Em 1940, em meio ao avanço alemão na Segunda Guerra Mundial, países como os Estados Unidos passaram a se preocupar muito com as loucuras que Hitler poderia fazer com uma máquina de guerra tão poderosa quanto as forças armadas alemãs. No momento em que ele foi para cima da Inglaterra e França, isso ficou ainda mais evidente. Os nazistas haviam subjugado os dois países europeus muito rapidamente e já começavam a causar receio nos norte-americanos.
Por conta dessas questões, o Serviço Secreto do Exército Americano (OSS), que sustentava espiões e já estava preocupado com a megalomania de Hitler, encomendou com o psicanalista mais prestigiado da época, Walter Charles Langer, Livre Docente e pesquisador de Cambridge, uma pesquisa sobre a mente de Hitler. Durante três anos, Langer ouviu centenas de pessoas, estudou a história da vida de Hitler, suas derrotas, vitórias, modos de agir, decisões. Amigos pessoais, profissionais que o acompanharam na Primeira Guerra Mundial, judeus e alemães que o conheciam bem a sua trajetória.
Walter observou que na fala de todos os entrevistados havia uma similaridade. Todos achavam que Hitler não iria longe na política, era caricato, uma figura estranha e com ideias malucas, que não pareciam fazer sentido.
Conforme o autor, “Essa visão simplista, porém, é toda inadequada para aqueles responsáveis por conduzir a guerra contra a Alemanha ou para aqueles que terão que lidar com a situação quando a guerra acabar. Perceberão que a loucura do Führer se tornou a loucura de um país, ou até mesmo de uma grande parte do continente. Perceberão que não se trata inteiramente das ações de um único indivíduo, mas que existe um relacionamento recíproco entre o Führer e o povo, e que a loucura de um estimula a do outro, e vice-versa. Não foi só Hitler, o louco, que criou a loucura alemã; a loucura alemã também criou Hitler.”
Segundo Langer, a loucura de Hitler conseguiu fanatizar a população alemã e transformou um país em uma espécie de repetição de sua própria neurose.
Megalomania e ideia de divinidade:
Hitler se acha um Messias, gostava de dizer que era o salvador da família e o principal ponta de lança contra o comunismo e a destruição da sociedade e costumes alemães.
Por isso, onde Hitler ia, seus assessores aconselharam o tratamento dado a divindades. Incluindo quadros na parede e liturgias próprias do cristianismo e militarismo.
Hitler também eras megalomaníaco, gostava de construções grandiosas, grandes eventos, fartura e intensificava suas ações como se tudo tivesse que fazer barulho. Ele se dizia o escolhido para a missão de alterar a ordem do mundo. Como um Cruzado.
Agressividade, gosto pela brutalidade e negação da compaixão.
Segundo o psicanalista, Hitler tentou suprimir o mais profundamente possível suas fraquezas e sensibilidade, desenvolvidos na época em que tentou ser artista e foi recusado na academia de belas artes. Ao contrário da sensibilidade e intelectualidade necessárias para se produzir obras artísticas, e interpretando essa recusa como uma derrota, Hitler passa a devotar suas frustrações na brutalidade das palavras e ações contra judeus, povo a quem atribuía a culpa por várias de suas frustrações. Hitler conseguiu transferir essa culpa para os alemães, focando no fracasso da economia e na fome, como consequências da existência de judeus e comunistas.
Consumidor de pornografias, procrastinador e chocólatra
Segundo informações de várias fontes escritas, notas fiscais e entrevistados, Hitler gostava de procrastinar e não pensava muito nas ordens que dava. Sua agenda diária geralmente era bem curta. Sobre essa questão, Langer faz a seguinte afirmação: “Embora Hitler tente se apresentar como um indivíduo muito decidido, que jamais hesita ao ser confrontado por uma situação difícil, ele está longe disso na maioria das vezes. É bem nesses momentos que sua procrastinação se torna mais acentuada. Nesses momentos, é quase impossível fazê-lo agir. Ele permanece bastante ensimesmado e, frequentemente, se mantém quase inacessível à sua equipe imediata. Muitas vezes, fica deprimido e de mau humor, conversa pouco e prefere ler um livro, assistir a um filme ou brincar com maquetes arquitetônicas.”
Hitler também era um consumidor assíduo de Pornografia. Ele assinava a publicação da parte adulta do jornal Der Stürmer e perguntava se havia novas publicações constantemente.
Também houve relatos de que Hitler chegou a consumir em um dia só mais de 1 kg de chocolate.
Medo do debate
Hitler, que era caricato e muito bom em exaltar plateias a partir do ódio, fugia insistentemente de debates críticos. Geralmente só dava entrevistas pautadas, após se preparar incansavelmente:
“Hitler também fica nervoso e tende a perder a compostura quando precisa encontrar jornalistas”. Geralmente, seu chefe de propaganda, Joseph Goebbels odiava a imprensa tradicional, e impunha muitas condições para poder passar informações aos jornalistas. Por isso, são raras as entrevistas do governante alemão e ainda mais raros os momentos em que foi confrontado pela imprensa. Hitler também ficava em pânico ao ser chamado para discutir com intelectuais. Geralmente pouco falava nessas reuniões.
Em relação às características da mente do ditador, Langer diz: “Hitler me parece ser um psicopata neurótico atormentado por medos, ansiedades, dúvidas, recriminações, sentimentos de solidão e de culpa.” (Langer, 2019, Leya)
Tendências suicidas
Langer ficou conhecido por ter previsto o suicídio de Hitler três anos de seu acontecimento. Segundo o autor, Hitler tinha características de uma mente doente que certamente procuraria saída tirando a própria vida. Com problemas em lidar com frustrações, o ditador ia tomando decisões e remoendo culpa, traços muito característicos de pessoas com tendência a tirar a própria vida.
A análise de Lange ajudou muito os aliados para traçar estratégias e conhecer melhor a mente por trás da Segunda Guerra e do genocídio judeu. Em 1972, essa análise virou um livro, que recebeu o título “A Mente de Hitler” e virou um clássico estudado nas universidades de psicologia e história mais prestigiadas do mundo.
Um grande trabalho que contribuiu, e muito, para entender como, de tempos em tempos, colocamos loucos para comandar países e os rumos da sociedade.
Que sirva de lição!
Referências
LANGER, Walter C. “A mente de Hitler”. São Paulo: Leya, 2020.
http://www.leya.com.br/blog/9-revelacoes-do-psicanalista-que-analisou-a-mente-de-adolf-hitler/
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832006000400008