O amigo das noites solitárias: a curiosa história dos vibradores sexuais
A história mais conhecida sobre a origem do vibrador diz que ele foi criado no século XIX para facilitar a vida dos médicos que tratavam da “histeria” feminina. Durante muito tempo, se acreditou que as mulheres sofriam de uma doença do ventre, que causava dores de cabeça e colapsos nervosos. A crise só passava quando era feita uma massagem na vulva, que provocava uma espécie de febre batizada de “paroxismo histérico”. Essa massagem fazia com que a mulher sentisse contrações e ficasse lubrificada, melhorando seu mal-estar.
O problema é que os médicos atendiam muitas mulheres nessas condições e ficavam cansados com a realização de tantas massagens. Assim, em 1869, George Taylor, criou um vibrador a vapor que auxiliava os profissionais na execução dessa tarefa.
Essa é a história mais conhecida a respeito da origem do vibrador e foi apresentada no livro “The Technology of Orgasm: “Hysteria”, the Vibrator, and Women’s Sexual Satisfaction”, de Rachel Maines, de 1999.
Um artigo publicado no “Journal of Positive Sexuality”, entretanto, questiona essa versão. Para os seus autores, é muito improvável que médicos masturbassem pacientes para curá-las da histeria.
Conforme Hallie Lieberman, dispositivos mecânicos conhecidos como vibradores eram usados por médicos para realizarem massagens nas costas ou no pescoço. Esse equipamento passou a ser usado na masturbação feminina nas décadas de 1900 e 1910, mas por iniciativa das mulheres e não como um tipo de tratamento médico.
Revistas e jornais da área de medicina traziam propagandas de equipamentos do tipo sendo usados por médicos para massagearem o pescoço de seus pacientes, não há, porém, indícios de que ele fosse usado em outras partes do corpo.
Os vibradores elétricos eram apresentados em panfletos como uma espécie de cura mágica para uma imensa gama de doenças. As suas massagens curavam insônia, paralisia, epilepsia, lombalgia, vômitos, hemorroidas, dores de garganta, resfriados e problemas digestivos. A histeria feminina aparecia na lista de tratamentos, mas Lieberman afirma que o equipamento era usado para uma massagem nas costas ou no pescoço e que não tinha qualquer conotação sexual.
Segundo esses pesquisadores e vários outros, não é possível afirmar que a masturbação tenha sido usada como um tratamento médico aceito, nem mesmo entre gregos e romanos, como aponta o livro de Maines.
O vibrador só passou a ser usado efetivamente como um objeto sexual depois que os médicos constataram que ele não curava todas as doenças como prometiam as propagandas. No início do século XX, o mercado estava abarrotado de aparelhos do tipo. Havia aparelhos movidos a manivela, a vapor e eletrônicos, eles, porém, não eram milagrosos tal como se imaginava e o número de médicos dispostos a comprá-los foi diminuindo. Assim, em 1903, uma empresa lançou uma propaganda do aparelho sexual Hygeia, voltado tanto para homens quanto para mulheres. A partir desse momento, os vibradores começam a ganhar um novo espaço, mas a venda para esse fim ainda era muito discreta, já que algo desse tipo era considerado uma obscenidade.
Com o fracasso entre os médicos, as empresas fabricantes mudaram os consumidores e o alvo passou a ser quem quisesse usar o aparelho para obter prazer. Foi só a partir de 1950 e 1960 que ele passou a ser comercializado como um objeto sexual e, mesmo assim, de modo bastante disfarçado, pois a sexualidade, principalmente a feminina, ainda era tratada como um tabu e o vibrador era considerado um objeto obsceno.
Com o passar do tempo, as mulheres foram alcançando mais espaço na busca pelo prazer sexual e o vibrador foi alçando importantes degraus nessa busca. Atualmente, o mercado conta com uma série de formatos, materiais e tipos de vibração, permitindo que as mulheres experimentem diferentes sensações de prazer.
O mercado de produtos eróticos movimenta bilhões e o número de mulheres que fazem uso do vibrador sozinhas ou acompanhadas é cada vez maior. Ainda há quem tenha vergonha de entrar em um sex shop ou mantenha o vibrador escondido nas profundezas de uma gaveta, longe da vista de qualquer pessoa que possa vê-la como depravada, mas cresce muito o número de pessoas que falam abertamente da masturbação feminina e do prazer proporcionado por vibradores.
Cada vez mais, as mulheres buscam reafirmar que elas têm direito ao prazer sexual e que não há nada de errado em buscar formas de alcançar esse prazer. A masturbação e o orgasmo feminino deixaram de ser algo vexatório, que deveria ficar escondido nos cantos das alcovas, o desejo sexual não é nenhum tipo de histeria feminina ou motivo de vergonha e usar brinquedos sexuais para atingir o prazer é algo completamente normal e saudável. Assim, o mercado de vibradores é cada vez mais promissor e, mesmo que a sua verdadeira origem ainda seja motivo de controvérsias, é consenso que essa criação veio para ficar.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-46444693