História do Mundo

A Guerra dos Marimbondos: a revolta popular contra a realização do primeiro Censo do Brasil

No final de 1851, uma revolta se espalhou por vilas e cidades do Nordeste, principalmente por Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Conhecido como “Guerra dos Marimbondos”, o levante foi organizado por classes populares, lavradores, empregadas domésticas, principalmente homens negros livres, que temiam que dois decretos do Estado abrissem precedentes para escravizá-los.

Os decretos nº 797 e 798, de junho de 1851, mandavam executar o Regulamento do Registro de Nascimentos e Óbitos e anunciava o Censo Geral do Império a ser realizado em julho de 1852.

O boato de que os decretos tornariam homens livres em escravos, fez com que, dias antes do primeiro decreto entrar em execução, uma revolta popular surgisse em Pernambuco e se espalhasse para outras localidades.

Segundo Mário Melo, a revolta recebeu o nome de Guerra dos Marimbondos por causa do barulho causado pelos manifestantes quando rasgavam os editais das leis afixados nas portas das igrejas ou quando invadiam fazendas e delegacias cobrando a suspensão das medidas.

Apesar de ser uma ação encabeçada por homens pobres, os manifestantes tiveram seus objetivos alcançados. Os decretos foram suspensos e só ocorreu um senso no Brasil 20 anos depois.

Homens, mulheres e crianças se uniram para lutar contra o medo de uma reescravização. Fazia pouco tempo que o tráfico negreiro tinha sido proibido, então, muitas pessoas temiam que o registro feito pelo Império seria uma forma de conseguir escravos dentro do próprio país.

Conforme o governo imperial, o objetivo dos decretos era ter dados mais corretos a respeito da população brasileira, já que os registros eram feitos apenas pela Igreja Católica através do batismo e da extrema unção das crianças que nasciam mortas.

O barulho feito pelos manifestantes foi comparado ao zumbido de insetos agitados, por isso, o movimento ficou conhecido como “rumor das abelhas” ou “guerra dos marimbondos”. A mobilização alcançou números consideráveis, principalmente em Pernambuco. Na cidade de Limoeiro, chegou a contar com 500 pessoas, em Garanhuns, foram 330 manifestantes e em Jaboatão, outros 400 homens armados se colocaram em protesto contra os decretos.

O medo se espalhou entre delegados, juízes de paz, presidentes de província e senhores de engenho. Nas correspondências oficiais, eles relatavam o temor de enfrentar o “povo miúdo”, essa “gente da última ralé”, essa “população menos abastada, ignorante e supersticiosa”.

Armados com facas, facões, canivetes e navalhas, homens e mulheres protestavam contra o senso e causavam apreensão nas autoridades, que diziam faltar munição para conter os revoltosos.

Até mesmo a Igreja católica foi alvo de protestos, pois corria o boato de que os “papéis da escravidão” seriam lidos durante a primeira missa do ano de 1952.

Mesmo com o medo das autoridades, a ordem do Império era que o levante fosse abafado e as províncias mantivessem o discurso de que viviam em paz.

Considerando que os manifestantes eram ignorantes, os governantes apelavam para o esclarecimento da população. O discurso oficial era o de que os dois decretos visavam um progresso civilizador do país, mas era preciso convencer os manifestantes. Eles temiam que o registro e o censo fossem estratégias do governo imperial para escravizar os seus filhos.

Ser preto e pardo naquela época era viver uma constante instabilidade. A cor da pele fazia com que essas pessoas sofressem repressões diárias das autoridades e, frequentemente, fossem tratadas como escravizados que tinham fugido. Diante da exigência de preencher um registro informando nome, endereço, se era nascido livre ou liberto, o temor de uma escravização se tornava enorme.

A pressão popular surtiu efeito, no dia 29 de janeiro de 1852, os decretos foram revogados e o censo sequer chegou a ser realizado. O primeiro censo no país só aconteceu em 1872.

Referências:

https://www.bbc.com/portuguese/48391613

https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaclio/article/view/24529

https://www.revistas.usp.br/alb/article/view/11631

https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548772006_0cbc8ab08c20491cc20c1cdd2a9a381c.pdf

http://www.unirio.br/cch/escoladehistoria/pos-graduacao/ppgh/dissertacao_renata-saavedra

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