A greve dos caminhoneiros de 2018, o movimento que parou o Brasil
O transporte rodoviário é responsável por mais de 60% da circulação de produtos no país. O Brasil possui uma frota de cerca de 2 milhões de caminhões de carga. Há 11 mil empresas de transporte registradas e 60% dos motoristas que circulam pelo país são autônomos.
Conforme dados de uma pesquisa da Confederação Nacional de Transportes (CNT), 99,5% dos caminhoneiros são homens e possuem em média 46,5 anos. 65% desses trabalhadores possuem ensino médio incompleto. Eles trabalham em média 11,5 horas por dia e ganham em torno de 4.600 reais por mês. O salário bruto é bem maior, mas grande parte do que ganham fica na estrada, pois eles gastam valores muito elevados com combustível, pedágio e manutenção do caminhão.
Além dos gastos e das péssimas condições das estradas, esses profissionais enfrentam a violência, sendo vítimas de roubos e assaltos com bastante frequência.
Recentemente, vimos como essa classe de trabalhadores é essencial ao país. A greve de caminhoneiros em maio de 2018 parou o Brasil e deixou claro o quanto somos dependentes do transporte rodoviário.
A paralisação teve início no dia 21 de maio e tinha como principais reivindicações a redução no preço do óleo diesel e a fixação de uma tabela mínima para os valores de frete.
Os caminhoneiros compõem uma classe bastante heterogênea, a mobilização foi organizada em grupos de WhatsApp e teve efeitos impactantes em todo o país.
Durante dez dias, o Brasil viveu momentos de caos, enfrentando falta de combustíveis, de alimentos, medicamentos e outros tipos de insumos perecíveis. Parados ao longo de importantes estradas do país, os caminhoneiros mostraram como executam serviços essenciais e contaram com o apoio de grande parte da população que considerava legítima a mobilização desses trabalhadores.
No primeiro dia, os manifestantes fecharam as rodovias de 17 estados brasileiros. No dia seguinte, o movimento ganhou mais adesões e chegou a 24 estados, o que levou montadoras a reduzirem a sua produção por falta de insumos.
A partir do quarto dia, os impactos da paralisação se tornaram mais intensos, aulas foram canceladas, supermercados começaram a enfrentar um desabastecimento, frotas de ônibus foram reduzidas e combustíveis começaram a se tornar escassos nas bombas dos postos espalhados pelo país. Além disso, o discurso anticorrupção se incorporou às pautas dos manifestantes e começaram a surgir grupos com a bandeira “intervenção militar já”.
O governo federal iniciou as negociações com representantes da categoria, mas as propostas foram rejeitadas e a greve continuou em todo o país.
No dia 25 de maio, Michel Temer decidiu enviar militares para desobstruir as estradas e garantir o abastecimento. Ele também autorizou que multas fossem aplicadas a quem insistisse em manter as rodovias bloqueadas. Escoltas começaram a ser usadas para garantir o abastecimento de ambulâncias e frotas de ônibus.
No dia 27, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros assinou um acordo com o governo federal para encerrar a paralisação dos caminhoneiros autônomos. Os manifestantes, entretanto, continuaram em greve.
No nono dia, o movimento começou a perder força e a quantidade de caminhões parados passou a diminuir. O abastecimento de postos e aeroportos começou a ser normalizado e surgiram diversas denúncias de preços abusivos praticados em postos de gasolina. No décimo dia, as Forças Armadas atuaram para romper as barreiras que ainda bloqueavam algumas estradas. Lentamente, o abastecimento das cidades voltou a se normalizar.
Considerada a maior greve de caminhoneiros da história do Brasil, essa paralisação deixou claro o quanto o país é dependente do transporte rodoviário e como uma manifestação desse tipo é capaz de afetar toda a população. Sem o trabalho dos caminhoneiros o Brasil para.
Referências:
MARTIN, Andréia Garcia e BRAGHINI, Marcleo. “Greve dos caminhoneiros: direito do trabalho como ferramenta de regulação social”. Revista Jurídica. São Paulo: Faculdade de Direito de Franca. v.1, nº1, 2020. Disponível em:
http://revista.direitofranca.br/index.php/refdf/article/view/831
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/24/economia/1527177800_693499.html