Biografias

Herói ou vilão: a polêmica vida de lutas de Marighela

Em sua música “Mil faces de um homem leal”, o grupo Racionais MC’s diz: “Mártir, mito ou maldito sonhador/ Bandido da minha cor/ Um novo messias”. Esses versos cantados por Mano Brown traduzem um pouco a visão que se tem de Carlos Marighella. Adorado e admirado por uns, detestado e repelido por outros, esse controverso personagem de nossa história é tratado como herói ou bandido, dependendo da perspectiva de quem olha para a sua história.

Carlos Marighella nasceu em Salvador no dia 5 de dezembro de 1911. Filho de Augusto Marighela, um operário italiano, e de Maria Rita do Nascimento, uma dona de casa descendente de escravizados.

Maria Rita do Nascimento e Augusto Marighela

Seu pai exerceu forte influência sobre ele e incutiu-lhe ideais socialistas desde muito cedo. Em 1929, Marighela começou a cursar Engenharia Civil na Escola Politécnica da Bahia e filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB) no ano seguinte. 

Colocando-se como um forte opositor do Estado Novo, ele foi preso e torturado duas vezes, ficando encarcerado por seis anos.

A militância e as prisões o fizeram interromper os seus estudos, mas ele seguiu atuando no movimento estudantil baiano depois de ser posto em liberdade.

Em 1945, Carlos Marighela foi eleito deputado federal pelo PCB da Bahia. Seu mandato, entretanto, durou pouco, pois seu partido foi posto na ilegalidade. Assim, ele seguiu atuando na militância de forma clandestina.

Ele se tornou o dirigente máximo do PCB paulista e passou a viver em São Paulo, atuando em diferentes frentes do estado. No Comitê Regional de Piratinga, Marighela participou da preparação da greve de março de 1953, que, sob a liderança do líder sindical comunista Antônio Chamorro, mobilizou cerca de trezentos mil operários no estado e alcançou parcialmente a reivindicação de aumento salarial.

No IV Congresso do PCB, realizado em novembro de 1954, ele apresentou um informe no qual fez ampla defesa da criação de uma “frente democrática de libertação nacional” e propôs a realização de “ações revolucionárias de massas pela conquista do governo democrático de libertação nacional”. 

A partir de 1964, após diversos conflitos internos motivados por divergências ideológicas, Marighela começa a encabeçar constantes conflitos com membros do PCB, já que acreditava que o único caminho para alcançar o socialismo era a luta armada. No dia 9 de maio de 1964, recebeu voz de prisão de policiais do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), mas resistiu, o que ia contra o que determinava o seu partido. Na ocasião, ele recebeu um tiro na barriga e foi detido por oito policiais. Libertado no mês seguinte, Marighela deixou claro que não concordava com a linha política que vinha sendo seguida pelo PCB e voltou a afirmar a necessidade de encamparem um movimento de insurreição popular para derrubada do regime militar.

Policiais prendem Marighela em 9 de maio de 1964

Para ele, apenas a força derrubaria a ditadura, desse modo, a guerrilha era o caminho de resistência popular.

Em 1967, viajou para Cuba para participar de uma conferência na qual reafirmou a importância de se preparar o povo para a luta armada. Ao retornar, Marighela foi expulso do partido. No início de 1968, fundou junto com outros comunistas a Ação Libertadora Nacional (ALN), dando início a um movimento de guerrilha urbana que passou a realizar assaltos a bancos para levantar fundos. Nessa mesma época, surgiu a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) que também passou a adotar a luta armada. 

O crescimento do movimento armado fez crescer também a repressão e, entre os meses de janeiro a agosto de 1968, cerca de duzentas pessoas foram acusadas de integrarem grupos de guerrilha. Marighella foi acusado de ser o chefe dos grupos subversivos e escreveu um documento rebatendo as acusações e afirmando que só lhe restava responder à bala as ações do governo e das forças policiais.

Com a promulgação do AI-5, as ações de guerrilha urbana começaram a ganhar força e Carlos Marighella escreveu seu “Minimanual do guerrilheiro urbano”, no qual reforçava seu discurso de que bastava que os homens se apropriassem das armas e do dinheiro para derrubarem o regime ditatorial que oprimia o povo.

Em agosto de 1969, Marighela aliou-se ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e participou do sequestro do embaixador norte-americano no Brasil, Charles Elbrick. Essa ação fez com que a caça aos subversivos se tornasse ainda mais intensa e ele se tornou um dos principais inimigos do regime. Um de seus projetos era que a ALN mobilizasse recursos para apoiar a guerrilha rural, mas nem chegou a levar seus objetivos adiante porque a repressão se tornou cada vez mais dura e a sua morte virou um dos objetivos da ditadura.

Marighela foi morto a tiros por uma equipe comandada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Seu corpo foi encontrado na noite de 4 de novembro de 1969, na Alameda Casa Branca, em São Paulo. Além dele, duas outras pessoas morreram durante a ação. Ele foi enterrado como indigente no cemitério da Vila Formosa. Após a anistia política, em 1979, seus restos mortais foram transportados para o cemitério da Quinta dos Lázaros, em Salvador.

Somente no ano de 1996, o Ministério da Justiça admitiu a responsabilidade do Estado pela morte de Marighela e, em 2012, após atuação da Comissão da Verdade, sua anistia post mortem foi concedida. Até hoje, porém, seu nome continua gerando discussões calorosas entre aqueles que enaltecem o seu caráter heroico e aqueles que o enxergam como um bandido perigoso.

Referências:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2019/11/vilao-ou-heroi-ha-50-anos-morria-carlos-marighella-um-dos-personagens-mais-controversos-da-historia-recente-do-brasil-ck2g6qtjr0by201r2apll2lh8.html

https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/novosrumos/article/view/3463

http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/marighella-carlos

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