Entenda, historicamente, a história do conflito entre palestinos e israelenses
Oficialmente, o conflito entre Israel e Palestina, já dura mais de 50 anos e está bem distante de ter uma solução definitiva. Para compreender o que há por trás dessa disputa, é preciso, entretanto, voltar muitos séculos na história e analisar a origem dos dois povos que estão no foco do embate.
A história da Palestina é narrada na Bíblia e data de 2.500 anos antes de Cristo. Conhecida como Terra Santa ou Canaã, era o território dos descendentes de Abraão e Noé. Na época, os palestinos eram chamados de filisteus e foram os primeiros a chegarem na região. Os hebreus, povo judeu e israelense, chegaram algum tempo depois. Hebreus e filisteus têm a mesma origem, eles saíram da Caldeia. Assolados pela fome, os filisteus se estabeleceram em Canaã, já os hebreus passaram primeiro pelo Egito e ali foram escravizados.
Em 1.500 a.C, os hebreus se dirigiram à Palestina, em busca da Terra Prometida de que falava Moisés. A partir daí, começou uma luta entre esses dois povos para o controle da região. Os hebreus se fixaram na Galileia, próxima ao rio Jordão. Nessa época, Jerusalém se tornou a capital do local que passou a ser chamado de Terra de Israel.
Após a morte de Salomão, teve início uma série de conflitos naquele local. A Terra Prometida viu o nascimento e morte de Jesus e foi destruída pelos romanos. Em 135 d.C, ocorreu a “grande diáspora” e os hebreus/judeus foram expulsos dali.
Em 637 d.C., com o surgimento do Islã, os árabes viram no local uma possibilidade de expandirem os seus domínios. Algumas mesquitas começaram a ser erguidas e um conflito religioso instaurou-se na região, já que, antes disso, havia ali apenas o judaísmo e o cristianismo. Os conflitos religiosos e políticos continuaram por longo tempo, mas o povo palestino permaneceu no local, tentando manter a sua identidade em meio a tantas disputas.
Os judeus, porém, que haviam sido expulsos dali muitos anos antes, iniciaram no século XX um movimento de reintegração do território. Conhecido como Sionismo, pois tinha como ponto central a região de Sion, esse movimento contou com o apoio de diversos setores que diziam que o mundo desprezava os judeus, pois eles estavam espalhados por diferentes lugares. Desse modo, deveria ser criada uma nação judaica e garantido o estabelecimento deles na Palestina.
Em 1917, a Inglaterra divulgou a Declaração de Balfour, na qual se manifestava favorável ao estabelecimento dos judeus em uma parte da Palestina. Essa declaração foi entendida como um apoio inglês à criação do Estado de Israel, o que traria uma série de mudanças para o povo palestino e para os judeus que passaram a migrar para o local. Esse processo deu início aos primeiros ataques palestinos e, desde então, mais conflitos entre esses dois povos foram acontecendo.
Para tentar reinstaurar a paz, Winston Churchil publicou o primeiro Livro Branco, no qual afirmava que o governo britânico não pretendia transformar a Palestina em um território judeu. O governo britânico, no entanto, promulgou a Constituição Palestina no mês seguinte e a entrada de mais imigrantes judeus passou a ser autorizada.
A tensão na região foi crescendo e órgãos paramilitares e milícias foram se formando com o intuito de defender cada um dos lados. Isso fez com que ações violentas se tornassem constantes. Com a perseguição de Hitler aos nazistas, a imigração judaica aumentou ainda mais. De acordo com historiadores, em 1933, havia 9.533 judeus na Palestina, já em 1935, esse número saltou para 61.854, o que aumentou progressivamente os conflitos. De um lado, judeus argumentavam que lutavam pelo direito de terem um lar, do outro, palestinos defendiam que tinham direito ao território.
Em 25 de abril de 1936, o líder árabe-palestino Amin Al-Husseini convocou uma greve geral que tinha o objetivo de forçar o governo britânico a cessar a imigração judaica e a eleger um governo e um parlamento formado por habitantes da Palestina, pois acreditava que a influência judaica na administração do país era excessiva. A proposta foi rejeitada e uma greve de 175 dias foi deflagrada, junto com ela, a violência se disseminou pelo território, massacres cruéis foram praticados contra civis judeus e palestinos.
