O Massacre de Porongos: o evento que exterminou os negros da Revolução Farroupilha
Quando a Guerra acabou, a elite gaúcha não sabia o que fazer com os negros que lutaram no conflito em troca de liberdade
A Guerra dos Farrapos, também conhecida como Revolução Farroupilha, foi um acontecimento conflituoso ocorrido no Sul do país, o qual durou cerca de 10 anos, entre 1835 e 1845.
A guerra civil eclodiu devido ao aumento de impostos e interesses conflitantes em relação ao charque e à diminuição da autonomia dos estancieiros gaúchos, latifundiários ricos que dominavam a província do Rio Grande do Sul no período.
Com o conflito deflagrado, tropas imperiais foram enviadas ao estado e, durante quase uma década, ocorreram intensas batalhas. Ao final do conflito, após um período desgastante para os dois lados da guerra, David Canabarro, um dos generais farroupilhas, assinou, em 1845, o Acordo de Paz de Ponche Verde. Meses antes dessa assinatura, entretanto, surgiu um impasse a ser resolvido.
O exército farroupilha ao longo de sua existência recrutou um grande contingente de homens negros escravizados para lutar como lanceiros, com a promessa de que seriam libertos ao final do conflito. No entanto, a abolição não era um ponto pacífico entre os envolvidos.
O exército farroupilha havia prometido a liberdade dos lanceiros escravizados em troca da luta. O governo imperial e os próprios generais derrotados, porém, precisavam manter esses homens trabalhando sem salário para garantir a retomada da economia.
A solução foi fechar os olhos e planejar um massacre dos lanceiros negros. Em 13 de novembro de 1844, David Canabarro mandou recolher a maior parte das armas do acampamento dos lanceiros. Embora haja controvérsias sobre esse episódio, vários historiadores afirmam que o general farroupilha tinha a informação de que as tropas imperiais atacariam o acampamento onde os negros ficavam e teria agido dessa forma para legitimar ainda mais a rendição.
Durante a madrugada do dia 14, no Cerro de Porongos, os negros, pegos de surpresa, foram mortos, massacrados pelo fio da espada e armas de fogo. Mais de cem lanceiros morreram durante a batalha com as tropas imperiais, os outros foram enviados para a corte marcial, julgados culpados de resistência à rendição e viveram o resto de suas vidas novamente como escravizados.
O evento, mostrou de uma vez por todas, como homens ricos, estancieiros poderosos, usaram homens pobres e negros como escudo e massa de manobra para manter o seu poder e dinheiro.
Chamada por defensores da Revolução Farroupilha como “Batalha”, a ação está mais para um massacre e traição que manchou uma suposta ideologia de liberdade pregada pela memória de gente que acreditava que o conflito era mais que uma luta de interesses da elite. O resultado, para bater o carimbo, foi mais de 100 negros mortos em uma madrugada.
Referências:
CARRION, Raul. “Os lanceiros negros na Revolução Farroupilha”. Porto Alegre: Gabinete do Vereador Raul Carrion, 2003.
SOUZA, José Edimar de. “Notas de Pesquisa: A Batalha de Porongos no Contexto da Guerra dos Farrapos (1844)”. Revista Expedições, Morrinhos/GO, v. 9, n. 3, mai./ago. 2018.
FLORES, Moacyr. “Negros na Revolução Farroupilha: traição em Porongos e farsa em Ponche Verde”. Porto Alegre: EST Edições, 2004.