Jorge Amado nasceu em Itabuna, Bahia, em 10 de agosto de 1912. Filho de um fazendeiro de cacau, ele passou a infância em Ilhéus e a adolescência em Salvador, onde concluiu sua educação básica e deu início aos seus primeiros escritos, a partir de trabalhos em jornais.
Seu primeiro romance, “O país do Carnaval”, foi publicado em 1933 e, a partir dessa publicação, iniciou uma carreira que o consagrou como um dos escritores brasileiros mais conhecidos no país e no mundo. Sua obra é composta por 32 títulos, ele vendeu mais de 10 milhões de livros e foi traduzido para 49 idiomas.
Formado na Faculdade de Nacional de Direito do Rio de Janeiro, Jorge Amado foi militante comunista e, por isso, exilou-se na Argentina e no Uruguai entre 1941 e 1942.
Após retornar ao Brasil, separou-se de sua primeira esposa, Matilde Garcia Rosa e, em 1945, foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro, sendo o deputado mais votado do Estado de São Paulo e o responsável pelo projeto de lei que garante a liberdade de culto. Nesse mesmo ano, casou-se com Zélia Gattai, que se tornou a grande companheira de sua vida.
Em 1947, o PCB foi declarado ilegal e seus membros foram perseguidos e presos. Assim, Jorge Amado exilou-se na Europa, voltando ao Brasil em 1952 e dedicando-se totalmente à literatura. Antes disso, porém, ele precisou enfrentar a perseguição do Estado Novo e até mesmo a queima de mais de mil exemplares de seus livros em praça pública.
Sua vasta obra foi adaptada para o cinema, teatro e televisão, o que o tornou ainda mais popular e fez com que alguns de seus personagens ficassem para sempre registrados no imaginário brasileiro. Suas mulheres sensuais como Gabriela, Tieta e Tereza Batista foram eternizadas na lista de personagens femininas inesquecíveis, mas, além da sensualidade e erotismo que contribuem para a popularidade de suas obras, Jorge Amado foi um autor que explorou com maestria o perfil multicultural e multirracial que compõe o povo brasileiro, denunciou as mazelas que marcam o país e mostrou a luta pela sobrevivência daqueles que vivem à margem da sociedade. Sua literatura foi o espaço que encontrou para dar voz àqueles que são silenciados diariamente.
Dentre suas obras, podemos citar “Terras do sem fim”, de 1943, na qual o autor contrasta a vida de privilégios dos coronéis do cacau e a miséria e opressão vividas pelos trabalhadores rurais, os quais eram extremamente explorados enquanto os fazendeiros enriqueciam.
Outra grande obra de Jorge Amado é “Capitães da Areia”, de 1937. Ao retratar a vida de um grupo de meninos de rua de Salvador, o autor consegue enfatizar o lado humano desses meninos, que agem como adultos, estão imersos na marginalidade, porém, são apenas crianças que sonham com uma mãe que os coloque para dormir, que se encantam com as histórias que lhes são contadas e que, como toda criança, ficam fascinados com um carrossel, em uma das passagens mais bonitas do livro.
Seus livros são um caminho para compreender o Brasil e suas injustiças sociais, são também um espaço em que as personagens femininas rompem com as regras que lhes são impostas e superam os códigos de conduta que lhes são determinados. Em sua obra, temos, ainda, uma galeria de heróis populares, os típicos malandros tão característicos de nossa literatura, a exploração do sincretismo religioso e a luta dos trabalhadores pela garantia de seus direitos.
A escrita de Jorge Amado seduz porque consegue explorar o encontro entre vida real e ficção, promovendo uma aproximação entre autor, personagem e leitor e levando-nos a compreender o Brasil em toda a sua diversidade.
Esse grande autor morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001, mas deixou registrado nas páginas dos seus livros o olhar crítico sobre nosso país e o espaço de manifestação daqueles que não têm voz. Como ele mesmo disse em uma de suas entrevistas: “Escrever é transmitir vida, emoção, o que conheço e o que sei, minha experiência e minha forma de ver a vida”. Ler Jorge Amado é adentrar em sua forma de ver a vida e, através dela, compreender um pouco do nosso país e de nós mesmos.
Referências
https://www.jorgeamado.org.br/?page_id=75. Acesso em: 24/01/2020.
https://acervo.estadao.com.br/noticias/personalidades,jorge-amado,697,0.htm. Acesso em: 24/01/2020.
AGUIAR, Joselia. “Uma biografia: Jorge Amado. São Paulo: Todavia, 2019.
RIDENTI, Marcelo. “Jorge Amado e seus camaradas no círculo comunista internacional”. Sociologia & Antropologia. Vol. 1. Nº 2. Rio de Janeiro, nov. 2011. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2238-38752011000200165. Acesso em: 24/01/2020.
DUARTE, Eduardo Assis. “Jorge Amado: Romance em tempo de utopia”. Rio de Janeiro/Natal: Record/ UFRN, 1996.
GOLDSTEIN, Ilana Seltzer. O Brasil best-seller de Jorge Amado: Literatura e identidade nacional. São Paulo: Senac, 2003.
Vários autores. Cadernos de Literatura Brasileira: Jorge Amado. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1997.