A Viúva da Mega-Sena e o crime que abalou Rio Bonito
Ganhar na Mega-Sena é o sonho de muitos brasileiros. Conforme dados da Caixa Econômica Federal, 4 milhões de pessoas jogam nessa loteria por ano, depositando nesse jogo a possibilidade de realização dos mais variados sonhos.
Embora a probabilidade de ser premiado seja bem pequena, a esperança colocada naquela fezinha é sempre muito grande. Quando o resultado improvável vem, os ganhadores da Mega-Sena são tomados por um misto de sensações, passando pela incredulidade e pela alegria extrema. Foi assim com Renné Senna. Em 2005, ele recebeu 52 milhões na Mega-Sena, o que mudaria para sempre a sua vida.
Homem simples, lavrador, que passara a vida inteira lidando com a falta de dinheiro e com as dificuldades da vida, receber uma quantia dessas era muito mais do que ele poderia esperar para a sua vida.
Milionário aos 52 anos, Senna aproveitou das benesses trazidas por sua fortuna por dois anos, realizou muitos sonhos que considerava impossíveis, ajudou as pessoas e, mesmo tendo amputado parte das duas pernas por causa da diabetes, levava uma vida feliz em sua mansão em Rio Bonito, no Rio de Janeiro.
Essa tranquilidade, porém, foi interrompida, quando, no dia 7 de janeiro de 2007, ele foi assassinado. Renné Senna estava em um bar próximo de sua fazenda quando foi alvejado por tiros disparados por dois homens encapuzados que estavam em uma moto.
Os tiros atingiram a nuca, o rosto e o queixo do milionário e ele morreu no local. A investigação concluiu que a mandante do crime tinha sido a sua esposa, Adriana Ferreira. Segundo os investigadores, Senna pretendia se separar de Adriana e excluí-la de seu testamento. Assim, ela teria mandado executar o marido para ficar com a sua fortuna.
Conforme moradores da região, enquanto Renné tinha mantido a sua simplicidade e o desejo de ajudar as pessoas com quem tinha proximidade, Adriana tinha mudado muito depois que o marido recebera aquela fortuna. Ela só andava em carros de luxo, se submeteu a diversas cirurgias plásticas e vestia roupas caríssimas.
Ferreira tinha, ainda, convencido o marido a incluir seus parentes em seu testamento. Algum tempo depois, ele descobriu que a esposa tinha feito um saque de uma grande quantia de dinheiro sem lhe comunicar. Desconfiado de que estava sendo traído, Renné decidiu confrontar a esposa e ameaçou tirá-la do seu testamento.
A possibilidade de perder a fortuna que tinha mudado drasticamente a sua vida teria motivado Adriana Ferreira a encomendar a morte do marido. A investigação confirmou que Adriana tinha um amante e que estava decidida a lutar até as últimas consequências para ficar com metade do prêmio que o marido havia recebido.
Acusada de ser a mandante do assassinato do marido, Adriana passou a ser conhecida como “Viúva da Mega-Sena”. Ela ficou foragida durante algum tempo, mas acabou presa e condenada pela morte de Renné Senna. Conforme o inquérito, sete pessoas estiveram envolvidas no crime. Entre eles, o ex-PM Anderson Sousa e o funcionário público Ednei Gonçalves Pereira, acusados de serem os autores dos disparos.
Em julho de 2009, os dois atiradores foram condenados a 18 anos de prisão. Já Adriana Ferreira passou por mais de um julgamento e por várias fugas até ser condenada. Em 2011, ela foi inocentada, mas a sentença foi revista e anulada pelo Tribunal de Justiça do Rio porque foram cometidas irregularidades durante o julgamento.
Em 2016, Adriana foi novamente julgada. Condenada a 20 anos de prisão, ela só foi capturada em junho de 2018. Depois da condenação, uma briga judicial pela herança de Renné Senna teve início. Adriana lutava na justiça para validar o testamento no qual Renné deixava metade de seus bens para ela.
No dia 11 de maio de 2021, o Superior Tribunal de Justiça negou o recurso de Adriana Ferreira. Assim, a fortuna de Senna, que atualmente está em torno de 120 milhões de reais será dividida entre a sua filha e seus irmãos. Renata Senna ficará com metade do patrimônio do pai. O restante ficará com os irmãos do ex-lavrador.
Atualmente, Adriana Ferreira está no regime semiaberto e tem direito a sair cinco vezes ao ano da cadeia para visitar a família.
Referências: