A história da Frente Negra Brasileira, associação composta que visava a inserção do negro na sociedade brasileira e foi abolida por Vargas
A instituição, que fornecia aulas sobre a história negra, assistência médica, odontológica e formação política, se converteu em um partido político e foi abolida em 1937, durante a Ditadura do Estado Novo.
Uma das melhores coisas de administrar um site de história é encontrar, quase que diariamente, histórias interessantes que constantemente conseguem alterar nossa visão do passado. Essa é uma delas, com certeza!
Fotografia: Em uma das salas de aula mantida pela FNB, alunas e alunos negros aprendem sobre suas origens.
A Frente Negra Brasileira foi formada em 1931, a partir da necessidade de melhorar a inclusão do povo negro na sociedade brasileira e construir uma valorização da raça no país.
Após a abolição da escravidão, em 1888, os negros foram excluídos historicamente, não conseguindo acesso aos meios de produção, terras e trabalho assalariado. O Brasil, que há anos adotava as ideias do racismo cientifico, optara pela importação de mão de obra europeia (branca) visando o embranquecimento da população brasileira, já que cientistas e parcela significativa dos governantes acreditavam que a raça negra atrasava o progresso do país.
Foi nesse contexto, terrível para o negro brasileiro, que surge a Associação Frente Negra Brasileira. O objetivo da instituição era, segundo seu estatuto: “a elevação moral, intelectual, artística, técnica, profissional e física; proteção e defesa social, jurídica, econômica e do trabalho da Gente Negra”.
A FNB, fundada em São Paulo, chegou a ter em seus quadros mais de 20 mil filiados. Manteve em vários estados salas de aula, assistência jurídica, odontológica, médica e patrocinou atividades lúdicas às famílias negras brasileiras. Também fazia parte de suas atividades o oferecimento de cursos profissionalizantes e alfabetização de jovens e adultos.
A instituição publicava um jornal chamado “A Voz da Raça”, sob a égide conservadora e o lema “Deus, Pátria, Raça e Família”. A principal preocupação da instituição era com a formação da consciência sobre a raça negra no Brasil. A FNB alfabetizou e formou politicamente milhares de negros e, apesar do viés conservador, abarcava em suas dependências negros socialistas, fascistas, monarquistas e demais linhas políticas.
Na FNB, havia um grupo chamado “Rosas Negras” que organizava bailes na cidade de São Paulo, onde tocavam samba e músicas de origens africanas. As mulheres eram parte importante dos membros do grupo. Na época, muitas delas procuravam uma rede de proteção, para criarem seus filhos e tocarem suas vidas após prisão, morte ou a entrega do marido à bebida, problemas muito comuns, que afetavam os homens negros da época.
Após 5 anos de existência a Associação resolveu, em uma conversa entre seus líderes, se tornar um partido político. Mas as divergências ideológicas entre seus líderes, Arlindo Veiga dos Santos, monarquista ligado à Ação Integralista Brasileira (AIB), grupo fascista que tinha como principal bandeira o nacionalismo, e José Correia Leite, socialista e ligado ao Partido Comunista, unida ao ambiente de polarização política entre direita esquerda, fizeram com que o Partido Político, sofresse grandes ataques e ficasse, na época, com sua imagem vinculada ao Fascismo.
Em 1937, quando Vargas instituiu a terrível Ditadura do Estado Novo, o partido negro, que fez tanto pela inserção das pessoas “de cor” (termo usado na época) na sociedade brasileira, foi extinto e seus líderes perseguidos. A população negra perdeu muito com o encerramento de suas atividades e houve um atraso significativo nos avanços sociais para a população afrodescendente.
Obs: Apesar da pesquisa profunda, realizada em mais de 8 fontes, dentre elas, artigos científicos produzidos no meio acadêmico, a história da FNB é ampla e bastante fascinante. Nós indicamos que façam suas próprias pesquisas, após primeiro contato a partir do nosso trabalho.
Referências:
Rev. Bras. Educ. vol.13 no.39 Rio de Janeiro Sept./Dec. 2008 – Artigo escrito por Patrónio Domingues, acesso em:
Scielo, Fgv, Geledés, Ensinar História Joelza, Estado de Minas, Ipea, Wikipedia
BASTIDE, Roger; FERNANDES, Florestan. Brancos e negros em São Paulo: ensaio sociológico sobre aspectos de formação, manifestações e efeitos do preconceito de cor na sociedade paulista. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959. (Brasiliana, v. 305.OLIVEIRA, Laiana de Oliveira. A Frente Negra Brasileira: política e questão racial nos anos 1930. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.