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou a criação do Estado de Israel. Ficou determinado que 57% do território ficaria com Israel, enquanto os outros 43% pertenceriam aos árabes. Além disso, Jerusalém, cidade sagrada para árabes, judeus e cristãos, passaria a ser um território internacional administrado pela ONU.
Essa partilha, entretanto, fez com que uma guerra fosse instaurada entre árabes e judeus. A Palestina, o Egito, a Síria, o Líbano, a Jordânia e o Iraque viam o Estado judeu como uma invasão do território palestino. Assim, eles organizaram um ataque ao Estado de Israel no dia posterior à sua criação. A guerra durou cerca de um ano e foi responsável pela morte de 1% da população, mas foi vencida por Israel, que ampliou 75% do seu território na Palestina.
Em 1956, mais um conflito teve início. A Guerra do Canal de Suez buscava garantir o acesso de franceses e ingleses ao comércio oriental. A guerra trouxe para Israel a possibilidade de neutralizar os ataques terroristas a partir da Faixa de Gaza e garantir o livre trânsito de seus navios pelo Mar Vermelho. Esse confronto trouxe uma aproximação maior entre Israel e a União Soviética.
Entre os dias 5 a 10 de junho de 1967, ocorreu a Guerra dos Seis Dias, através da qual o Estado de Israel, com o apoio dos Estados Unidos, ampliou ainda mais o seu território, ocupando a Península do Sinai, no Egito, a Faixa de Gaza, algumas áreas da Síria e da Jordânia e completando a ocupação de Jerusalém.
No ano de 1973, outra guerra foi deflagrada: a Guerra de Yom Kippur, através da qual os israelenses dominaram as colinas de Golã e Sinai, que pertenciam à Síria e ao Egito.
Todos esses conflitos ocorridos ao longo dos séculos mostram o quanto é difícil alcançar a paz nessa região e fazer com que judeus e árabes palestinos entrem em um acordo.
Em 1987, mais sangue foi derramado nesse território. O episódio que ficou conhecido como Intifada ou Revolta das Pedras, resultou na morte de centenas de crianças palestinas, entrando para a história como mais um dos trágicos fatos decorrentes dessa disputa que parece não ter fim.
Em julho de 2000, o líder palestino Yasser Arafat e o premiê israelense Ehud Barak se reuniram para fazer um acordo, mas fracassaram e, em setembro do mesmo ano, ocorreu uma nova revolta de palestinos contra Israel, evento que ficou conhecido como a Segunda Intifada.
A partir de 2002, os atentados terroristas e ataques suicidas se tornaram mais frequentes, levando os israelenses a invadirem áreas autônomas da Palestina e a cercarem o quartel-general da OLP em Ramallah, onde Arafat permaneceu até sua morte, em 2004.
Em janeiro de 2006, o grupo radical islâmico Hamas venceu as eleições em Gaza, mas americanos e israelenses não reconheceram o resultado por julgarem que se tratava de um grupo terrorista. O Hamas e a Fatah, organização palestina moderada, deveriam governar juntos a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, porém, não houve um acordo entre eles e, em junho de 2007, o Hamas passa a controlar Gaza e a Fatah, a Cisjordânia. Logo depois disso, o Hamas passa a atacar Israel com mísseis lançados da Faixa de Gaza.
O extremismo e a violência vão se espalhando cada vez mais pela região e a reconciliação entre esses dois povos parece ficar cada dia mais distante. As divergências políticas, ideológicas e religiosas permanecem firmes e a longa disputa segue deixando uma imensa trilha de corpos.
Referências:
PRAZERES, Tamires Silva Pereira. “A religião no conflito entre Israel e Palestina no contexto da criação do estado judaico: aspectos históricos (1896-1948)”. Dissertação de Mestrado (Ciências da Religião). São Bernardo: Universidade Metodista de São Paulo, 2016. Disponível em: https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/METO_11677ba911a4d9eb5a495de4ff95c360
VIGEVANI, T. “Israel-Palestina: a construção da paz vista de uma perspectiva global”. São Paulo: Editora UNESP, 2001.
GRESH, Alain. “Israel, Palestina: Verdades sobre um Conflito”. Editora Campo das Letras, 2002.
LOPES, Liana A. “A autoridade palestina e a resolução do conflito em Israel”. PUC Rio, 2006.