Todo ano, em época de Carnaval, diversas notícias circulam nos jornais falando sobre foliões que foram flagrados fazendo xixi nas ruas das cidades. Prisões, multas e campanhas de conscientização não são suficientes para inibir a prática. Em meio à muita cerveja e folia, a vontade de se aliviar fala mais alto e qualquer canto acabando servindo de espaço para “tirar água do joelho”.
O problema é que além da sujeira e mau cheiro, a urina degrada o patrimônio, danificando estruturas de prédios antigos e igrejas e matando árvores e plantas que servem de banheiro aos transeuntes.
Essa prática e todo o incômodo que ela gera não é recente, desde o Brasil Colonial, as ruas de cidades como o Rio de Janeiro eram tomadas por fezes e urina. A ausência de banheiros nas casas fazia com que as pessoas urinassem e defecassem em qualquer lugar, sem contar que urinóis eram lançados pela janela das residências, espalhando um forte odor por toda a cidade.
Homens escravizados, chamados de tigres, levavam barris com os dejetos de seus senhores para serem lançados no mar. No trajeto, restos iam se espalhando pelo chão e tornando a cidade ainda mais suja.
Em 1776, o Marquês de Lavradio tentou inibir a prática de lançar o conteúdo de urinóis pela janela. Depois de tomar um banho de xixi enquanto andava por uma rua, ele propôs a Lei do “Lá vai água”, determinando que todo sujeito que fosse “arremessar águas servidas pela janela” deveria “bradar antes ‘água vai'”.
A falta de higiene, entretanto, continuou tomando conta da cidade do Rio e de outras cidades brasileiras por muito tempo.
No século XIX, era comum que membros da nobreza interrompessem seu percurso para urinar no meio do caminho. Inspirado nesse tipo de acontecimento, Jean-Baptiste Debret pintou um quadro no qual um homem escravizado segura um guarda-sol enquanto seu senhor urina no meio da rua.
Há registros que dizem que Dom Pedro I urinava das varandas dos palácios sobre seus súditos.
Em 1887, a princesa Isabel criou um projeto para a instalação de mictórios públicos na cidade. Entretanto, foi só a partir de 1900, com as ações de reurbanização do Rio de Janeiro que o prefeito Pereira Passos começou a instalar os primeiros banheiros públicos na cidade.
Mesmo assim, urinar pelas ruas continuou sendo uma prática que persiste até os dias de hoje. A falta de banheiros públicos, as péssimas condições dos banheiros químicos e a dificuldade de segurar a vontade de urinar são as justificativas de homens e mulheres que são pegos fazendo xixi nas ruas. Conhecidos como mijões do Carnaval, eles são multados e podem até ser presos, mas a prática segue firme, como se realmente em meio à folia tudo fosse válido.
Referências:
https://correiodoestado.com.br/cidades/folioes-sao-flagrados-fazendo-xixi-nas-ruas-do-rio/239583
https://oglobo.globo.com/rio/aumento-da-multa-para-xixi-nas-ruas-do-rio-gera-polemica-17737574
