O casal viveu um amor tão grandioso que, sua história, e seu impactante fim, mais parecem uma obra literária Romântica, daquelas de arrepiar a espinha.
Quem nunca se deparou com uma história de amor capaz de nos tocar profundamente? Quem nunca se sentiu emocionado ao ouvir falar sobre um amor que durou por toda a vida?
Seja na vida real ou na ficção, o amor é um sentimento que desperta a atenção de grande parte das pessoas. Belas histórias de amor são capazes de nos encher de emoção e encantamento.
Dentre essas histórias, está a de André Gorz e Dorine Krein, cuja história de amor emociona a todos que têm o prazer de ler as belas páginas do livro “Cartas a D.”, escrito pelo filósofo André Gorz em homenagem à sua esposa Dorine.
Publicado em 2006, o livro celebra o amor e tem início com um trecho amplamente citado como uma das mais belas declarações de amor da atualidade: “Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher” (p. 5). Em seguida, o autor afirma que reconstituir a história desse amor é uma forma de compreender o que são, “um pelo outro, um para o outro” (p. 6).
A trajetória desse casal teve início em outubro de 1947 e, segundo Gorz, foi “quase um amor à primeira vista”. Com Dorine, o filósofo afirma que compreendeu que o “prazer não é algo que se tome ou que se dê. Ele é um jeito de dar-se e de pedir ao outro a doação de si”.
Ao longo do livro, Gorz afirma que Dorine esteve com ele em todos os momentos, dando-lhe forças para enfrentar as muitas dificuldades financeiras, participando de movimentos de militância, compreendendo seus momentos de isolamento enquanto escrevia suas obras, auxiliando em seu processo de escrita, acompanhando-o em suas viagens ao exterior, enfim, dando um significado para a sua vida através de sua presença.
Até que, em 1973, após dores de cabeça constantes, Dorine descobre que estava com aracnoidite, uma doença degenerativa provocada por um procedimento médico malfeito.
Junto com o diagnóstico, veio a notícia de que não havia tratamento possível, por mais que Gorz se debruçasse em estudos médicos e buscas de cura, não conseguiria encontrar na medicina tradicional algo que pudesse curar a dor de sua amada. Assim, Dorine decide que não será dominada pela doença e junto com seu esposo passa a buscar técnicas de medicina alternativa e a viver intensamente todos os momentos de sua vida, superando, ainda, um câncer do endométrio.
Gorz abandona seu trabalho de 20 anos em uma revista e muda-se para o campo com sua amada. Ali, segundo ele, eles viveram intensamente durante 23 anos, aproveitando momentos únicos de cumplicidade e amor. Com o passar do tempo, Dorine vai ficando cada vez mais debilitada e seu esposo vai tendo a certeza de que não seria capaz de sobreviver à morte da amada ou de acompanhar sua cerimônia fúnebre. Desse modo, em 22 de setembro de 2007, André Gorz e Dorine Krein cometem suicídio e seus corpos são encontrados lado a lado dois dias depois.
Conforme Gorz, eles não queriam sobreviver à morte do outro e se tivessem uma segunda vida iriam querer passá-la juntos. Depois de uma união de quase 60 anos e da construção de um amor tão profundo, ele não conseguiria viver sem a amada, assim, decidiu morrer com ela em um ato que reforça a intensidade de seu amor e que emociona quem se depara com sua história.
Referências: GORZ, André. “Carta a D.: história de um amor”. São Paulo: Cosac Naify, 2014.