De dono de companhia aérea a chefe do PCC: a história de Marcelo Vip, o maior mentiroso do Brasil
O estereótipo do malandro faz parte do imaginário do brasileiro. Na música, na literatura, no cinema, na TV, diferentes personagens deram vida a malandros memoráveis. Leonardo, de “Memórias de um sargento de milícias”, Macunaíma, Pedro Malasartes, são alguns dos exemplos de típicos malandros consagrados nas páginas de nossa literatura. Mas essas figuras que vivem do famoso jeitinho brasileiro, que aplicam golpes aqui e acolá e que usam de sua lábia para obterem vantagens não se limitam ao mundo da ficção. Na vida real, temos muitos personagens desse tipo, os quais, em diferentes escalas, vão cometendo atos ilícitos e adentrando no mundo do crime para alcançarem aquilo que desejam. Marcelo Vip é uma dessas figuras.
Marcelo Nascimento da Rocha nasceu em Maringá em 1976. Filho de uma família pobre, ele perdeu seu pai aos oito anos de idade e, a partir dessa perda, passou a sonhar com uma vida diferente daquela que tinha em sua casa.
Marcelo iniciou sua vida de golpes ainda na adolescência e, desde então, foi traçando um percurso de mentiras e trapaças que o levaram a se tornar um dos golpistas mais conhecidos dos anos 90 e 2000.
Muito jovem, dizia que era parente de donos de companhias rodoviárias e, com isso, conseguia viajar de ônibus por vários lugares do Brasil. Quando completou 16 anos, passou a frequentar a delegacia da Polícia Civil do Paraná, o que lhe permitiu conhecer o funcionamento desse meio e passar a dizer que fazia parte de um grupo tático da polícia.
Quando foi servir o exército, sempre arrumava brechas para fugir dos exercícios e chegou a vender motocicletas das forças armadas.
Assim foi seguindo sua vida, a cada dia assumindo uma nova profissão e aplicando os golpes mais variados possíveis. Já disse ser repórter, integrante de banda, olheiro de futebol, DJ e, a cada cargo que inventava, ia conseguindo vantagens. Desse modo, usufruiu gratuitamente, em diversas ocasiões, de hospedagem, alimentação, transporte. Dono de uma boa lábia, conseguia convencer muita gente de que realmente era quem dizia ser. Foi daí que nasceu seu apelido de Marcelo Vip, já que conseguia uma série de benefícios apenas fingindo ocupar posições que lhe abriam portas em diferentes lugares.
Seguindo sua trajetória de ilegalidades, envolveu-se com o tráfico de drogas e o contrabando de produtos entre o Brasil e o Paraguai.
Em 2001, ele ganhou projeção nacional ao dizer em uma festa de carnaval no Recife que era Henrique Constantino, um dos diretores da GOL. Embora sua mentira não tenha colado logo de cara, Marcelo conseguiu convencer muita gente da festa e se aproximou do ator Ricardo Machi, chegando até mesmo a ser entrevistado por Amaury Jr.
Depois dessa festa, alugou um jato para encontrar os famosos no Rio de Janeiro, mas acabou sendo detido pela polícia e foi preso. Em Bangu, ele seguiu com suas mentiras. Durante uma rebelião, se disse líder dos presos rebelados e chegou a aparecer no Jornal Nacional falando em nome dos detentos. Com isso, acabou conquistando o respeito dos presos e conseguiu fugir da cadeia, entretanto, foi preso logo depois no Paraná.
Em 2005, a jornalista Mariana Caltabiano lançou o livro “VIPs – Histórias reais de um mentiroso” e até nesse momento ele conseguiu obter vantagens e usou de todos os artifícios possíveis para conseguir 50% de participação nos lucros. Em 2010, ele foi interpretado por Wagner Moura em um documentário baseado no livro da jornalista e sua história de golpes e trapaças ganhou projeção internacional.
Marcelo Vip conseguiu progressão para o regime aberto em 2014 e passou a viver de palestras ministradas para ex-detentos, nas quais ensinava técnicas de persuasão e mostrava como se defender de golpes. Em 2018, foi colocado novamente atrás das grades depois de falsificar documentos sobre o seu regime penal, sedo liberado 40 dias depois.
Atualmente, Marcelo trabalha em uma empresa de eventos em Cuiabá e afirma que é um ex-falsário, tendo deixado de lado a vida de delitos que o tornou famoso
Foto da thumb – Gabriel Rinaldi (Trip)
Referências:
https://revistatrip.uol.com.br/trip/marcelo-nascimento