História do Brasil

O Réveillon da Morte: o naufrágio do Bateau Mouche

Bateau-mouche é um tipo de embarcação fabricada com o objetivo de realizar visitas turísticas. Seu convés superior é aberto ou tem uma cobertura transparente que permite ver a paisagem. No Brasil, o termo acabou virando sinônimo de uma tragédia.

Na noite do dia 31 de dezembro de 1988, o Bateau Mouche IV navegava pelas águas da Baía de Guanabara. A embarcação levava 142 pessoas que estavam ali comemorando o Réveillon, mas a festa foi interrompida por um terrível acidente que tirou a vida de 55 pessoas e deixou diversos feridos.

Faltando dez minutos para a meia-noite, a proa do barco se ergueu e sua popa submergiu na Baía de Guanabara. A tragédia só não foi maior porque o pescador Jorge Souza Viana navegava ali perto com sua família e alguns amigos e ajudou a resgatar as vítimas. Ao sair com sua traineira de pesca, seu plano era levar seus entes queridos para assistir à queima de fogos em Copacabana, tudo, porém, se alterou diante do naufrágio do Bateau Mouche.

Rapidamente, Jorge e os demais ocupantes da traineira lançaram cordas, boias e coletes salva-vidas para resgatar os náufragos. Eles salvaram mais de 30 pessoas.

Resgate das vítimas

Logo depois, o iate do empresário Oscar Gabriel Júnior se juntou ao grupo e resgatou mais vítimas.  Outro herói daquela noite foi o garçom Heleno, do Bateau Mouche III. Quando o barco em que estava chegou ao local, ele pulou na água e resgatou mais três sobreviventes que estavam sendo levados pelas ondas.

O trágico acidente foi causado por uma sucessão de falhas e negligências. O barco estava com excesso de passageiros, apresentava furos no casco, suas escotilhas estavam abertas e os coletes salva-vidas estavam fora do prazo de validade. Além disso, havia sido feita uma reforma no convés que comprometeu a estabilidade da embarcação.

Naquela noite, as condições para navegar em mar aberto eram muito ruins, mesmo assim, o percurso foi feito. Embora tenha sido parado pela Capitania dos Portos, eles autorizaram que o Bateau Mouche seguisse viagem, apesar do excesso de passageiros.

Era uma tragédia anunciada, como tantas outras tragédias que marcam a história do Brasil.

Os sobreviventes e as famílias daqueles que morreram no acidente entraram na Justiça. Foram processados a empresa Bateau Mouche, a agência de viagens Itatiaia Turismo, responsável pela organização do passeio, e a União, por não ter fiscalizado a embarcação.

Ainda hoje, as indenizações não foram pagas e os processos continuam sem um desfecho. A demora no julgamento dos casos causa revolta em quem perdeu seus entes queridos ou convive até hoje com o trauma causado por aquele Réveillon.

Barco ajuda no resgate

Alguns dos parentes das vítimas da tragédia morreram sem sequer terem tido algum tipo de reparação pelas perdas que sofreram.

Em maio de 1993, os três sócios majoritários da empresa Bateau Mouche, os espanhóis Faustino Puertas Vidal, Avelino Rivera e o português Álvaro Costa, foram condenados a quatro anos de prisão em regime semiaberto. Apesar da condenação por homicídio culposo, formação de quadrilha e sonegação fiscal, eles fugiram para a Europa no ano seguinte e nada mais se soube do paradeiro dos três.

Uma das vítimas do naufrágio foi a atriz Yara Amaral. Seu filho, Bernardo Amaral, criou a associação “Bateau Mouche Nunca Mais”, visando defender os familiares das vítimas e dar assistência aos sobreviventes. Os resultados, no entanto, ainda esbarram na morosidade da justiça. Apenas uma família foi indenizada, nenhum responsável pelo acidente foi preso e a sucessão de recursos faz com que o processo siga sem conclusão. Restaram apenas a dor das perdas, os traumas que marcarão para sempre a vida dos sobreviventes e uma imensa sensação de impunidade diante de uma tragédia que poderia ter sido evitada.

Referências:

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/12/naufragio-do-bateau-mouche-dor-trauma-de-reveillon-e-impunidade-marcam-30-anos-da-tragedia.shtml

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46675677

https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,30-anos-do-naufragio-do-bateau-mouche,70002664724,0.htm

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