Biografias

Médico Genocida: a diabólica história de Josef Menguele, o bisturi do diabo

“Quando um passarinho feliz canta, ele não canta para mim. Sempre que uma estrelinha brilha ao longe, ela brilha para outro e não para mim”. Quem poderia imaginar que esse texto foi escrito por alguém que entrou para a história como um dos mais cruéis representantes do nazismo? Encontrado na casa em Diadema onde viveu Josef Mengele, um dos mais terríveis médicos nazistas, esse é um trecho do longo acervo de escritos deixados pelo médico.

Conhecido como “Anjo da Morte”, Mengele realizou experiências terríveis em prisioneiros de Auschwitz. Ele conseguiu fugir pouco antes da chegada do Exército Vermelho ao campo de concentração. Passou por vários lugares, usando nomes falsos e encerrou seus dias no Brasil, onde morreu em 1979, nadando em uma praia em Bertioga.

Josef Mengele nasceu em Günzburg, no sul da Alemanha, em 1911. Filho mais velho de uma família de empresários, ele não quis seguir os caminhos paternos e resolveu estudar medicina e antropologia.

Em 1938, entrou para a SS, recebendo dois meses depois o título de doutor pela Universidade de Frankfurt. Como SS, ele esteve por um curto período de tempo no front e acabou salvando dois soldados alemães de um tanque em chamas, o que lhe garantiu uma condecoração com a Cruz de Aço.

Logo depois, foi para Auschwitz e foi ali que cometeu as atrocidades que lhe deram o epíteto de “Anjo da Morte” e fizeram com que seu nome entrasse para a história como o responsável por experiências pseudocientíficas marcadas pelo horror e pela crueldade.

No campo de concentração, Mengele passou a ser responsável pela triagem feita na rampa de entrada. Ali, ele escolhia quem iria diretamente para a câmera de gás, quem estava apto ao trabalho e aqueles que serviriam de cobaias para seus experimentos, manifestando grande interesse por crianças, especialmente gêmeos e anões.

Entre as atrocidades que cometera, estão a introdução de corante azul nos olhos de crianças, operações sem anestesia, a infecção de gêmeos com tuberculose e tifo, a realização de transplantes de órgãos, amputações, transfusões de sangue de tipo incompatível e uma série de outros experimentos que visavam alcançar o que ele chamava de “higiene racial” e alimentavam o seu desejo de se tornar um grande cientista.

Os gêmeos eram os principais alvos das suas experiências. Ele usava um deles como cobaia e o outro como controle. Quando já não lhes interessava mais, matava os dois e comparava os corpos.

Atuando em Auschwitz, lugar que ficou conhecido como a “capital do Holocausto”, Mengele tinha a possiblidade de cometer as maiores atrocidades através se seus experimentos com seres humanos, tendo o poder de decidir quem vivia e quem morria.

Segundo o historiador americano David G. Marwell, autor de uma das biografias de Josef Mengele, ele não era um sádico, que tinha prazer em torturar as suas vítimas, era um homem racional, que procurava executar com um rigor frio os seus experimentos, e selecionar aqueles que julgava que seriam úteis para as suas pesquisas. 

Quando a 2ª Guerra Mundial se aproximava do fim e a derrota alemã era inevitável, os principais líderes nazistas se suicidaram, outros foram presos e julgados, outros, ainda, fugiram. Josef Mengele fez parte do terceiro grupo. Em 17 de janeiro de 1945, ele saiu de Auschwitz levando duas caixas com os principais registros de seus experimentos, o restante ardeu em uma grande fogueira.

Grupo de oficiais das SS em Auschwitz, na segunda metade de 1944. O segundo a partir da esquerda é Josef Mengele.

Ele adotou o nome de Fritz Hollmann e passou a viver como um camponês no sul da Alemanha. Em 1949, conseguiu um passaporte falso e fugiu para a Argentina, onde passou a viver como Helmut Gregor, deixando para trás a sua esposa e seu filho Rolf.

