História do Mundo

Tibira do Maranhão, a primeira vítima da homofobia no Brasil

Ao longo da história do Brasil, é imensa a lista de pessoas que perderam a sua vida por causa de sua orientação sexual. Casos marcados por extrema violência e crueldade tornaram-se bastante recorrentes, um deles, porém, é bem pouco conhecido, embora seja considerado o primeiro registro de morte por homofobia no Brasil.

Conhecido como Tibira do Maranhão, o caso refere-se a um índio tupinambá que foi executado, em 1614, por causa de sua orientação sexual. Segundo Luiz Mott, os termos “tibira” e “çacoaimbeguira” são usados pelos tupinambás para referir-se aos índios gays e às índias lésbicas. Conforme esse autor, diversos relatos de viajantes do século XVI fazem referência à homossexualidade entre indígenas e foi o processo de catequização que os levou a enxergarem isso como um pecado.

A história de Tibira do Maranhão foi relatada pelo padre capuchinho francês Yves D’Evreux em sua obra intitulada “Viagem ao Norte do Brasil (1613-1614)”, na qual ele aponta, adotando uma perspectiva religiosa, o pecado cometido pelo indígena ao relacionar-se sexualmente com outros homens. Para ele, Tibira era “um pobre índio, bruto, mais cavallo do que homem”, que tinha a voz fina e deveria ser hermafrodita.

Gravura de Theodor de Bry. Execução de “índios sodomitas”. 1594

Perseguido pela igreja, ele teria corrido para o mato, mas foi capturado e preso. Levado ao Maranhão, prenderam ferros aos seus pés e o julgaram pelo crime de sodomia. Condenado à morte, ele foi levado a aceitar o batismo para que pudesse garantir que sua alma fosse para o céu, apesar de ser considerado um pecador. Ao ser batizado, recebeu o nome de Dimas, em uma alusão a São Dimas, considerado o “bom ladrão”.

Depois do batismo, Tibira foi levado a um canhão instalado na muralha do forte do São Luís. Ali, ele foi amarrado pela cintura em frente à boca da arma e seu corpo foi dividido ao meio com o disparo, uma parte caiu no chão e a outra caiu no mar, nunca mais sendo encontrada. Sua execução foi assistida pelos frades franceses e pelos indígenas que, catequizados, viam a homossexualidade como um pecado.

Para ativistas de movimentos LGBT+, a canonização de Tibira do Maranhão seria uma forma de fazer uma reparação histórica, pois a morte do indígena foi fruto do preconceito contra a sua orientação sexual e, desde o Brasil colonial, essa é uma das principais causas das mortes de LGBTs no país. Segundo esses grupos, o suplício a que Tibira fora submetido por causa de sua sexualidade poderia servir de exemplo para o combate à homofobia.

Atualmente, diferentes grupos lutam para que a história de Tibira do Maranhão seja conhecida. Sua execução aconteceu sob ordem da Igreja Católica, por isso, há um movimento para que a Igreja peça perdão publicamente pelo ocorrido e instaure um processo de canonização do indígena. O objetivo é que Tibira do Maranhão seja reconhecido como o “primeiro mártir da homofobia no Brasil”.

Referências:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55462549

http://repositorio.unilab.edu.br:8080/jspui/bitstream/123456789/1455/3/2019_proj_pauloalmeida.pdf

https://core.ac.uk/download/pdf/33551983.pdf

https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/19269/1/2015_Estev%c3%a3oRafaelFernandes.pdf

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