A temida rua 10 do Carandiru, local onde os presos acertavam as contas
Durante os muitos anos de funcionamento do Complexo Penitenciário, a rua 10 era o espaço mais temido da prisão
A rua 10 foi um corredor muito conhecido e temido pelo detentos encarcerados no famoso presídio do Carandiru.
O sinistro espaço ficava ao lado das escadarias de um dos pavilhões, em uma curva arquitetônica, que se encontrava do lado oposto das escadas, local estrategicamente importante para colocar vigias que avisavam quando guardas se aproximavam.
Considerado um dos lugares mais sinistros da prisão e com maior número de histórias para contar, a Rua 10 foi cenário de muito sangue e violência.
Geralmente, os dias da semana escolhidos para os acertos eram as segundas-feiras. A escolha do dia não era por acaso, pois as visitas ocorriam aos domingos, momento sagrado, no qual preso nenhum poderia vacilar. Pelas regras do crime, quem devesse ou vacilasse, tinha que pagar a conta na segunda, após receber maços de cigarros dos parentes. O cigarro era a moeda corrente na instituição. Como a prisão é um local cheio de desacordos, praticamente em todo começo de semana, morria alguém na rua 10. O dia ganhou até o nome de “Segunda-Feira Sangrenta”.
Portando estiletes, facas, ou apenas os punhos, era comum que dois presidiários brigassem até que um deles tombasse ao chão sem vida. Frequentemente, eram vistas lutas sangrentas entre os encarcerados, em algumas delas, um pano era amarrado ligando as mãos dos dois oponentes. O tecido só era desamarrado após a morte de um deles, geralmente por golpes de facão ou estocadas de estiletes. O nome desse tipo de acerto era: luta atrelada.
Quadrilhas também resolviam seus problemas na rua 10, segundo a literatura escrita por ex-internos, o corredor chegou a abrigar uma plateia de 1000 pessoas em uma das brigas mais famosas da história do presídio.
Ao final dos anos 90, os acertos de conta da Rua Dez foram proibidos pelo Primeiro Comando da Capital, que passou a monopolizar a violência nas prisões e a gerenciar e decidir sobre as questões que impulsionavam a divergência entre os detentos. Atualmente, em caso de vacilo, os presidiários passam por um julgamento organizado pelos disciplinas, membros das facções criminosas responsáveis pela manutenção da ordem nas instituições carcerárias.
Referências:
CHRISTINO, Márcio Sérgio e TOGNOLLI, Cláudio. “Laços de sangue: A história secreta do PCC”. São Paulo: Matrix, 2017.
VARELLA, Dráuzio. “Estação Carandiru”. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
SOUZA, Percival de. “O Prisioneiro da Grade de Ferro”. São Paulo: Traco, 1983.
JOZINO, Josmar.”Cobras e Lagartos: a verdadeira história do PCC. São Paulo: Via Leitura, 2017.