Tchaca Tchaca na Butchaca: a história de Marques de Sade, o homem mais depravado da história
“SAINT-ANGE – Espera, Eugénie, agora vou ensinar-te uma maneira nova de mergulhar uma mulher na mais extrema volúpia. Afasta bem tuas coxas… Vede, Dolmancé, da forma que a deixo, seu cu fica para vós! Chupai-o, enquanto sua boceta vai sobrar para a minha língua… Façamo-la desmaiar assim, entre nós, três ou quatro vezes, se possível. Teu grelo é um encanto, Eugénie. Como é bom beijar esta penugem!… Vejo agora melhor teu clitóris, ainda pouco desenvolvido, mas já bastante sensível… Como te mexes bem!… Afasta mais as coxas… Ah, és virgem, sem dúvida!… Diz-me o efeito que irás sentir quando nossas línguas se introduzirem ao mesmo tempo nos teus dois orifícios. (Executa-se)”.
O trecho acima foi retirado da obra “A filosofia na alcova”, escrita pelo Marquês de Sade. No livro, temos uma série de diálogos entre diferentes personagens que falam sobre filosofia, moralismo e sexo. Foram textos como esse que deram a fama de depravado a Sade e fizeram com que os seus escritos ficassem escondidos durante séculos nos recônditos das bibliotecas e, ainda hoje, fizessem enrubescer os leitores mais puritanos.
Nascido em Paris, em 1740, o marquês Donatien Alphonse François de Sade ficou conhecido como um libertino, cuja obra atentava contra a moral e os bons costumes da época em que viveu.
Preso inúmeras vezes sob a acusação de agressões sexuais e imoralidade, ele teve seus textos censurados por causa da carga erótica que eles traziam, associando o sexo à violência e à crueldade, explorando cenas de torturas, assassinatos, incestos e estupros. De sua produção nasceu a palavra “sadismo”, até hoje usada para referir-se a situações de tortura e crueldade empregadas para provocar prazer em quem as pratica.
Mesmo enfrentando duras críticas, seus textos circulavam clandestinamente e inspiraram escritores como Victor Hugo, Gustave Flaubert e Honoré de Balzac.
Acusado de praticar crimes de luxúria contra a sociedade francesa do século XVIII, Sade passou a maior parte de sua vida na prisão e foi nela que escreveu vários dos seus livros.
Ao longo de sua vida, o marquês de Sade ficou 27 anos encarcerado, passando por diferentes presídios e sanatórios.
No cárcere, ele leu e escreveu muito, desenvolvendo uma filosofia alternativa sobre o comportamento humano.
Considerada maldita e pornográfica, a sua obra foi marcada por obras como “Os cento e vinte dias de Sodoma”. Escrita em 1785, época em que ele estava preso na Bastilha, o livro foi copiado em um rolo fino de papel, com 12 metros de comprimento. O texto só foi encontrado em 1904 e qualificado como “um longo catálogo de perversões”.
Nessa obra, quatro homens ricos se fecham no castelo de Silling, localizado na Floresta Negra. Ricos e perversos, eles mantêm escravos e escravas sexuais e quatro contadoras de histórias que são responsáveis por relatarem as 600 perversões sexuais que foram praticadas ali.
Em 1957, a obra de Sade deixou de ser lida às escondidas e foi publicada por um editor francês, mas foi apenas em 1990 que seus escritos chegaram a uma grande editora e ele foi incluído no catálogo da Pléiade entre os grandes nomes da literatura universal.
O mundo retratado em seus escritos é marcado pela transgressão, sodomia e libertinagem, sempre associados a crimes e violência.
Considerado um homem à frente de seu tempo, ele é visto por parte da crítica como um humanista, defensor da abolição da pena de morte. Foi justamente por causa de seus protestos contra a morte de prisioneiros da Bastilha, que ele foi transferido para um sanatório.
Em 1790, o Marquês de Sade foi colocado em liberdade, mas 3 anos depois foi novamente internado em um hospício e de lá nunca mais saiu. Morreu aos 74 anos, tão obeso que já não conseguia mais escrever com a intensidade de antes e completamente incompreendido pela sociedade conservadora da época em que viveu.
Quanto à sua obra, até hoje ela é objeto de polêmica. Há quem o analise do ponto de vista filosófico e o considere um precursor dos estudos sobre sexualidade. Há quem diga que ele não pode ser considerado um autor de literatura pornográfica porque o que escreve não tem a menor qualidade literária. Há, ainda, aqueles que mergulham em seus escritos e analisam o modo como ele descreveu práticas sexuais em uma época em que falar de sexo era proibido e quem o fazia era considerado um libertino depravado.
Referências:
BEAUVOIR, Simone. “Deve-se queimar Sade?”. In: SADE, Marquês de. “Novelas do Marquês de Sade”. Tradução Augusto de Souza. São Paulo: DEL, 1961.
SADE, Marquês de. “Os 120 dias de Sodoma ou a escola da libertinagem”. Tradução Alain François. São Paulo: Iluminuras, 2013.
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/03/140318_marques_sade_pai_df
https://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/12/14/obras-de-marques-de-sade-sao-aplicadas-no-direito/
https://periodicos.ufpe.br/revistas/EUTOMIA/article/viewFile/1948/1514
http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/278867/1/Castro_ClaraCarnicerode_M.pdf
https://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki/index.php?title=O_Marqu%C3%AAs_de_Sade_e_a_Pervers%C3%A3o