A saga até a inocência: a história de Daniele, a mulher inocente, por trás do “Monstro da Mamadeira” de Taubaté
Como lidar com a morte da filha e ao mesmo tempo com a acusação de tê-la assassinado? Essa é a história de Daniele Toledo, moradora de Taubaté que, em 2006, ficou conhecida como “monstro da mamadeira” e foi presa acusada de matar a filha de um 1 ano e 3 meses.
A pequena Vitória tinha nascido com uma série de problemas de saúde. Seu parto foi prematuro, a gestação complicada e, desde seu nascimento, suas idas ao hospital eram frequentes. Ela tomava muitos antibióticos e anticonvulsivos, entretanto, seu diagnóstico não havia sido fechado. Os médicos não sabiam dizer qual era exatamente o seu problema de saúde.
Aos 11 meses, a pequena criança ficou por mais de 50 dias internada no Hospital Universitário de Taubaté. Nessas muitas idas de Daniele ao hospital, ela foi vítima de abuso sexual, sendo levada para um quarto, agredida e estuprada por um estudante de Medicina. A jovem mãe prestou queixa à polícia, porém, o caso acabou não sendo devidamente esclarecido e, para piorar a situação, o hospital se recusou a atender Vitória na última vez em que a menina teve uma crise convulsiva.
A criança foi levada para o Pronto-Socorro Infantil da cidade, onde uma enfermeira detectou resíduos brancos na língua do bebê. Pouco depois, Vitória sofreu três paradas cardiorrespiratórias e não resistiu. Daniele, no entanto, sequer teve tempo de processar a dor causada pela perda da filha. Logo após a sua morte, ela foi acusada de ter colocado cocaína na mamadeira da menina e saiu do hospital algemada.
Na época, Daniele tinha 21 anos e era considerada uma boa mãe por quem a conhecia. Além dos cuidados com Vitória, ela se dedicava ao filho mais velho, que não apresentava problemas de saúde.
Tanto na delegacia, quanto no hospital, Daniele foi chamada de assassina da própria filha e recebeu da imprensa a alcunha de “Monstro da Mamadeira”. A repercussão do caso foi imediata, julgada pela opinião pública e pela mídia, Daniele não pôde viver a dor do luto. Uma outra dor lhe foi imediatamente imposta: a dor da prisão e da violência praticada dentro dos presídios brasileiros.
Ela foi levada para a cadeia feminina de Pindamonhangaba. As detentas viram seu caso pela TV e lhe imputaram mais uma pena: Daniele foi espancada pelas 19 mulheres com quem dividia a cela.
Ajoelhada no chão, ela recebeu murros e chutes pelo corpo inteiro. Uma caneta BIC foi martelada em seu ouvido. Por quatro horas, a prisioneira foi espancada de todas as formas possíveis até cair desacordada. Em seguida, foi levada para o pronto-socorro de Pindamonhangaba e, depois, transferida para a cadeia de Caçapava e, por fim, para a penitenciária feminina de Tremembé, onde ficou em uma cela isolada.
O espancamento lhe deixou sequelas físicas e emocionais permanentes. Ela perdeu a audição do ouvido direito, perdeu a visão do olho direito, teve os movimentos comprometidos, passou a ter convulsões por causa dos coágulos que ficaram em sua cabeça depois de todas as agressões sofridas.
Daniele Toledo permaneceu presa por 37 dias, até que os laudos provaram que as substâncias encontradas no corpo da pequena Vitória eram dos medicamentos que ela tomava. Em 2008, finalmente, o processo por homicídio foi encerrado e Daniele foi inocentada.
Sua triste história foi contada no livro “Tristeza em pó”, escrito por Daniele como uma forma de lidar com a dor permanente que carrega e de denunciar as muitas injustiças a que foi submetida.
Referências:
https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqPics/1711400741P882.pdf