A triste e revoltante história de Sarah Baartman, a mulher negra que foi exposta como atração de circo na Europa
Por ter nádegas avantajadas, Sarah foi comprada como escravizada na Cidade do Cabo, na África do Sul. Levada para Londres, ela foi tratada como uma aberração dentro de circos e feiras etnográficas, os famosos zoológicos humanos.
Biógrafos acreditam que Sarah nasceu em 1789, em uma província próxima à Cidade do Cabo, na África do Sul. Órfã desde os 9 anos de idade, Sarah foi entregue a um homem que abusava sexualmente dela e se dizia seu marido, até ser assassinado por um holandês, por conta de uma dívida de jogo. Sozinha no mundo, com um filho pequeno nos braços, perdeu o bebê por inanição.
Foi vagando pelas ruas da cidade que ela foi capturada por um comerciante de escravizados e um médico. Percebendo o tamanho das nádegas de Sarah e compreendendo que, na época, a moda estética exigida das mulheres eram nádegas grandes, qualidade que faltava nas europeias, os proprietários de Sarah passaram a alugá-la para circos e exposições.
Ela era exibida praticamente nua, fazendo danças exóticas e se mostrando, de forma obrigatória, para homens e mulheres darem risadas ou tocarem em suas nádegas. Apresentadores de eventos diziam que Sarah era muito próxima aos gorilas na escala evolutiva, por isso era sexualmente mais liberal e tinha um corpo mais avantajado. Uma explicação extremamente racista para o abuso que ela sofria.
O desrespeito ao corpo de Sarah chegou à níveis humilhantes e grotescos. Pesquisadores da área de ginecologia e eugenistas chegaram a penetrar instrumentos dentro de suas nádegas, em uma clara ação de estupro.
Em 1812, abolicionistas passaram a protestar contra a exibição de Baartman e entraram na justiça inglesa para impedir as apresentações e libertar a sul-africana. Porém, Sarah morreu cedo, com 26 anos, vítima de sífilis e pneumonia. Ela também sofria adicção em álcool, desenvolvida com os inúmeros copos de whisky que era obrigada a tomar em suas apresentações.
Depois de morta, suas nádegas, esqueleto e cérebro continuaram sendo exibidos em um museu de Paris, até 1975.
Em 1994, Nelson Mandela exigiu o envio dos restos mortais de Sarah para a África do Sul, sua terra natal. Porém, a França só aceitou a exigência em 2002. Hoje, Baartman descansa em paz em um cemitério, com um bom túmulo, na Cidade do Cabo.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160110_mulher_circo_africa_lab
http://repositorio.unesc.net/handle/1/6130
SERTIMA, Ivan Van. “Mulheres Pretas na Antiguidade”. 1984. Tradução livre. Disponível em:
<https://estahorareall.wordpress.com/2015/02/20/mulheres-pretas- naantiguidade-dr- ivan-sertimma/>
SANFELICE, Perola de Paula. “Amor e sexualidade em ruínas: as pinturas da deusa Vênus nas paredes de Colonia Cornelia Veneria Pompeianorum”. Dissertação de Mestrado. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2012. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/27365?locale-attribute=pt_BR
https://www.blackpast.org/global-african-history/baartman-sara-saartjie-1789-1815/
https://news.fiu.edu/2021/how-sarah-baartmans-hips-went-from-a-symbol-of-exploitation-to-a-source-of-empowerment-for-blackwomen