Eugenics Board: a organização racista que esterilizava mulheres negras
Quando se fala em eugenia, frequentemente nos vem à cabeça as ações alemãs praticadas durante a Segunda Guerra Mundial, entretanto, esse desejo de promover um “aperfeiçoamento da raça” não se limitou à Alemanha.
Nos Estados Unidos, havia um órgão chamado “Eugenics Board” que era responsável por colocar em prática ideias eugenistas em território americano.
O programa de esterilização realizado na Carolina do Norte, entre 1929 e 1974, tinha explicitamente esse propósito. Conforme estudo publicado na “American Review of Political Economy”, quase 7,6 mil homens, mulheres e crianças a partir de 10 anos foram esterilizados cirurgicamente, sendo que pessoas negras ocupam a maior parte desses números.
De acordo com o programa, ele visava atingir o “bem comum”, evitando que pessoas de “mente fraca” tivessem filhos. Na prática, o que se pretendia era evitar a procriação de pessoas pobres, com deficiências mentais ou negras. Homens e mulheres simples, sem instrução, eram coagidos a assinarem termos autorizando o procedimento.
O programa visava “limpar” os Estados Unidos daqueles que eram considerados indesejados, evitando a mistura de raças e estabelecendo cotas de imigração rigorosas para europeus do leste, judeus e italianos.
A esterilização era mais uma estratégia usada para promover essa limpeza étnica. O primeiro procedimento desse tipo ocorreu na Indiana em 1907, o último, aconteceu apenas em 1979.
Foram submetidos à esterilização criminosos, jovens infratores, homossexuais, mulheres com tendências sexuais consideradas “anormais”, pobres que recebiam algum tipo de auxílio do Estado, pessoas com epilepsia ou problemas mentais e muitas pessoas de origem africana e hispânica.
Embora se alegue que as esterilizações eram consentidas, havia uma coerção para que ela fosse autorizada, já que analfabetos se viam diante de formulários que deveriam assinar, detentos eram pressionados a concordarem com o procedimento e pais pobres eram ameaçados de perder auxílios estatais, caso não concordassem com a esterilização das filhas “depravadas”. Quanto aos afro-americanos, o argumento era de que devia-se evitar o nascimento de bebês negros, uma vez que eles sempre acabavam dependendo do Estado.
Em vários estados americanos esse tipo de procedimento foi realizado, mas a Carolina do Norte foi onde o programa foi mais eficiente, esterilizando cerca de 1.110 homens e 6.418 mulheres, dos quais, estima-se que 2900 estejam vivos. No ano de 2010 foi criada uma fundação para localizar essas vítimas e indenizá-las pelo que sofreram. Muitas delas, no entanto, acham que o valor pago pelo Estado é ínfimo diante dos sofrimentos psicológicos trazidos pela esterilização forçada.
Referências:
DAVIS, Angela. “Mulheres, raça e classe”. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2016.
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/06/110614_sterilisation_america_mv
ORDOVER, Nancy. “American Eugenics: Race, Queer Anatomy, and the Science of Nationalism”. Minneapolis/London, University of Minnesota Press, 2003.