História do Brasil

A história da Higiene no Brasil: Das escarradas na mesa aos banheiro públicos

Escarradas na mesa de jantar, excrementos à luz do sol, acúmulo de moscas e baratas. Conheça a história da evolução da higiene no Brasil e no mundo.

A palavra higiene vem do grego e deriva do nome Hígia, deusa da saúde e da limpeza. No entanto, a noção de higiene tal qual a conhecemos hoje é extremamente recente. A palavra sequer aparecia nos dicionários brasileiros até o século XIX. O banho, porém, é uma prática de mais de cinco mil anos, sendo possível encontrar seus primeiros registros entre os egípcios que viam na água uma forma de limpar o corpo e a alma.

Mulher faz higiene íntima em período menstrual

Os banhos públicos eram praticados pelos babilônios, gregos e romanos. Na Idade Média, entretanto, sob influência da Igreja Católica, o corpo passou a ser visto como um “lugar de tentações” e o banho passou a ser tratado como um ato de luxúria, o que levou a sua prática a se tornar cada vez mais escassa na Europa.

Durante muito tempo, se acreditou que banhos faziam mal à saúde, que a sujeira poderia fazer uma película protetora contra doenças e que a abertura dos poros após o banho poderia ser uma porta de entrada para a peste. Tempos depois, descobriu-se que a crosta de gordura que se acumulava sobre a pele poderia tapar os poros e impedir as “trocas aéreas” necessárias ao organismo, assim, a limpeza da pele começou a ser mais praticada. Lenços eram utilizados para tirar a sujeira, perfumes eram usados para minimizar os cheiros exalados pelos corpos. O banho passou a ser usado como uma atividade terapêutica, para curar doenças. Embora hoje isso pareça impensável, os europeus tomavam apenas um ou dois banhos por ano e sempre a partir de recomendação médica.

No Brasil, os primeiros relatos de viajantes mostravam a surpresa dos portugueses com os muitos banhos que os indígenas tomavam ou com seus corpos nus, limpos e sem pelos. Nos relatos posteriores, porém, o que vemos é a descrição de casas imundas, tomadas de um mau cheiro insuportável, cheias de mosquitos e baratas. As necessidades fisiológicas eram feitas em tinas, que poderiam ser esvaziadas diariamente ou uma vez por semana, conforme a quantidade de pessoas escravizadas de que se dispunha.

Apesar da sujeira do corpo, havia uma preocupação em manter as roupas limpas. Assim, as lavadeiras caprichavam na lavagem, especialmente das roupas brancas e as entregavam passadas e perfumadas com flores.
Urinar e defecar pelas ruas era uma prática comum, o que tornava os espaços públicos malcheirosos e cheios de ratos, moscas e baratas.
Os hábitos à mesa também eram bem distintos dos de hoje. As pessoas não lavavam as mãos antes das refeições, guardanapos não eram utilizados, muita gente comia com as mãos e limpava a gordura acumulada em animais. Era comum cuspir no chão durante as refeições e muitas casas tinham uma escarradeira em suas salas de estar.

Urinar na rua, no Brasil colonial era comum

Não havia nenhum cuidado com os dentes, era comum o acúmulo de comida e a proliferação de cáries e outros problemas dentais, que acabavam levando à perda dos dentes.

Somente a partir do século XIX, com o desenvolvimento da ciência e a conscientização sobre a importância da higiene, é que os hábitos começaram a ser mudados, o que foi impulsionado também pela propagação da água encanada e do esgoto, embora, até hoje, ainda tenhamos muitas localidades do mundo que não dispõem de saneamento básico.

Com a popularização do sabonete e do sabão, os cuidados com o banho e com a higiene íntima se tornaram mais comuns e os hábitos de limpeza foram ganhando espaço. No entanto, o cuidado com a higiene, o uso de produtos de limpeza, a criação cada vez maior de cosméticos e cuidados estéticos, são práticas bastante recentes e que tiveram sua popularização apenas no século XX, ganhando forte impulso através da publicidade. Antes disso, porém, histórias como a de Dom João VI, que tinha aversão a banhos, fazia suas necessidades na rua, vivia cheio de coceiras e dava a mesma mão com que se coçava para que seus súditos beijassem, era algo extremamente comum e que não causava nenhum tipo de espanto.

Imagem da Tumb: mulher joga excrementos (urinas e fezes) pela janela da casa. Às vezes alguém estava passando e era bombardeado pelos dejetos. Brava, a vítima era chamada de “enfezada”

Referências:

BUENO, Eduardo. “Passando a limpo: história da higiene pessoal no Brasil”. São Paulo: Gabarito, 2007.
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-brasil-falta-de-higiene-seculo-19.phtml
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59701996000400004
http://periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/2171/0

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