A sinfonia da morte: a orquestra feminina que tocava enquanto judeus iam para câmaras de gás
Será que é possível produzir arte em meio à barbárie? Como tocar em uma orquestra enquanto seu povo caminha para a morte e o trabalho forçado? Questões como essa sempre aparecem quando se pensa na Orquestra Feminina de Auschwitz.
Criada por ordem da SS em junho de 1943, a orquestra foi idealizada por Maria Mandel, conhecida como a Besta de Auschwitz, e era rigidamente regida por Zofia Czajkowska e, posteriormente, por Alma Rosé.
Composta por cerca de 40 integrantes, em sua maioria, jovens judias, a orquestra se posicionava diante dos portões do campo de concentração e tinha a função de tocar enquanto os prisioneiros marchavam para o trabalho ou retornavam para o alojamento. Além disso, servia para entreter os soldados alemães, acalmar os prisioneiros que caminhavam para a morte e reforçar a propaganda nazista de que naquele local reinava uma situação de normalidade.
Num lugar marcado pela dor e pela morte, a música parecia servir como um alento em meio à selvageria, mantendo o último resquício de humanidade naqueles que tiveram a sua vida usurpada pelos nazistas. Ao contrário do que se pode supor, o motivo da criação da orquestra não tinha nenhuma nobreza ou desejo de trazer alguma beleza para a vida daqueles homens e mulheres que ali eram mantidos. Era uma estratégia da SS para criar nos prisioneiros a ilusão de que seriam levados para o Leste, quando, na verdade, o destino da maioria seria a câmara de gás.
Adorno disse em um de seus ensaios que não seria mais possível fazer poesia depois de Auschwitz. No entanto, há diversos registros de composições musicais, desenhos, pinturas e textos literários produzidos dentro do campo de concentração, como se a arte fosse um caminho possível para fugir do horror diário que marcava a vida dos prisioneiros.
Em meio ao barulho do trem, aos gritos de dor, aos tiros e lamentos, a música da orquestra espalhava suas notas por aquele lugar marcado pela morte. Ao olhar os relatos das sobreviventes, fica explícita a clareza que elas tinham do fato de que foi a música que as salvou.
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Referências:
https://www.publico.pt/2020/02/18/mundo/noticia/holocausto-falar-acontecer-1904685