De maneira simplificada, a vacina é um agente – microrganismo ou substância – que, ao ser introduzido no corpo, provoca a imunidade para algumas doenças, pois ela estimula o sistema imunológico a produzir os anticorpos necessários para evitar o desenvolvimento dessas doenças em caso de contato com os vírus ou bactérias que as provocam.
O termo vem do latim “vaccinus”, que significa “que vem da vaca”, nome que tem a ver com o modo como foi criada a primeira vacina de que se tem notícia no mundo ocidental.
Foi preciso um longo percurso de pesquisas, testes e tentativas de imunização para que fosse possível chegar às vacinas que conhecemos hoje.
Os primeiros registros de tentativas de imunização datam do século X. Na China e na Índia, as pessoas lutavam contra a varíola, assim, surgiram tentativas de combatê-la ou torná-la mais branda. As casquinhas que se desprendiam da pele dos doentes eram maceradas e as pessoas engoliam seu pó como uma maneira de se proteger. Outra forma utilizada era fazer um corte na mão ou no pé e colocar um emplastro com as secreções que saíam das pústulas dos doentes, método que ficou conhecido como variolação ou inoculação e foi utilizado até o século XVIII.
A primeira vacina conhecida no Ocidente foi justamente contra a varíola. Desenvolvida em 1796 pelo médico inglês Edward Jenner. Ele percebeu que as pessoas que tiravam leite de vacas que tinham pústulas nas tetas ficavam com feridas nas mãos, mas não contraíam varíola. Assim, Jenner passou a retirar a secreção da varíola bovina e injetá-la em humanos.
A técnica funcionou e foi aprimorada ao longo do tempo. A vacina de varíola livrou a humanidade de uma doença que havia provocado a morte de milhares de pessoas. Depois de várias campanhas de vacinação, a varíola foi erradicada em 1980.
Louis Pasteur foi o responsável pela criação da vacina contra a raiva. Através de seus estudos, ele provou que a doença era causada por um vírus que se alojava no sistema nervoso central e, junto com o médico Émile Roux, desenvolveu, em 1884, a vacina antirrábica. Através da medula espinhal de coelhos infectados, eles fizeram a imunização de 120 cães. No ano seguinte, iniciaram os testes da vacina em humanos e tiveram resultados satisfatórios.
O tétano era uma doença que provocava muitas mortes e trazia dificuldades para o avanço da medicina, já que havia o risco de contaminação a cada procedimento cirúrgico. Em 1890, o fisiologista e microbiologista alemão Emil von Behring, conseguiu desenvolver uma antitoxina que neutralizava os efeitos da bactéria causadora do tétano. No ano de 1897, o microbiologista francês Edmond Nocard conseguiu provar que essa antitoxina poderia ser usada para a imunização. Em 1920, a vacina antitetânica foi criada.
Emil von Behring também foi o responsável por desenvolver uma antitoxina contra difteria, doença que poderia ser letal, especialmente em crianças. A partir de seu trabalho, que lhe rendeu um Nobel de Medicina em 1901, foi desenvolvida uma vacina no ano de 1923. Em 1930, foi criada a DTP, vacina tríplice bacteriana, contra tétano, difteria e coqueluche.
A tuberculose fez muitas vítimas ao longo da história. Na literatura, povoou a poesia romântica e provocou a morte precoce de muitos autores do Romantismo, sendo chamada de “mal do século”. Além disso, marcou a vida e a obra de Manuel Bandeira. A doença deixou um imenso rastro de mortes, sendo uma das doenças infecciosas que mais mata no mundo.
Em 1882, Robert Koch, um bacteriologista alemão, descobriu o bacilo causador da tuberculose. No ano de 1908, o bacteriologista Albert Calmette e o veterinário Camille Guérin começaram a pesquisar formas de tratamento da doença. Eles desenvolveram o bacilo Calmette-Guérin (BCG), que foi o ponto de partida para a produção de uma vacina contra a tuberculose. Em 1921, ela foi testada em humanos e obteve resultados positivos. Atualmente, a BCG é usada para imunizar pessoas no mundo todo e é eficaz também na prevenção da hanseníase.
A febre amarela começou a fazer as suas primeiras vítimas no século XVII. A partir de 1900, o Brasil passou a registrar um número muito elevado de contágio e centenas de mortos. O médico Oswaldo Cruz foi fundamental na elaboração de uma campanha sanitária para a contenção da doença. Em 1937, o virologista Max Theiler desenvolveu uma vacina.
Há registros de epidemias de gripe desde o século XII, mas foi no século XVIII que a pandemia da gripe espanhola assolou o mundo. A busca por uma vacina contra a gripe se tornou um desafio para a ciência. Na década de 1930, o desenvolvimento da cultura de vírus em ovos embrionados de galinha trouxe um avanço primordial para a fabricação de vacinas. Assim, em 1940, foi possível imunizar soldados da Segunda Guerra Mundial com a vacina contra a gripe. Desde então, campanhas de vacinação são organizadas em diferentes países e as mutações do vírus Influenza são mapeadas.
Desde a Antiguidade, é possível encontrar sinais da poliomielite, doença que pode provocar a paralisia e ataca principalmente crianças. No ano de 1948, a equipe do biomédico americano John Enders conseguiu cultivar o vírus em tecido humano. Em 1955, uma vacina injetável desenvolvida pelo virologista americano Jonas Salk passou a ser usada. Em 1961, o médico polonês Albert Sabin desenvolveu uma vacina oral com o vírus atenuado. As duas vacinas tiveram papel fundamental no combate à pólio, doença que foi erradicada no Brasil em 1990.
A partir da década de 1960, várias vacinas começaram a ser desenvolvidas. Em 1963, temos a vacina contra o sarampo; em 1968, contra a caxumba e em 1970, contra a rubéola. No ano de 1971, Maurice Hilleman, um microbiologista americano, criou a MMR, também conhecida como tríplice viral, que imuniza contra as três doenças e é aplicada em três doses.
Criada em 1981, pela equipe do Dr. Maurice Hilleman, a vacina contra hepatite B foi produzida a partir de plasma sanguíneo. Em 1986, o bioquímico chileno Pablo DT Valenzuela passou a usar o antígeno cultivado em leveduras e produziu uma vacina a partir da recombinação de DNA, o que foi um importante avanço para o desenvolvimento de vacinas.
A criação dessas vacinas mudou a história da humanidade e permitiu que doenças que tiraram a vida de milhares de pessoas ao longo dos séculos fossem erradicadas ou mantidas sob controle. Há ainda muitos desafios. Em 2020, cientistas do mundo todo se debruçaram na produção de uma vacina contra o coronavírus. A busca por uma vacina contra a AIDS tem sido um desafio há vários anos. À medida que novas doenças vão surgindo, novos desafios se apresentam à ciência. Entretanto, a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a busca constante pelo conhecimento permitem que esses desafios sejam superados.
Referências:
https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,10-vacinas-que-mudaram-a-historia,70003373580,0.htm
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572006000400001
https://super.abril.com.br/especiais/a-saga-das-vacinas/
CHALHOUB, S. “Cidade febril”. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.