O assustador experimento da prisão de Stanford
O estudo que mostrou a face cruel dos seres humanos, quando são colocados em papéis sociais com posições de poder que lhe permitam torturar e abusar de outras pessoas
A “Experiência da Prisão de Stanford” foi uma pesquisa experimental destinada a investigar o comportamento humano em uma sociedade na qual os indivíduos são definidos apenas pelo grupo.
A metodologia do experimento consistia em simular uma situação de aprisionamento em uma cadeia construída nas dependências da Universidade.
Philip Zimbardo, responsável pela pesquisa, selecionou 24 homens e os separou em dois grupos de 12 pessoas. Metade dos participantes foi incorporada como guardas e os outros 50% foram transformados em prisioneiros.
A partir da designação de cada grupo, foram tomadas medidas para criar identidade entre seus participantes, fortalecendo a compactação do grupo e o sentimento de interdependência entre seus membros. Os guardas receberam óculos escuros (para evitar contato olho a olho), cassetetes e uma série de protocolos de como agirem para manterem a “prisão” em funcionamento. Os prisioneiros foram vestidos com roupas típicas de presidiários e também receberam instruções sobre como se comportarem dentro das dependências da instituição.
Vestidos em seus personagens, os participantes logo se identificaram e começaram a cumprir o papel social que se esperava de ambos os grupos.
O experimento, que era para durar duas semanas, terminou em seis dias, pois os desdobramentos da pesquisa ficaram rapidamente fora de controle. Os guardas, já no primeiro dia, começaram a tratar os prisioneiros de forma humilhante e sádica. Os prisioneiros, por sua vez, iniciaram conchavos, greve de fome e praticavam ações que quebravam regras propositalmente, visando desencadear atitudes cada vez mais autoritárias dos agentes prisionais.
Em seis dias, a situação dentro da “prisão” estava tão insuportável, que uma rebelião eclodiu entre os presos e foi reprimida violentamente pelos guardas. Zimbardo, mesmo contra a vontade, abortou o experimento, pois certamente, haveria mortes.
Ao final, os pesquisadores chegaram à seguinte conclusão: “O processo de desindividualização leva a uma perda de responsabilidade pessoal, que é a visão reduzida das consequências de suas ações, que enfraquece os controles com base em culpa, vergonha, medo, bem como aqueles que inibem a expressão do comportamento destrutivo”.
Desindividualização implica, portanto, uma sensação diminuída de si mesmo e identificação e uma maior sensibilidade para as metas e as ações tomadas pelo grupo: o indivíduo pensa, em outras palavras, que suas ações são parte daquelas cometidas pelo grupo.
As conclusões de Zimbardo foram usadas posteriormente para pensar políticas de estruturação de instituições policiais, reformas no serviço militar americano e para estudo sobre linchamentos e crimes cometidos por grupos infratores, como gangues e quadrilhas.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-46417388
ARAÚJO, Anne Francialy da Costa. “Uma ‘experiência’ perturbadora”. Olhares Plurais – Revista Eletrônica Multidicisplinar. vol. 1. nº02. 2010.