História do Mundo

De Colt à Smith Wesson: por que os Estados Unidos são fascinados por armas de fogo

Estados Unidos é o país que possui a maior quantidade de armas do mundo. Segundo levantamento da Small Arms Survey, há, dentro das residências, 90 armas por cada 100 habitantes. Isso significa que quase toda a população do país tem um revólver, uma pistola ou um fuzil em casa. A procura por esses itens é tão grande que o segundo colocado, o Iêmen, há menos de 60 armas, dentro de residências,a cada 100 habitantes. Do total de 857 milhões de armas existentes no mundo, 46% estão com os norte-americanos, cerce de 393 milhões de unidades. O país tem mais armas do que pessoas.

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Mas o que faz os EUA ser o maior fabricante e consumidor de armas no mundo? O que faz com que em praticamente todos os filmes hollywoodianos haja uma referência às máquinas de matar?
A explicação está ligada intrinsecamente à história do país, sua libertação do sistema colonial inglês e a expansão de suas terras para o oeste.

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No final do século XVIII, as colônias inglesas, que mais tarde seriam chamadas de Estados Unidos, já eram uma força econômica importante no mundo. Na América, as plantações de chá, algodão e fumo e a exploração da cultura do açúcar em pequenas localidades na América Central, fizeram com que o país escalasse um desenvolvimento econômico importante e passasse a possuir interesses em sua independência. Com o aperto e o aumento dos impostos cobrados pela Inglaterra, estoura uma revolução, conhecida como “Guerra de Independência dos Estados Unidos”.

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Tea Party – o evento marcou a revolta de exportadores de mate contra os altos impostos cobrados pela metrópole


Durante o conflito, a Inglaterra, em crise por já ter passado por uma guerra anteriormente contra a França (Guerra dos 7 anos), não conseguia enviar grandes contingentes e tropas para o país americano. Então, o caminho para tentar abafar a rebelião era a violência e desmoralização in loco. Foram enviados para a colônia os Dragões, homens da elite do exército inglês que passaram a exercer violência contra os colonos como uma arma de guerra. As casas de pequenos fazendeiros eram incendiadas, Mulheres e filhas estupradas, os primogênitos mortos pelo fio da espada.

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Quadro da Guerra de Independência Norte-americana


A solução encontrada nos pequenos vilarejos foi a formação de milícias armadas, patrocinadas pelas colônias. Homens e mulheres pegavam em armas e realizavam emboscadas na tentativa de conter o avanço do exército inglês. Nesse período e devido às circunstâncias, os norte-americanos passaram a constituir uma relação intrínseca com as armas de fogo. Poucos anos após a Constituição dos Estados Unidos, já como país livre, ter sido construída, os legisladores modificaram-na com a famosa segunda emenda: “Sendo uma milícia bem regulamentada, necessária para a segurança de um estado livre, o direito do povo de manter e portar armas não deve ser violado”. O texto legitima a formação de milícias e o porte de arma de fogo. A lei foi baseada na antiga legislação inglesa, no direito à liberdade e impulsionada pela função das armas durante a guerra que se encerrara tendo os EUA como vencedores.

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Milícias combatendo soldados Ingleses


Como país constituído, a arma de fogo acabou virando uma espécie de braço direito para a expansão do território e para manter a ordem no país. A princípio, a justiça e forças policiais eram bem descentralizadas, podendo qualquer civil fazer justiça com as próprias mãos desde que se provasse necessária. Durante o século XIX, no período de industrialização do país e da expansão dos Estados para o oeste, homens munidos de armas mataram índios, massacraram pessoas e tomaram o território americano do Atlântico ao Pacífico com o uso desses itens.

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As armas foram importantes para a tomada de territórios e formação dos Estados Unidos como conhecemos atualmente
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Impulsionados por interesses econômicos e pela filosofia pragmática ligada ao simbolismo conhecido como “Destino Manifesto”, homens usaram armas para expandir o território dos Estados Unidos, que a principio não passava de 13 colônias na Costa leste, banhadas pelo mar atlântico.
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Os Nativos também se armaram para combater a expansão em suas terras


Em 1861, quando estourou a Guerra Civil norte-americana, a maioria dos indivíduos tinha uma arma de fogo em casa. Durante esse período, empresas como a Colt, Smith & Wesson se tornaram gigantescas. Os americanos do período chegaram a cunhar uma frase: “Deus fez os homens, mas Samuel Colt os tornou iguais”, o nome de um inventor bélico na mesma frase que o todo poderoso, demonstra o quanto as armas, já no século XIX, eram importantíssimas na cultura dos americanos.

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Samuel Colt segura o revólver Colt, primeira arma de fogo produzida e distribuída em massa para a população civil norte-americana. Ao contrário das espingardas, o revólver Colt era usado até por crianças

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Estadunidenses guerreiam durante a Guerra Civil dos Estados Unidos. O conflito foi um campo fértil para o surgimento de novas armas e impulsionamento da indústria bélica.


Com o país já formado, os Estados Unidos se tornaram o maior produtor de armas do mundo durante o século XX. A relação intrínseca desse país com guerras ao redor do globo só reforça a ideia e consciência de que as armas de fogo podem resolver qualquer problema relacionado à conflito.

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John Wayne foi por muitos anos, e ainda é, o principal garoto propaganda do uso de armas nos Estados Unidos


O cinema hollywoodiano, um dos principais instrumentos ideológicos da cultura ocidental, mostra armas de fogo como solução do problema em parte considerável de seus produtos.

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Ator Charlton Heston, um dos mais prestigiados da história de Hollywood foi, durante anos, presidente da Associação Nacional do Rifle

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Os frequentes ataques à Colégios levantou a discussão sobre o porte irrestrito de armas no país.
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A imagem de Arnold Schwarzenegger, no filme Comando para Matar. No longa o personagem vivido pelo ator entra em um país da América Latina e mata parte significativa do exército.


A relação dos americanos com as armas de fogo também causa uma série de problemas anualmente. Massacres em escola, alta taxa do número de mortos por disparos acidentais ou propositais. A cultura das armas tem um preço e quase sempre é pago com sangue e vidas.

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Atuais Milícias

Referências

https://edition.cnn.com/2017/10/03/americas/us-gun-statistics/index.html

https://www.americanheritage.com/america-gun-culture

https://www.bbc.com/news/world-us-canada-41488081

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-85292009000100002

AGNEW, Jean-Cristophe; ROZENZWEIG, Roy. A Companion to Post-1945 America. Malden, Mass.: Blackwell, 2006.
APTHEKER, Herbert. Uma nova história dos Estados Unidos: a era Colonial. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1967

JUNQUEIRA, Mary A. Estados Unidos: a consolidação da Nação. São Paulo: Contexto, 2001

História dos Estados Unidos : das origens ao século XXI / – Leandro Karnal [et al.]. – São
Paulo : Contexto, 2007

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