Literatura

Conheça a poderosa obra “Os sertões”, de Euclides da Cunha: Um olhar profundo sobre a Guerra de Canudos.

Publicado em 1902, “Os sertões”, de Euclides da Cunha (1866-1909), é uma das maiores e mais importantes obras acerca da Guerra de Canudos. O conflito entre conselheiristas e o exército republicano ocorreu no interior da Bahia entre novembro de 1896 e outubro de 1897 e terminou com a morte de 5 mil soldados e o extermínio total do povoado de Canudos, com o massacre de cerca de 25 mil habitantes.

Responsável pela cobertura jornalística do jornal “O Estado de São Paulo”, Euclides da Cunha esteve na região de Canudos de agosto a outubro de 1897 e, cinco anos depois, publicou sua maior e mais importante obra, fazendo um estudo detalhado da região, de seu povo e das quatro expedições que marcaram a guerra.

Baseado em teorias deterministas, especialmente em estudos do historiador francês Hyppolite Taine, o autor dividiu sua obra em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”. Na primeira parte, ele faz um estudo minucioso da região, analisa a fauna, a flora, o clima, o relevo, a hidrografia, procurando explicar os motivos da seca que castiga o sertanejo e compreender com precisão todos os aspectos geográficos que marcam o local do conflito.

A segunda parte é dedicada a um estudo antropológico do sertanejo, discutindo a miscigenação que caracteriza as pessoas que vivem ali e o modo como essa mistura racial interfere na configuração desses homens, tornando-os “Hércules-Quasímodo”, ou seja, dotados de uma força imensa para sobreviver em meio às adversidades, mas também marcados por um jeito desengonçado, torto, segundo ele, um dos males da mestiçagem que os caracteriza. Descreve, ainda, os costumes e a religiosidade messiânica do sertanejo e, por fim, apresenta a figura de Antônio Conselheiro, mostrando como esse beato conseguiu reunir todas aquelas pessoas e formar o povoado de Canudos. É nessa parte que aparece uma das frases mais famosas da obra: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.

A terceira e maior parte do livro, “A luta”, é marcada pela descrição da guerra e uma análise da confluência de fatores naturais, étnicos e históricos para que o conflito ocorresse e tomasse os rumos que tomou.

É interessante observar aqui como Euclides da Cunha muda de posição ao acompanhar a guerra de perto. Diante do massacre dos sertanejos, o autor passa a denunciar em seu livro um genocídio e muda a visão corrente de que os conselheiristas eram facínoras que queriam destruir a república e reinstaurar a monarquia, apresentando-os como vítimas da frequente disputa de poder que marca o Brasil.

Embora aponte o caráter monarquista de Antônio Conselheiro, destaque o fanatismo religioso e as profecias presentes em seu discurso, ao tratar do conflito e mostrar como foram sendo conduzidas as quatros expedições enviadas a Canudos, o autor denuncia essa campanha militar como um crime, fala sobre a degola de prisioneiros, critica o comércio de mulheres e crianças e mostra como, num primeiro momento, os sertanejos resistiram bravamente, lutando com paus, pedras e tendo o conhecimento da caatinga e a resistência ao clima e à miséria ao seu favor, sendo, no entanto, dizimados na quarta expedição, quando se viram bombardeados por um canhão e atacados por soldados com um poder bélico muito maior. Sendo assim, ao final, os últimos defensores de Canudos “eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados”.

Uma obra importantíssima para entender o Brasil daquela época e o Brasil atual, um país marcado pela desigualdade social, pela violência, pelo autoritarismo, por conflitos bárbaros, os quais produzem cenas cruéis como aquela em que Euclides da Cunha descreve a fila de prisioneiros e a comoção dos soldados diante de uma vitória que entristecia: “[..] Uma megera assustadora, bruxa rebarbativa e magra […] rompia, em andar sacudido, pelos grupos miserandos, atraindo a atenção geral. Tinha nos braços finos uma menina, neta, bisneta, tataraneta talvez. E essa criança horrorizava. A sua face esquerda fora arrancada, havia tempos, por um estilhaço de granada; de sorte que os ossos dos maxilares se destacavam alvíssimos, entre bordos vermelhos da ferida já cicatrizada… A face direita sorria. E era apavorante aquele riso incompleto e dolorosíssimo aformoseando uma face e extinguindo-se repentinamente na outra[…]. Aquela velha carregava a criação mais monstruosa da campanha. Lá se foi com seu andar agitante, […] seguindo a extensa fila de infelizes… (Euclides da Cunha, “Os sertões”)

Fotografia: Mulheres e crianças, seguidoras de Antônio Conselheiro, presas durante os últimos dias da guerra.

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