María Remedios del Valle, a Mãe da Pátria Argentina
María Remedios del Valle nasceu em 1766 em Buenos Aires, na época, capital do Vice-Reino do Río de la Plata. Em 1810, ela acompanhou o marido e os filhos na primeira expedição militar ao Alto Peru, liderada por Juan José Castelli.
No campo de batalha, enfrentou a discriminação por ser mulher e negra, mas notabilizou-se por sua força e coragem. Atuou cuidando dos feridos, cozinhando e também pegando em armas, participando de todas as batalhas do exército de libertação comandado por Manuel Belgrano.
Sua atuação foi decisiva na Revolução de Maio, destacando-se em diversas batalhas. Sua ação na batalha de Salta, rendeu-lhe o nome de “Mãe da Pátria” e a colocou na linha de frente do exército argentino.
Del Valle sofreu ferimentos em diversos combates, enfrentou o preconceito de gênero e de raça, sofreu a dor da perda do marido e dos filhos e entrou para a história da Argentina como uma das Meninas Ayohuma, mulheres que lutaram bravamente em diversos combates.
Presa pelos espanhóis após ser ferida, ela liderou a fuga de vários oficiais argentinos que tinham sido capturados junto com ela, o que lhe rendou nove dias de chibatadas e uma série de marcas em seu corpo e em seu rosto.
Depois de muita humilhação e violência, María Remedios conseguiu escapar e se juntar ao exército libertador, ajudando os feridos no hospital de campanha e pegando em armas novamente.
Após o término da guerra, María Remedios del Valle voltou para Buenos Aires, mas ali não encontrou o reconhecimento merecido. Sem contar com o apoio daqueles que tinham batalhado junto com ela, se viu na miséria, tendo que enfrentar uma nova guerra: a solidão e o abandono. Ela passou a mendigar pelas ruas e a comer as sobras que os conventos jogavam para os cachorros de rua.
Em 1820, foi encontrada na rua pelo general Juan José Viamonte. Os dois haviam lutado juntos em Alto Peru e ele a reconheceu. O general passou a lutar para que del Valle recebesse uma pensão do Estado. O pagamento, entretanto, só veio em 1828 e era insuficiente para que ela pudesse se alimentar.
Em 1830, Juan Manuel de Rosas, que havia sido eleito governador de Buenos Aires, promoveu María Remedios del Valle a “Sargento-mor de Cavalaria” e a incluiu no quadro do Corpo de Inválidos, o que lhe garantiu um salário integral e a possibilidade de deixar a vida de pobreza. A partir de 1836, passou a ser registrada na lista de pensões como María Remedios Rosas, em sinal de gratidão ao governador que lhe concedeu a possibilidade de sair da miséria.
Maria Remedios morreu em 8 de novembro de 1847 e, durante muito tempo, seu legado ficou apagado da história da Argentina. Atualmente, movimentos afro-argentinos lutam para que a sua história seja cada vez mais conhecida. Desde 2013, o dia 8 de novembro foi instituído como o Dia Nacional dos Afro-Argentinos e da Cultura Africana, uma forma de homenagear a Mãe da Pátria argentina e toda a sua luta em nome dessa nação.
Referências:
https://www.cultura.gob.ar/quien-fue-maria-remedios-del-valle-9732/
https://cabildonacional.cultura.gob.ar/noticia/maria-remedios-del-valle-la-madre-de-la-patria/