Era dia 30 de maio de 1921. Por volta das 16 h, Dick Rowland, um engraxate de 19 anos, foi ao Edifício Drexel usar o único banheiro para negros que havia próximo ao seu local de trabalho, em Tulsa nos Estados Unidos.
Ao entrar no elevador, Sarah Page, uma jovem branca de 17 anos que trabalhava como ascensorista, deu um grito. Imediatamente, os funcionários do prédio deduziram que Dick Rowland tivesse cometido algum tipo de abuso contra a garota.
Esse acontecimento desencadeou o Massacre de Tulsa, triste momento da história americana em que cerca de 300 pessoas negras foram mortas por homens brancos armados que invadiram o distrito de Greenwood, em Tulsa, Okalahoma, entre a noite de 31 de maio e a madrugada de 1º de junho.
Ninguém sabe o que teria levado Sarah a gritar, a hipótese mais provável é que Dick tenha tropeçado e tocado no braço da adolescente e que isso teria motivado seu grito. A polícia foi chamada, mas a jovem sequer prestou queixa, pois já tinha visto o rapaz mais de uma vez naquele lugar.
Entretanto, o que não passava de um mal-entendido, bastante motivado pelo racismo entranhado na sociedade americana, acabou gerando um episódio marcado pelo horror e pela violência.
Mesmo sem o registro formal de uma queixa, dois policiais detiveram Rowland na manhã seguinte e o levaram à delegacia. O pior, porém, ainda estava por vir. Na tarde do mesmo dia, o diário “Tulsa Tribune” publicou a seguinte manchete em sua primeira página: “Negro preso por atacar garota em elevador”. De propriedade de um branco, o jornal noticiou o fato de forma mentirosa e racista, afirmando que Dick Rowland havia molestado a jovem, que ela estava com o braço arranhado e com as roupas rasgadas quando foi socorrida por funcionários do prédio.
Além disso, o tom sensacionalista da matéria reforçou o cenário construído pelo jornal. Rowland foi descrito como um criminoso e Sarah como uma pobre menina órfã que trabalhava para se sustentar.
As publicações do “Tulsa Tribune” caíram como uma bomba na cidade. Rapidamente, começaram a circular notícias sobre linchamentos pelas ruas. A fúria racista se espalhou como pólvora, reforçada pelas publicações irresponsáveis do jornal. Diversos historiadores afirmam que foram essas publicações que desencadearam a onda de violência contra negros que se espalhou pelo distrito de Tulsa.
Claro que não foi apenas o jornal, aquela região dos Estados Unidos era marcada por um racismo que estava enraizado na mente das pessoas, a tensão racial ali era muito forte e qualquer faísca poderia ser o estopim para um incêndio de proporções inimagináveis.
O distrito de Greenwood era conhecido como a “Wal Street negra”, em um país onde eram vigentes diversas leis de discriminação racial, ver pessoas negras ocupando posições de destaque era motivo de diversas tensões. Pensar que pessoas de pele negra pudessem se tornar advogados, dentistas, empresários, despertava um forte ressentimento nos moradores brancos da região. Afinal, se pela lógica racista, os negros eram inferiores, como admitir que eles ocupassem posições de destaque?
No início da noite, a turbulência pelo distrito se tornou ainda maior, um grupo de homens brancos se aglomerou diante do tribunal e começou a cobrar que as autoridades lhes entregassem o engraxate. Eles queriam matá-lo.
Como a população negra não confiava que a polícia fosse protegê-lo, dezenas de negros armados foram ao local para tentar garantir a segurança de Dick.
Nesse momento, o caos estava instalado. Cerca de dois mil homens brancos armados se posicionaram diante do tribunal e, rapidamente, começaram um confronto com os negros. Como estavam em menor número, os homens negros se retiraram, mas foram perseguidos e não houve mais como conter os absurdos que se seguiram. Ao longo do caminho, eles começaram a disparar contra qualquer pessoa negra que encontrassem pela rua.
O embate entre brancos e negros estava instaurado. Como os agressores estavam em número maior, a população negra foi encurralada, prédios e residências foram queimadas, muitas famílias abandonaram Tulsa no meio da noite, deixando para trás tudo o que tinham para não serem atingidos pela fúria racista que se espalhava pelo local.
Durante muito tempo, houve uma tentativa de apagar o que realmente ocorreu ali naquelas 48 horas. Diversos registros históricos se perderam. Há americanos que dizem nunca terem ouvido falar do horror que aconteceu ali. Muitas famílias das vítimas também optaram pelo silêncio para não revirem os traumas. No entanto, não há como apagar um dos muitos exemplos de como o racismo é capaz de motivar crimes contra a humanidade, espalhando destruição e ódio por onde ele passa.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50188869
https://super.abril.com.br/historia/saiba-o-que-foi-o-massacre-de-tulsa-que-completa-cem-anos/
https://www1.folha.uol.com.br/webstories/cultura/2021/05/o-que-foi-o-massacre-de-tulsa/