A sinistra função dos tubarões na dinâmica do transporte de pessoas escravizadas para a América
Durante a época do tráfico negreiro, tubarões eram usados para torturar, assustar e coibir a fuga de pessoas escravizadas
A escravidão, sem dúvida alguma, foi uma das maiores barbaridades que a história da humanidade já produziu.
A viagem da morte entre o continente africano e a América impactou a natureza e a vida de milhões de pessoas, gerando muita dor, desgraça e algumas curiosidades sinistras, como o uso dos tubarões como coibidores de fuga.
Com a quantidade de mortos que eram jogados ao mar a cada viagem, conjuntos de tubarões passaram a acompanhar os barcos quando esses se aproximavam dos portos, ou até em alto mar. Os comandantes da embarcação, vendo a frequente companhia dos enormes peixes, passaram a usá-los para causar uma espécie de terror e violência psicológica sobre os cativos, principalmente contra mulheres que se recusavam a se deitar com os marujos, crianças que roubavam comida ou água e qualquer outro escravizado que pudesse ter a mínima intenção de fuga ou revolta.
O historiador Marcus Rediker, em seu livro “O Navio Negreiro”, descreve de maneira bastante explícita uma cena chocante: “Uma escrava rebelde foi amarrada pelas axilas e jogada na água pela metade do corpo. Em poucos segundos a água estava vermelha de sangue: metade do corpo da escrava havia sido arrancada pelos tubarões”. Na obra, o autor cita, que, de vez em quando, um tubarão era caçado e aberto na frente dos cativos, dentro do bicho, havia ainda sem digestão, partes de braço, cabeça e tronco de seres humanos. O que causava uma terrível violência psicológica e acabava por coibir qualquer intenção de rebeldia dentro da embarcação.
A violenta e longa história do tráfico negreiro chegou a alterar significativamente o fluxo de tubarões e outros peixes, causando uma reviravolta impactante na ecologia dos oceanos.
Referências:
FERNANDES, João Azevedo. “Navegando com tubarões: a máquina e os homens que fizeram o tráfico”. Revista de História [25]; João Pessoa, jul./ dez. 2011.
GAVIOLI, Jacine Silva. “Tráfico Negreiro: A Diáspora de um Continente”. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2017.
REDIKER, Marcus. “O navio negreiro: uma história humana”. Trad. Luciano Vieira Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.