Tristão e Isolda: o mito do amor eterno
“Senhores, vos agrada ouvir um belo conto de amor e de morte? É o de Tristão e Isolda, a rainha. Escutai, como em grande alegria e grande pesar eles se amaram, disso morreram em um mesmo dia, ele por ela; ela por ele”. (Joseph Bédier, “Le roman de Tristan et Iseut)
A lenda de Tristão e Isolda apresenta várias versões e diferentes hipóteses para sua origem. Há estudos que atribuem seu surgimento a uma lenda celta do século VI; outros à tradição viking do século X. As versões mais conhecidas, no entanto, baseiam-se em registros franceses do século XII, vinculando-a à tradição das novelas de cavalaria da Idade Média. Fruto de diversas versões e adaptações, a história dos dois amantes foi transformada em ópera pelo compositor Richard Wagner e até hoje é tomada como exemplo de uma daquelas histórias de amor que ultrapassam o tempo.
Na versão do francês Joseph Bédier, a narrativa tem início com a apresentação da trágica história familiar de Tristão e com sua chegada à corte de seu tio Marc, na Cornualha. Ao longo dos capítulos iniciais, o autor mostra o caráter heroico de Tristão, como ele vingou a morte de seus pais e a sua lealdade incondicional ao rei que o acolheu.
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Após enfrentar diversas batalhas e quase perder a vida, Tristão viaja até a Irlanda para trazer Isolda, a Loura, para ser esposa do rei Marc. Ele conquista a mão da jovem após vencer um dragão e livrar o reino irlandês do sofrimento que o monstro trazia.
Durante a viagem, porém, Tristão e Isolda bebem por engano uma poção mágica feita pela mãe da jovem e que deveria ser tomada pelo rei e sua esposa durante a noite de núpcias. A poção tinha o poder de despertar um amor profundo entre aqueles que a bebessem. Assim, os dois jovens são tomados por um sentimento arrebatador e começam a viver esse amor ainda dentro do navio.
Chegando à Cornualha, Isolda casa-se com Marc, mas mantém um relacionamento secreto com Tristão por muito tempo, correndo todos os perigos para estar ao lado do homem que ama. Um dia, o rei descobre a traição e decide punir os amantes sem nem ao menos lhes dar a chance de um julgamento justo. Tristão consegue fugir e salvar Isolda de ser atacada por um bando de leprosos. Os dois fogem e passam a viver escondidos na floresta de Morois.
Mesmo com o imenso sofrimento de viver fugindo, Tristão e Isolda encontram no amor a força para seguir em frente, até que são descobertos pelo rei e Tristão consegue convencê-lo a perdoar Isolda e permitir que ele vá embora do seu reino.
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Tristão viaja por vários reinos na tentativa de se livrar da dor provocada pela ausência da amada. Dois anos depois, já sem notícias de Isolda, Tristão chega à Bretanha e acaba se casando com Isolda das mãos brancas. Certo dia, após um longo combate, Tristão é mortalmente ferido e pede que possa ver Isolda, a Loura, ao menos uma última vez.
Sua esposa ouve seu plano e, cheia de ciúmes, mente para o jovem moribundo, dizendo-lhe que o navio que está chegando à Bretanha está com velas negras, o que significaria que sua amada Isolda não estava vindo ao seu encontro. Diante do enorme sofrimento de não poder ver sua amada, Tristão dá seu último suspiro e morre. Isolda, a Loura, desce do navio, vai até a casa de Tristão, deitou-se ao lado do seu corpo, “beijou-o na boca e no rosto e o abraçou bem apertado: corpo contra corpo, boca contra boca, assim ela entregou sua alma. Morreu junto dele, de dor por seu amigo”.
O rei Marc levou o corpo dos dois para ser enterrado na Cornualha. No túmulo de Tristão, nasceu um espinheiro verde e florido, cujos galhos alcançaram a sepultura de Isolda, por três vezes os servos cortaram o espinheiro, mas ele nasceu novamente, até que Marc ordenou que ele fosse deixado ali, como símbolo de um amor que é capaz de durar até depois da morte.
Referências:
BÉDIER, Joseph. “O romance de Tristão e Isolda”. São Paulo: WF Martins Fontes, 2012.