A história de Amilton, o tratorista que foi preso, após se recusar a derrubar a casa de uma pobre família
Palestina é um nome que nos lembra sofrimento e lutas, mas também local onde ocorreu uma das histórias mais bonitas e emblemáticas que a população de Salvador já viveu
Era dois de maio de 2003, um dia após as celebrações do feriado do trabalho, quando Amilton, um tratorista de 53 anos, foi convocado pela empresa que trabalhava, para demolir a casa de dona Telma, merendeira, e chefe de uma família de mais 12 pessoas. Era o último trabalho do dia, e o mais complicado de toda sua carreira de mais de 30 anos como operador de máquinas.
Ao chegar ao local, ao fim do dia, Amilton se deparou com um grande efetivo policial, um oficial de justiça e centenas de pessoas implorando para que a casa de dona Telma não fosse destruída. Havia uma ordem judicial ordenando a destruição da casa que foi construída em uma área abandonada por uma grande empresa.
Na iminência da demolição, dona Telma chorava, os filhos gritavam e ficava latente, a cada minuto, o medo de ver a família sem um leito seguro para dormir. O trabalho suado de anos, para colocar cada tijolo na residência, iria ladeira abaixo não fosse a inesperada atitude de Amilton tratorista, que contrariando as ordens de um engravatado, assinadas num fórum bem distante daquele humilde bairro, se recusou a destruir um dos poucos lugares que aquela família pobre gozava de dignidade; a residência.
No momento que Amilton ligou a máquina e encostou próximo à construção, uma força tomou conta de seu corpo e mente, o tratorista se recusou a demolir o empreendimento. No momento da recusa, a população apoiou do profissional, mas logo o Oficial de Justiça e comandante da polícia bradaram: “O senhor precisa cumprir a ordem, faça seu trabalho”. Amilton volta ao trator, e tenta novamente. Bem próximo de iniciar a derrubada da moradia, ele desiste novamente, agora tomado por uma crise de choro. Um policial desce Amilton do trator e o oficial lhe dá voz de prisão. Sob os aplausos da população, que se indignava com aquilo tudo, o tratorista estende os braços e diz:
“Podem me levar preso, eu não consigo cumprir isso. Pobre precisa ter sua casa pra morar”
Hamilton foi colocado no carro da polícia e só não foi enfiado em uma cela, porque teve uma crise de pressão alta e foi levado a um hospital próximo dali.
A noticia se espalhou como pólvora, Amilton foi homenageado por diversas entidades da sociedade civil, a ordem judicial revogada e dona Telma, e toda sua família, atualmente, continuam morando na casa que o tratorista se recusou a destruir.
Amilton, hoje, separado da esposa, vive em uma pequena casa, construída com um prêmio recebido em um programa de TV. Segundo as fontes pesquisadas, ele é visto por aí sempre com um sorriso no rosto. Virou amigo da família de dona Telma, e vira e mexe experimenta da boa comida da merendeira.
Essa história, ocorrida em um bairro que tem nome de um lugar santo, escancara as condições e modus operandi da justiça brasileira, instituição essa, que é personificada em um juiz de classe alta, que, geralmente, desconhece a realidade da pobreza mas que tem poder suficiente em sua caneta para fazer com que um pobre tire a casa de outro.
Referências: