Dono de uma habilidade ímpar na comédia, Chico nasceu para fazer rir. Ao longo de sua vida, construiu mais de 200 personagens e milhares de piadas. Com uma capacidade de adaptação fora do normal, o comediante certamente teria se adaptado aos novos tempos, mas não viveu o período das redes sociais e do cancelamento em massa.
Francisco Anysio de Oliveira Paula nasceu em 1931 na cidade de Maranguape, no interior do Ceará. O estado é um berço de comediantes e, entre muitos artistas, deu à luz o garoto que mais tarde ficaria conhecido como Chico Anysio.
Com 8 anos, Chico foi para o Rio de Janeiro com a família, seu pai era empresário do ramo de transporte no Ceará, porém faliu. Passando dificuldades financeiras, a família se mudou para o Rio de Janeiro. Francisco cresceu fazendo parentes, amigos e vizinhos rirem. Longe das imitações tão comuns na comédia da época, ele criava seus próprios personagens a partir de estereótipos. Não poupava ninguém, fosse minoria ou maioria. Na época, não havia a concepção de que fazer rir a partir de estereótipos de minorias era antiético. Apesar de sua arte ser à frente de seu tempo, pois não usava o racismo ou insultos, nem homens negros e gays como escada, performance que se utiliza do preconceito em cima de uma minoria para fazer os outros rirem.
Aos 18 anos, Chico frequentava programas de calouro e já havia ganhado vários deles. Com características tipicamente nordestinas, sofreu bastante preconceito sendo chamado de “paraíba”, “ceará” e outros nomes dados aos migrantes que procuravam vida melhor no sudeste do país.
Foi nessa época também que passou a cursar Direito, curso que não concluiu por achar aquilo tudo muito sério, mas biógrafos do comediante dizem que o tempo que Chico passou no curso o ajudou a entender melhor os limites éticos e legais da liberdade de expressão, por isso, como comediante, sempre teve poucos processos para responder. Aos 20 anos, Chico entrou para a Rádio Guanabara e a carreira deslanchou, em poucos anos, ele criou 209 personagens, alguns deles conhecidos até hoje e que servem de referência para muitos comediantes, como: “Painho”, “Salomé”, “Profeta” e o “Bento Carneiro”, o “Jogador Coalhada” e “WASHINGTON”, um militante de esquerda de universidade, sustentado pelos pais, que combatia o imperialismo norte-americano e cancelava pessoas antes da palavra entrar na moda. Mas nenhum personagem fez tanto sucesso quanto o “Professor Raimundo” e a esquete que criou.
Uma escolinha com diversos comediantes de sucesso, muitos deles escolhidos pelo próprio Chico, que também era responsável pelos roteiros. Durante anos, “A Escolinha do Professor Raimundo” foi ao ar, criando e difundindo os principais bordões da história da comédia nacional. Além dessa atração, Chico também foi protagonista de outros sucessos como “Chico Show”, “Chico City” e “Chico Total”.
Nos últimos tempos, houve uma discussão grande em torno da carreira de Chico e alguns personagens em que ele se pintava de negro e usava a técnica do “Black Face”. No entanto, seus defensores dizem que era a forma dele representar um negro, já que era ele mesmo quem fazia todos os seus personagens. Essa é uma discussão cansativa, que ainda vai gerar muita polêmica. Afinal, eram outros tempos.
Casado por 6 vezes, Chico Anysio teve oito filhos. Uma de suas esposas foi a ex-ministra de Collor, Zélia Cardoso. Ela dizia que Chico fazia qualquer um rir, da hora que acordava até a hora de ir dormir. Ele dominava completamente a habilidade de arrancar essa expressão humana tão valorosa e necessária quanto é o riso. Principalmente em dias terríveis como esses que estamos vivendo, Anysio faz muita falta.
Chico faleceu em uma manhã de 23 de março de 2012, vítima de uma infecção pulmonar. Seu legado, entretanto, pode ser encontrado muito facilmente na história da comédia brasileira. Um país de história trágica, que foi alegrado durante mais de 5 décadas por esse grande nome da arte mundial.
Referências
https://educacao.uol.com.br/biografias/chico-anysio.htm
https://www.ebiografia.com/chico_anysio/
https://veja.abril.com.br/noticias-sobre/chico-anysio/