História do Mundo

Exclusão social: o que é pobreza menstrual, o mal que aumenta a desigualdade de gênero no Brasil

Ainda considerada um grande tabu, é muito comum que meninas e mulheres evitem falar sobre menstruação, tentem esconder que estão menstruadas e tenham um grande cuidado para não serem vistas com um absorvente na mão, por exemplo.

Ao longo da história e conforme a cultura, o modo como as pessoas lidaram e ainda lidam com a menstruação é bastante variável, mas uma semelhança une muitas meninas e mulheres no mundo inteiro: a pobreza menstrual.

Estima-se que 300 milhões de meninas e mulheres usam pedaços de pano, plástico ou papel, areia, cinzas, miolo de pão para substituir os absorventes.

O custo dos absorventes higiênicos faz com que ele seja um artigo de luxo para quem vive em situação de vulnerabilidade social. A dificuldade do acesso a esse produto de higiene íntima impede que meninas frequentem a escola durante o período menstrual.

De acordo com dados da pesquisa “Impacto da Pobreza Menstrual no Brasil”, 28% das adolescentes brasileiras faltaram à aula por não terem dinheiro para comprar absorventes. 48% dessas jovens esconderam o motivo da falta por terem vergonha de admitir que vivem esse problema.

A ausência do produto básico de higiene, a vergonha de ter a roupa manchada, o estigma que ainda existe sobre a menstruação são fatores que afastam essas meninas da escola, fazendo com que prefiram faltar a correr o risco de serem humilhadas pelos colegas por algo que deveria ser tratado como natural, mas que ainda é visto como um tabu, como algo que deve ficar escondido da vista de qualquer um que não seja a própria pessoa que está menstruada.

Tendo que decidir entre comprar comida e absorvente, adolescentes e mulheres enfrentam todo mês o fardo de menstruarem e não terem acesso a um produto básico de higiene. Assim, colocam a saúde em risco ao improvisarem formas de conter o sangue menstrual. Para algumas delas, não é só o absorvente que falta. Elas não têm acesso à agua, saneamento básico ou banheiros adequados para cuidarem da sua higiene íntima.

Frequentemente associada à sujeira e nojo, a menstruação não recebe a atenção devida. Embora mulheres do mundo todo sofram com a falta de absorventes, ainda são bem limitados os projetos de lei que determinam a distribuição gratuita de absorventes ou a redução de impostos que poderia tornar o preço do produto mais acessível.

No Brasil, alguns estados e municípios criaram legislações sobre a questão. No entanto, ainda há um percentual muito grande de meninas e mulheres que precisam lidar com a falta do produto todo mês e com todas as consequências que isso lhes traz. Faltando da escola, deixando de sair de casa, lidando com a vergonha e o medo de verem seu sangue escorrendo simplesmente porque não conseguem comprar um produto básico de higiene.

No Brasil, tramitam diversos projetos de lei que instituem a redução de impostos e distribuição gratuita de absorventes para estudantes da rede pública, adolescentes que cumprem medida socioeducativa, pessoas detidas no sistema prisional, que vivem em situação de rua ou em extrema pobreza. No entanto, ainda estamos bem distantes de garantir que esses projetos sejam aprovados e entrem efetivamente em prática.

A pobreza menstrual não atinge apenas mulheres. Homens transexuais também menstruam e enfrentam outro problema além da falta de dinheiro: o preconceito. O constrangimento, a vergonha e a dificuldade de falar sobre o tema são imensos nessa situação. Se existe um tabu enorme em torno da menstruação feminina, esse tabu se torna muito maior quando falamos de transexuais.

O acesso a produtos de higiene íntima deveria ser um direito assegurado pelo Estado. Tratar a pobreza menstrual como um problema de saúde pública poderia ser um caminho para evitar o drama mensal vivido por milhares de pessoas ao redor do mundo.

Referências:

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/05/no-brasil-28-das-mulheres-ja-perderam-aula-por-nao-conseguirem-comprar-absorvente.shtml

https://emais.estadao.com.br/blogs/kids/26-de-meninas-brasileiras-nao-tem-dinheiro-para-comprar-absorvente/

http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/313346/1/Amaral_MariaClaraEstanilaudo_M.pdf

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