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O assassinato de Eliane Grammont por Lindomar Castilho – o feminicídio que chocou o país

Conhecido como o “rei do bolero”, Lindomar Castilho era muito popular na década de 1970, vendia muitos discos e lotava casas de shows com suas canções românticas. Mas não foi só com sua música que ele registrou o seu nome na história, o cantor até hoje é lembrado por um crime que cometeu.

Na madrugada de 30 de março de 1981, Lindomar matou a sua ex-mulher Eliane de Grammont e feriu Carlos Randal no abdômen. Os dois faziam um show no café Belle Époque, em São Paulo. Randal era primo de Lindomar e estava se relacionando com Eliane. Mesmo estando separado de Eliane, o cantor de bolero não aceitava o seu envolvimento com outro homem e cometeu o crime que chocou o país e gerou uma ampla discussão sobre a noção de crimes passionais.

Eliane de Grammont e Lindomar Castilho se casaram em 1979. Na época, ele já era um cantor muito conhecido e Eline começava a crescer profissionalmente como cantora. A união entre os dois durou pouco tempo e foi marcada por muitas idas e vindas. Após o casamento, Lindomar fez com que Eliane abandonasse a sua carreira e se dedicasse apenas à casa e à filha que tiveram. Além disso, ele era bastante agressivo, ciumento e abusava de bebidas alcóolicas.

As agressões físicas, os desentendimentos e ameaças fizeram com que Eliane se desquitasse do esposo um ano depois do casamento. A separação, entretanto, não foi aceita passivamente e Lindomar tentava impedir que Eliane se envolvesse com outros homens, especialmente com seu primo.

Eliane de Grammont começava a retomar a carreira artística e Carlos Randal a acompanhava em seus shows tocando violão. Naquela noite, enquanto ela cantava, Lindomar entrou no café e disparou cinco tiros. Eliane morreu aos 26 anos de idade, com um tiro no peito disparado por seu ex-marido, enquanto cantava “João e Maria”, de Chico Buarque: “agora era fatal que o faz de conta terminasse assim”.

Castilho tentou fugir do local, porém foi detido pelo dono do estabelecimento e por frequentadores que testemunharam toda a ação. Quando a polícia chegou, ele tinha sido espancado e imobilizado e estava amarrado na calçada. Preso em flagrante, aguardou o julgamento em liberdade e, em agosto de 1984, foi condenado a 12 anos de prisão.

Como era bastante comum, a defesa tentou mostrar que ele havia cometido o crime “em defesa de sua honra”, que Eliane não era nem boa esposa nem boa mãe e que tinha sido infiel durante o casamento. Assim, tomado por “forte emoção”, Lindomar Castilho teria praticado o ato impensado.

Para a acusação, o crime tinha sido premeditado e o histórico violento de Lindomar corroboravam a tese de que ele era um marido agressivo e possessivo.

Do lado de fora do Tribunal, as pessoas se dividiam, enquanto mulheres gritavam e levantavam cartazes pedindo o fim da violência, homens revidavam com palavrões e reafirmavam o direito que o homem tinha de matar em defesa de sua honra.

Lindomar Castilho foi condenado por homicídio qualificado sem direito à defesa da vítima e por lesão corporal culposa contra Carlos Randal. Ele ficou em regime fechado até 1986, passando, em seguida, ao semiaberto e, em 1988, à liberdade condicional por bom comportamento, ganhando a liberdade definitiva em 1996.

Na prisão, ele dava aula de violão aos detentos e chegou a gravar o disco “Muralhas da solidão”. Seu último disco foi lançado em 2000, o álbum “Lindomar Castilho ao Vivo”, pela Sony Music. Atualmente, ele vive recluso em Goiás, sua terra natal, e evita falar sobre o crime que cometera, afirmando que não há o que dizer mais, que “a gente comete coisas quando está fora de si”.

Eliane de Grammont continua sendo lembrada como mais uma vítima de violência contra a mulher. A repercussão da sua morte ajudou a mudar a visão que se tinha sobre crimes passionais. Em 1985, foi inaugurada a primeira Delegacia da Mulher e, nos anos 1990, foi criada em São Paulo a Casa Eliane de Grammont, que oferece atendimento a vítimas de violência sexual e doméstica.

Referências:

https://revistamarieclaire.globo.com/EuLeitora/noticia/2020/12/orfa-de-um-feminicidio-decidi-transformar-dor-em-forca-para-defender-mulheres.html

http://g1.globo.com/musica/noticia/2012/05/nao-canto-mais-nem-no-chuveiro-afirma-lindomar-castilho.html

https://www.terra.com.br/istoegente/41/reportagem/rep_lindomar.htm

CORRÊA, Mariza. “Os crimes da paixão”. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

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