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Coragem, prisões e luta pela igualdade: a intensa vida de Martin Luther King

“Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter. Tenho um sonho hoje. Tenho um sonho de que um dia, no estado do Alabama, com os seus racistas cruéis e com o seu governador que tem os lábios pingando palavras de rejeição e anulação, um dia lá meninos negros e meninas negras poderão dar as mãos a meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos”.

            Proferido em 28 de agosto de 1963, nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, “I have a dream” é um dos mais famosos discursos de Martin Luther King e entrou para a história como um dos símbolos da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

            Michael King Jr. nasceu em 15 de janeiro de 1929, em Atalanta, na Geórgia. Seus pais eram um pastor protestante e uma professora. Ele adotou o nome Martin Luther King em homenagem a Martinho Lutero.

            Formou-se em Sociologia e Teologia e fez doutorado em Filosofia na Universidade de Boston. Em 1953, casou-se com Coretta Scott William e com ela teve quatro filhos.

            Martin era pastor e ativista político, foi idealizador das “marchas pelos direitos civis dos negros”, movimentos que percorreram várias cidades no Sul dos Estados Unidos. Em seus atos, ele pregava a não-violência e a desobediência civil. Além disso, tinha uma oratória capaz de mobilizar multidões.

            Seu ativismo era baseado em suas crenças cristãs. Assim, produzia discursos pautados também em valores religiosos, defendendo a liberdade e a igualdade entre todos os filhos de Deus. King concluiu o seu mais célebre discurso, “I have a dream”, conclamando o público a deixar a liberdade ecoar, mostrando que isso fará com que “todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão se dar as mãos e cantar nas palavras da velha canção negra, ‘livres, enfim! Livres, enfim! Louvado seja Deus Todo-Poderoso. Estamos livres, enfim!’”.

            Acompanhado por mais de 250 mil pessoas, incluindo brancos, “I have a dream” ecoou pelo mundo e trouxe esperança de uma coexistência pacífica entre as pessoas. Pregando a conciliação entre pretos e brancos construída através da união das gerações seguintes, Martin Luther King foi essencial para que a população negra americana mudasse os rumos da história.     

Em março de 1965, Martin Luther King caminha na marcha histórica de Selma a Montgomery. 

            Desde criança, ele sentiu na pele o peso do segregacionismo que dominava o país e cresceu buscando formas de combater essa segregação. Com seu poder de oratória, ele defendia que os Estados Unidos seguissem as promessas feitas na Constituição e na Declaração de Independência, documentos cujos ideais mostravam que o racismo não era algo que deveria ocorrer dentro do país. 

            O ativista encampou manifestações históricas, fundamentais para a mudança das leis. Em 1954, Martin Luther King iniciou suas atividades como pastor em Montgomery e teve um papel decisivo no boicote aos ônibus, após o episódio em que Rosa Parks se recusou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco. Esse movimento foi fundamental na luta pelos direitos civis.     

Em 1º de dezembro de 1955, em Montgomery, no Alabama, Rosa Parks se recusou a ceder seu lugar a um homem branco.

            O boicote durou 382 dias, causou grande prejuízos ao sistema de transporte público da cidade e forçou a Suprema Corte a tornar ilegal a discriminação racial em transportes públicos. O envolvimento de King na mobilização fez com que ele fosse preso, sofresse atentados e tivesse a sua casa bombardeada.

            As perseguições, entretanto, não esmoreceram a sua luta, ele seguiu baseando as suas ações na desobediência civil e na não violência, reunindo multidões em suas marchas pelo direito ao voto e contra as leis segregacionistas que marcavam os Estados Unidos naquela época. 

Em 3 de abril de 1968, um dia antes de ser assassinado, Martin Luther King aparece em varanda do Lorraine Motel.

            Em 1964, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra a discriminação racial. Em sua produção escrita sempre defendeu o fim da marginalização dos negros, a liberdade e a igualdade. Manifestou-se contra a Guerra do Vietnã e passou a defender a justiça econômica e a paz internacional. Seus posicionamentos fizeram com que fosse visto por muitas pessoas como um radical. Sendo tratado pelo FBI como uma figura “perigosa para o país”.

            Mesmo fazendo um movimento pacífico, ele era frequentemente perseguido pelas forças de segurança dos Estados Unidos, chegando a ser acusado de comunista. Viveu intensamente a luta pelos direitos civis dos negros e por uma sociedade marcada pela igualdade. Entretanto, teve a sua luta interrompida quando um tiro disparado por James Earl Ray, colocou fim em sua vida no dia 4 de abril de 1968, enquanto ele estava na varanda de um hotel em Memphis.

Corpo de Martin Luther King é levado a Atlanta.

            Martin Luther King foi um grande homem, nasceu, viveu e morreu em favor de uma causa. No fim, nos deixou um grande ensinamento: A carne pode perecer, mas as ideias nunca morrem, elas são vivas, à prova de balas. Deixou-nos, ainda, a certeza de que não podemos nos calar daquilo que está errado, como mostra sua célebre frase: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”.

            Até hoje as suas palavras são evocadas na defesa de políticas anti-discriminação no país e seus ideais seguem inspirando diferentes movimentos, como o Black Lives Matter e a Marcha por Nossas Vidas, através da qual milhares de jovens tomaram as ruas para protestarem contra o armamento e a sua pequena neta, Yolanda Renee, retomou seu famoso discurso para dizer que também tem um sonho: “de que já basta”. “E de que este deve ser um mundo livre de armas, ponto”.

            Continuar a sonhar e a lutar para alcançar esse sonho foi um dos grandes legados de Martin Luther King. Ele mostrou que todos temos um sonho e que esse sonho passa pela construção de um mundo mais justo e pela mobilização em torno desse ideal.

Referências:

CARSON, Clayborne e KING, Martin Luther. “A autobiografia de Martin Luther King”. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

LEWIS, John; AYDIN, Andrew e POWELL, Nate. “A Marcha – Livro 1: John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade”. São Paulo: Nemo, 2018.

https://oglobo.globo.com/mundo/eu-tenho-um-sonho-lembre-lendario-discurso-de-martin-luther-king-22543575. Acesso em: 22/01/2020.

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