A origem do Dia de Finados
Em seu poema “Horário do fim”, Mia Couto diz: “morre-se nada/ quando chega a vez/ é só um solavanco / na estrada por onde já não vamos / morre-se tudo / quando não é o justo momento /e não é nunca /esse momento”. Lidar com a morte é uma tarefa muito difícil para muitas pessoas. Em nossa cultura, são raros aqueles que se preparam para esse momento. Por mais que se saiba que a morte é inevitável, o luto é um processo de muita dor.
O Dia de Finados no Brasil tem esse tom de dor, de melancolia e de saudade. As visitas aos cemitérios marcam um ritual de lembrança daqueles que partiram e um momento de homenageá-los com flores, orações e velas.
De acordo com o professor Fernando Altemeyer Júnior, o Dia de Finados foi oficializado pela Igreja Católica no ano de 998, por Santo Odon de Cluny, um abade francês que promoveu diversas mudanças no sistema religioso de sua época.
Na época em que a data foi oficializada, os fiéis faziam orações aos mortos para salvar as suas almas e garantir que sairiam do purgatório e alcançariam o Paraíso.
Embora oficializada pela Igreja no século X, muito antes disso e até mesmo antes do surgimento de religiões cristãs, povos pagãos já tinham rituais em homenagem aos mortos.
Em 421, Santo Agostinho publicou a obra “De cura pro Mortuis Gerenda”, na qual tratava do modo como se deve cultuar os mortos e dedicar-lhe orações. Cabendo à Igreja Católica rezar por todos eles. A obra também discute a importância dos ritos fúnebres, que trará conforto aos vivos e permitirá que os mortos sejam para sempre lembrados.
O modo como cada povo e cada religião vive o luto é diferente. A morte ganha diferentes significados em diferentes culturas e em diferentes épocas. Isso interfere nos rituais praticados durante velórios e no significado que o Dia de Finados assume conforme a crença de cada um.
No México, o Dia dos Mortos é celebrado entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro e é marcado pela comemoração da visita dos antepassados à Terra. Para os mexicanos, os mortos devem ser recebidos com alegria. São montados altares coloridos e adornados com velas, imagens e alimentos. Famílias se reúnem para homenagear os seus entes queridos. As casas e as ruas são decoradas com desenhos de caveiras e grandes desfiles são feitos pelas ruas.
Em Bali, é mais comum que os mortos sejam cremados, assim, a cerimônia é acompanhada por uma grande festa.
Comunidades budistas da Mongólia e do Tibete têm a crença de que o corpo morto deve ser devolvido à natureza. Desse modo, eles o cortam em pedaços e levam no alto de uma montanha, para que abutres espalhem os pedaços pela natureza.
Em Gana, os caixões são construídos de modo a representarem o que os mortos faziam em vida.
Na Guatemala, grandes pipas são produzidas e empinadas para decorar o céu. Cada uma delas representa a alma de alguém que partiu.
No Haiti, grandes tambores são usados para fazer uma batucada perto dos cemitérios, o objetivo é acordar o Deus dos mortos.
Os rituais fúnebres e o modo como os mortos são lembrados são bem variáveis. Seja com celebrações e festas ou com recolhimento e silêncio, cada povo, cada cultura, cada religião, conserva diferentes tradições para homenagear os seus mortos e rememorar as suas vidas.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-46026338
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/16083/1/WBS26092019.pdf