Conheça a triste história das “crianças-lobo”, pequenos órfãos que tentavam, sozinhos, sobreviver em meio às florestas, durante a Segunda Grande Guerra
Com o final da Segunda Guerra Mundial, teve início uma grande fuga de moradores da Prússia Oriental, levando milhares de alemães a migrarem para o oeste. Em meio a essa população, estima-se que havia cerca de 25 mil crianças órfãs ou perdidas de seus pais e familiares, que se viram sozinhas, andando pela floresta em busca de um lugar para ficar.
Chamadas de “crianças-lobo” (wolfskinder), elas ficavam perambulando entre florestas e pântanos da Prússia Oriental e Lituânica e provocavam reações diversas nos moradores locais. Enquanto alguns deixavam tigelas de sopas nas portas de suas casas para que pudessem se alimentar, outros soltavam seus cachorros para expulsarem as crianças.
A adoção de crianças alemãs era proibida entre os russos, assim, ou elas iam para orfanatos soviéticos ou tinham como destino a Lituânia, local onde sonhavam poder encontrar um lar, tarefa sempre muito difícil nas circunstâncias em que se encontravam.
Desse modo, muitas dessas crianças se viram obrigadas a viver na floresta, pois era muito difícil encontrar quem quisesse ficar com elas. Especialmente as mais velhas, encontravam uma resistência enorme. Além disso, havia a barreira da língua, falar alemão era proibido e até mesmo o nome alemão trazia um enorme risco, assim, muitas delas, tiveram o seu nome alterado para que pudessem viver com suas novas famílias.
A nova vida exigia que essas crianças deixassem todo o passado para trás: a língua que falavam, seu nome, as fotos, cartas e endereços de familiares, tudo deveria ser esquecido. Restava agora construir uma nova identidade, cortando qualquer vínculo com o passado.
Totalmente vulneráveis e convivendo em ambientes extremamente hostis, essas crianças tiveram uma vida muito difícil, executando trabalhos pesados, sem acesso à educação e, frequentemente, vivendo na clandestinidade, sob o risco de serem expulsas a qualquer momento de seu novo lar.
Nesse período, a Lituânia vivia sob ocupação da União Soviética e seguia as políticas soviéticas de eliminar qualquer influência nazista, sendo assim, até mesmo essas crianças órfãs e perdidas de seus entes queridos eram tratadas como culpadas pelo simples fato de serem alemãs, restando-lhes apenas esconderam sua real identidade e contar com a caridade de agricultores lituanos para saírem da floresta e encontrarem um novo lugar para viver.
Em sua maioria analfabetas e vivendo de serviços no campo, essas crianças cresceram em meio a muitas adversidades e raramente reestabeleceram vínculos com suas famílias alemãs ou com sua terra natal. Somente após o colapso da União Soviética, em 1990, essas pessoas puderam revelar suas verdadeiras identidades e tiveram sua cidadania lituana reconhecida. No entanto, a cidadania alemã continua sendo-lhes negada e, mesmo sendo órfãos de guerra, não conseguiram receber indenizações da Alemanha, tendo que sobreviver apenas com uma pequena aposentadoria paga pela Lituânia.
Referências: