólera, malária, varíola, pneumonia e disenteria.

Segundo os pesquisadores, as doenças infecciosas também dizimaram grande parte dos combatentes em outras guerras, como a da Crimeia, na Rússia, e a Guerra Civil dos Estados Unidos. As trincheiras usadas nesses conflitos facilitavam a disseminação das doenças, já que a higiene nesses locais era precária, havia muitos ratos e insetos e inundações eram frequentes.

O clima do Sul era outro fator mortal para os soldados, sem roupas adequadas, eles eram vitimados pelas baixas temperaturas que os deixavam ainda mais debilitados. Sobreviver nos acampamentos era um grande desafio. Até mesmo a água era contaminada, pois os mortos eram empilhados nas proximidades do front ou jogados em rios.

Algumas técnicas cirúrgicas foram aprimoradas durante a Guerra do Paraguai, suscitando a discussão sobre qual seria o melhor momento para amputar um braço ou uma perna dos feridos em combate. A falta de médicos e de um serviço especializado de enfermagem foi outro fator que aumentou o índice de mortalidade. Sem equipe especializada, os feridos eram atendidos por prisioneiros paraguaios que fizeram um curso rápido de enfermagem para cuidar de quem se feria em combate ou voluntárias, muitas delas religiosas, que acompanhavam as tropas.

Tendas improvisadas para atendimento aos doentes

Uma das mulheres que se destacou nesse atendimento foi Anna Nery, reconhecida como uma das primeiras enfermeiras brasileiras. Ela acompanhou seus filhos que foram convocados para lutar na Guerra do Paraguai e, para não se afastar deles, se voluntariou para cuidar dos feridos enquanto o conflito durasse. Fazendo uso de recursos próprios, Anna Nery criou uma enfermaria-modelo em Assunção e organizou os hospitais de campanha, fazendo um trabalho fundamental no atendimento dos feridos.

A Guerra do Paraguai chegou ao fim em 1870, quando o ditador paraguaio Solano López foi morto durante a Batalha de Cerro Corá. Suas consequências, porém, foram sentidas por longos anos. O saldo paraguaio foi a quase completa destruição de seu território. O saldo brasileiro foi um grande endividamento e o início da decadência de sua monarquia.

O Paraguai perdeu territórios para o Brasil e para a Argentina. Além disso, teve milhares de vidas perdidas. Acredita-se que 200 mil paraguaios tenham morrido durante o conflito, grande parte vítima das doenças que assolaram os territórios em guerra.

Referências:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51693818

https://www.scielo.br/j/ea/a/4K5KmWBkkxSRKrF3VTkVK8B/?lang=pt

DORATIORO, Francisco. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Imagem de abertura: Batalha do Avaí, de Pedro Américo.  

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