Em Buenos Aires, ele viveu uma vida tranquila e próspera, tornando-se sócio de uma companhia farmacêutica e circulando livremente entre refugiados alemães. Em 1956, chegou a viajar para a Alemanha, onde se divorciou de sua primeira esposa e se casou com a viúva de um irmão para que a herança da família não fosse dividida.

Sua prosperidade e tranquilidade na Argentina, entretanto, chegou ao fim quando recebeu a notícia de que seria extraditado e levado a julgamento.  Em 1959, Josef Mengele fugiu para o Paraguai e, em seguida para o Brasil. Aqui passou o resto de seus dias, morrendo em 7 de fevereiro de 1979, enquanto nadava em uma praia de Bertioga. Vítima de um derrame cerebral, estava na praia a convite de um casal de amigos austríacos.

Foi enterrado no cemitério de Nossa Senhora do Rosário, em Embu das Artes, com o nome de Wolfgang Gerhard, um austríaco de 54 anos. A verdade sobre quem realmente estava naquele túmulo só veio à tona em 1985, quando a polícia alemã interceptou cartas endereçadas a um ex-funcionário da família de Mengele.

Comandada pelo delegado Romeu Tuma, a investigação da Polícia Federal brasileira encontrou uma série de documentos na casa dos Bossert, a família austríaca com a qual Mengele viveu os últimos momentos de sua vida, que comprovavam que o “Anjo da Morte” tinha vivido ali.

O corpo enterrado em Embu das Artes foi exumado e o legista Daniel Romero Munõz confirmou que se tratava de Josef Mengele. Um exame de DNA feito na Inglaterra, sete anos depois, reafirmou que aqueles restos mortais eram mesmo de Mengele.

Como seu filho nunca requisitou o corpo, o seu esqueleto é usado em aulas de medicina forense da USP.

Professor Muñoz usa crânio de Mengele em sua aula

Rolf Mengele se formou em Direito e nunca quis seguir os negócios da família, mas tentou compreender o pai. Ele esteve com ele no Brasil, mas decidiu cortar qualquer laço com o pai ao perceber que ele não manifestava qualquer arrependimento ou remorso por suas ações. Em uma das últimas cartas que escreveu ao filho, Mengele dizia que tinha agido pelo bem da nação germânica e que não se sentia na obrigação de se desculpar ou justificar qualquer um de seus atos.

Para os sobreviventes dos terríveis experimentos de Mengele e suas famílias, restaram apenas sensação de impunidade e a dor de lembranças que jamais poderão ser apagadas. Pensar que o seu algoz morreu em um dia de lazer na praia, deixou em muitos a sensação de que ele jamais pagou pelos experimentos desumanos que executou, pois nunca foi julgado e condenado por seus atos.

O médico que sonhava em tornar-se célebre com as atrocidades que cometia em nome do conhecimento científico, terminou seus dias em um país multirracial, em um casebre próximo à represa Billings, vivia assustado e deprimido, sempre esperando o dia em que seria encontrado por caçadores de nazistas. Sofria de pressão alta, enxaquecas, insônia, próstata inflamada e reumatismo. Falava em suicídio e tinha pedido aos amigos austríacos que cremassem seu corpo quando morresse.

Seu desejo não pôde ser realizado, já que não havia ninguém de sua família que pudesse autorizar a cremação, assim, foi enterrado em um túmulo alheio, com identidade falsa e sem jamais alcançar a notoriedade científica que tanto desejou em vida. Desde 2016, ele contribui com a ciência, não através das atrocidades pseudocientíficas que cometeu, mas com seus ossos que passaram a ser usados como material didático nas aulas do legista que o identificara como Josef Mengele.

Referências:

https://www.dw.com/pt-br/josef-mengele-o-anjo-da-morte-de-auschwitz/a-52113785

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47121871

https://super.abril.com.br/ciencia/josef-mengele-e-os-medicos-nazistas/

https://super.abril.com.br/especiais/mengele-as-tres-vidas-do-anjo-da-morte/

https://epoca.globo.com/cultura/biografia-descortina-josef-mengele-um-monstro-com-metodo-24536824

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