Em 1492, o navegador Cristovão Colombo chegou à ilha onde hoje se localiza o Haiti e a República Dominicana. Ele estava a serviço da Espanha e batizou o local de Hispaniola. A partir daí, começa um ciclo de violência e exploração nesse território.
A população local passou a ser escravizada e milhares de pessoas foram mortas ao longo desse processo. A produção de açúcar, cacau e café fez com que africanos fossem trazidos da África, vendidos como escravos e obrigados a trabalharem nessas lavouras.
Em 1697, a porção da ilha onde fica o Haiti foi cedida à França. A parte Leste, onde hoje se localiza a República Dominicana, continuou sob domínio espanhol.
O lado francês passou a gerar muita riqueza. Os lucros vinham da exploração de milhares de negros escravizados, que eram vítimas de abusos físicos, doenças e toda sorte de crueldade. A vida ali era tão dura que a expectativa de vida não passava de 21 anos de idade.
São Domingos era uma das mais prósperas colônias francesas. A grande produção de açúcar e café dava-lhe a posição de um território muito importante para a França. A maior parte de sua população era formada por africanos e seus descendentes e, diante da violência extrema praticada pelo regime escravagista, uma rebelião liderada por escravizados teve início em 1791.
As revoltas lideradas por cativos começaram a se espalhar, engenhos foram depredados, proprietários de terras foram mortos e o movimento deflagrou o episódio conhecido como Revolução Haitiana, que culminou com a independência desse território em 1 de janeiro de 1804, fazendo nascer o primeiro país “negro-africano” fora da África e também o primeiro a abolir a escravidão.
Inicialmente liderado por Toussaint L’ Overture, o movimento se opunha à escravidão e à opressão praticada pelo colonizador. Em 1802, L’ Overture foi preso e deportado para Paris, onde acabou morrendo na prisão.
Jean-Jacques Dessalines assumiu a liderança contra os franceses e derrotou-os em novembro de 1803, declarando a independência de São Domingos em janeiro do ano seguinte. Dessalines passou a governar o país e deu-lhe o nome de Haiti, em homenagem aos indígenas que haviam sido exterminados pelo colonizador.
O Haiti se tornou o primeiro país a conquistar a sua independência a partir de uma rebelião de escravizados, que, na época, constituíam cerca de 80% de sua população. Esse levante fez com que houvesse um endurecimento das leis escravistas e o aumento da violência contra os escravizados nas outras colônias, inclusive no Brasil, já que havia o temor de que rebeliões desse tipo pudessem acontecer em outros territórios.
Esse processo de luta pela independência foi marcado por um conflito sangrento, pois os franceses não pretendiam perder a sua colônia e os rebeldes eram movidos pelo desejo de romper com toda a humilhação e a opressão que eram praticadas contra eles, assim, queimaram propriedades e mataram seus algozes.
A Revolução Haitiana mostrou aos escravizados que eles poderiam alcançar a liberdade e tomar o poder. Tornando-se um exemplo de luta contra o colonialismo, o Haiti serviu de inspiração para que as colônias espanholas também buscassem a sua independência.
Os haitianos se tornaram um símbolo da resistência contra a extrema violência praticada pelos franceses. No entanto, a nova nação que se construía sofreu fortes sanções da França, que exigiu reparações aos proprietários expropriados, fazendo com que o país entrasse em dívidas gigantescas, que destruíram a sua economia e infraestrutura. Além disso, por longos anos, os haitianos enfrentaram muitos conflitos internos e instabilidade política, fatores que contribuíram para que o Haiti se tornasse um dos países mais pobres da América.
A abolição da escravidão e a independência não trouxeram a paz esperada. A disputa pelo poder e as divergências raciais traziam muita instabilidade ao país. Dessalines governava com mãos de ferro, obrigava os homens haitianos a trabalharem como soldados ou em plantações de produtos para exportação e despertava o descontentamento de grande parte da população.
A tensão e as mortes continuavam marcando esse território já tão explorado. Os conflitos raciais seguiam firmes, uma espécie de regime de castas vigorava, em que brancos, mestiços e negros viviam em constante disputa.
Em 1806, Dessalines foi vítima de um motim que tirou a sua vida. O assassinato do governante colocou o Haiti em uma sangrenta guerra civil. Sem ter a sua independência reconhecida, o país sofria fortes sanções internacionais e acumulava dívidas, que se tornaram ainda maiores após o acordo firmado com a França, em 1825. Para indenizar os franceses pela perda de seus escravizados e ter o reconhecimento de sua independência, o Haiti se comprometeu a pagar 150 milhões de francos aos franceses, o que fez com que o país contraísse empréstimos extorsivos e só conseguisse quitar a dívida em 1947.
Ao longo de toda a sua história, o Haiti enfrentou a miséria e uma forte instabilidade política, enfrentando golpes de estado que implantaram longos períodos de ditadura, lidando com desastres naturais e muita violência e exploração, fatores que o tornaram um dos países mais pobres do mundo.
Referências:
Figueiredo, Eurídice. “O Haiti: história, literatura, cultura”. Revista Brasileira do Caribe, vol. VI, núm. 12, enero-junio, 2006, pp. 371-395. https://www.redalyc.org/pdf/1591/159114589004.pdf
https://www.scielo.br/j/vh/a/HCm6zMsqqS89kSzgHwQQPWx/?lang=pt
JAMES, C. L. R. “Os jacobinos negros. Toussaint L`Ouverture e Revolução de São Domingos”. Tradução de Afonso Teixeira Filho. São Paulo: Boitempo, 2000.
Imagem de abertura: Tela pintada por Auguste Raffet, em 1802.