O brutal arrastamento de João Hélio: o crime que chocou o Brasil
O Brasil tem uma longa lista de crimes que entraram para a história por sua violência e pela repercussão que ganharam nas páginas dos jornais e nos programas de TV. A morte de João Hélio é um desses crimes.
No dia 7 de fevereiro de 2007, Rosa Cristina Fernandes dirigia seu corsa pelo bairro Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Por volta das 21 horas, ela parou em um semáforo na rua João Vicente e foi abordada por rapazes armados.
Os bandidos queriam levar seu carro. Dentro do veículo, estavam também os dois filhos de Rosa: Aline, de 13 anos, e João Hélio, de 6 anos. Os homens obrigaram Rosa e as crianças a descerem do carro, mas ela não conseguiu soltar o cinto de segurança que prendia João Hélio.
Na pressa de sair dali, os assaltantes arrancaram sem que a mãe pudesse tirar o filho do banco de trás do automóvel. O garoto ficou pendurado do lado de fora, preso ao cinto. Na tentativa de se livrar do menino, eles dirigiram em alta velocidade por cerca de sete quilômetros. Mesmo com o apelo de muitos motoristas que os alertaram sobre o fato de que a criança estava sendo arrastada, eles seguiram até chegarem ao bairro Cascadura e abandonarem o carro.
Arrastado no asfalto, o pequeno corpo de João Hélio foi dilacerado. A cena terrível foi vista por muita gente e a polícia foi acionada rapidamente. No trajeto até o veículo, os investigadores encontraram pedaços de massa encefálica e partes da cabeça do menino.
A brutalidade do crime chocou o país e fez com que os criminosos rapidamente fossem identificados. Diego, um dos envolvidos, foi entregue pelo próprio pai, que não aceitou a barbaridade que o filho tinha cometido. Junto com ele, um menor de 16 anos foi preso.
Eles confessaram o crime e disseram que ficaram ziguezagueando com o carro para se livrarem do corpo da criança.
As investigações levaram a mais três envolvidos: Carlos Eduardo, responsável por dirigir o veículo, Tiago e Roberto Carlos, que levaram os demais ao local do crime.
O menor foi o responsável por abordar Rosa com a arma que, conforme a investigação, era de brinquedo. Seu envolvimento levou a uma série de manifestações pela redução da maioridade penal, já que, apesar da violência do delito em que estivera envolvido, ele só poderia cumprir medida socioeducativa.
Diversas passeatas e manifestos foram feitos pedindo justiça pela morte de João Hélio e defendendo que o menor tivesse a mesma pena que os outros criminosos. Até hoje, quando se fala em redução da maioridade penal, esse crime é lembrado por aqueles que pedem a mudança na lei.
Os outros criminosos foram julgados em 30 de janeiro de 2008 e foram condenados por latrocínio. Carlos Eduardo foi condenado a 45 anos de reclusão; Diego do Nascimento recebeu pena de 44 anos e três meses de prisão; Carlos Roberto da Silva e Tiago Abreu foram condenados a 39 anos de reclusão.
Em 2019, Carlos Roberto conseguiu o direito de cumprir o restante da pena em liberdade, o que reabriu o debate acerca da justiça no Brasil. Diante da crueldade com que os criminosos agiram, a notícia de que um dos envolvidos passaria para o regime aberto após 10 anos na cadeia, reacendeu o sentimento de impunidade que havia sido evocado na época da morte de João Hélio. Naquele momento, a indignação era pelo fato de que o menor de idade teria uma punição diferente dos demais. Agora, a discussão foi em torno do tempo de reclusão de um dos envolvidos. Nos dois casos, parte da opinião pública defende que crimes como esse deveriam ter punições mais severas e que as leis brasileiras são falhas.
Além de servir de exemplo nos debates sobre a legislação de nosso país, a morte de João Hélio segue sendo lembrada como um símbolo da violência brutal que marca o Brasil e que destrói tantas vidas.
Referências:
https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/repositorio/20/11artigo.revista2012.pdf
http://www.anaisdosappil.uff.br/index.php/VSAPPIL-Ling/article/view/146
https://aplicacao.mpmg.mp.br/xmlui/handle/123456789/194