Tana Toraja, o lugar onde a morte é o evento mais importante da vida
A maneira como diferentes culturas lidam com a morte é bastante diversa. Prestar homenagens à memória de quem já partiu é um ritual importante para lidar com o luto. O modo como essas homenagens são prestadas depende, na maior parte das vezes, de questões religiosas e culturais.
Enquanto, no México, o Dia dos Mortos é celebrado com festa, no Brasil, o Dia de Finados é marcado por silêncio e oração.
As cerimônias fúnebres também variam muito conforme as crenças e características culturais de cada povo. Para os judeus, por exemplo, o morto deve ser lembrado com simplicidade. O enterro judeu não é marcado por flores, enfeites ou ornamentos no caixão. Para eles, deve-se celebrar a vida, reafirmando-a através das memórias de quem partiu.
Para os Torajas, um grupo étnico da Indonésia, morrer não significa dar um adeus permanente, mas é como se a pessoa estivesse doente e, portanto, devesse continuar sendo cuidada.
Eles acreditam que o espírito ainda está perto de quem morreu, assim, o corpo é mantido na casa por meses e até mesmo anos, comida, água e cigarros são oferecidos ao falecido e plantas secas são usadas para reduzir o cheiro do formol usado para preservar o corpo até que a família esteja preparada para o funeral.
Dentro de casa, eles agem como se o parente morto estivesse dormindo e é frequente que ele receba visitas que desejam saber como ele está.
Esse costume milenar ainda é mantido na região de Tana Toraja, na ilha de Sulawesi, na Indonésia. Nesse lugar, os mortos são tratados como se ainda estivessem vivos e apenas se recuperassem de uma doença. Seus corpos são limpos, suas roupas são trocadas e até um recipiente para fazer as necessidades é deixado próximo ao leito onde eles repousam. Sempre há alguém da família junto deles e as luzes são permanentemente acesas para iluminá-los.
As famílias temem negligenciar seus mortos e serem assombradas por seus espíritos que, de acordo com elas, ainda rondam aquele corpo que descansa na cama. Ligados emocionalmente aos seus entes queridos, os familiares aguardam o momento em que estejam preparados psicologicamente e financeiramente para a realização da cerimônia fúnebre.
Ao longo da vida, os Torajans economizam dinheiro para realizarem cerimônias suntuosas, nas quais o corpo será levado em procissão pelo vilarejo e búfalos são sacrificados em homenagem ao morto. Segundo eles, o último suspiro de um búfalo-asiático indica que finalmente a alma foi levada ao Pooya, o estágio final da vida após a morte, local onde a alma reencarna. A quantidade de búfalos sacrificados indica a riqueza da família e a rapidez com que a alma vai encontrar o seu caminho.
Durante o ritual fúnebre, a carne dos búfalos é servida aos convidados e todos comemoram a vida e a reencarnação do falecido.
Depois da cerimônia, o morto será levado para túmulos construídos pelas famílias ou colocado em cavernas que abrigam vários corpos e caixões. Essa cerimônia não significa, porém, o último ritual em relação a esse morto. Muitos corpos ainda passam por um ritual de purificação dos mortos chamado da Ma’nene. A cada dois anos, os corpos são retirados dos seus caixões, são enfeitados e limpos, cigarros e comidas lhes são oferecidos e os parentes tiram fotos ao lado dos cadáveres, em um momento de interação entre vivos e mortos.
Após a cerimônia, as roupas do ente querido são trocadas e eles andam pela aldeia com o corpo, em seguida, ele retorna para a sua morada final.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39646627
https://www.vice.com/pt/article/a3b7wa/amor-alem-da-morte-os-rituais-funebres-dos-toraja