A Guerra às Drogas é fruto de uma política encabeçada por Ronald Reagan, presidente norte-americano durante os anos 80. Com o fim da Guerra Fria já praticamente decretado, os canhões estadunidenses foram direcionados ao tráfico internacional de drogas, sobretudo em dois países: Colômbia e México. Porém, era na América Central que a Guerra Fria tomava um novo fôlego. Na Nicarágua, um pequeno país se encontrava em uma guerra civil desde 1979, o processo revolucionário esperava levar ao poder a Frente Sandinista Nacional, partido político de orientação socialista.
Preocupado com o desenrolar da guerra no país, ressentido por conta da destituição da família Somoza do poder, histórico aliado dos Yankees, o governo norte-americano acionou a CIA para intervir no conflito.
A Agência de Inteligência, como forma de melhorar a logística de apoio aos contrarrevolucionários da Nicarágua, enviou para o México (país bem mais próximo do território de conflito) Felix “El Gato” Rodriguez, um cubano, radicado nos Estados Unidos, que se destacou como um dos principais soldados na luta contra o comunismo.
Felix esteve no Vietnã, na tentativa de derrubar o governo de Fidel Castro, no episódio frustrado conhecido como “Ataque à Baía dos Porcos”, em 1961.
Com o objetivo de melhorar a logísticas para o conflito da Nicarágua, Rodriguez fez aliança com os capitalistas mais bem-sucedidos do México, os narcotraficantes, sobretudo o trio Ernesto Fonseca Carrillo, Rafael Caro Quintero e Felix Gallardo, chefões do Cartel de Guadalajara, um dos maiores do mundo no período.
A aliança cedia aos EUA uma fazenda para ser centro de abastecimento, treinar soldados, esconder armas e aterrissar aviões de caça.
No mesmo período, a DEA, outro órgão norte-americano, intervia no México sob a égide da política antidrogas. Os agentes faziam um trabalho de caça às pessoas que torturaram e mataram o agente americano Kiki Camarena, que foi sequestrado e morto por traficantes de drogas. Os policiais da DEA descobriram que um agente da CIA estava, no dia da morte de Camarena, no mesmo local e interrogou o policial antes de sua morte. Era o Cubano Felix Rodriguez.
Camarena, na época, havia descoberto, de forma infiltrada, a maior plantação de maconha do mundo. Através de seu trabalho e denúncia, foram destruídos pés de maconha de muitos hectares, o que causou um prejuízo de pelo menos 8 bilhões dólares ao Cartel de Guadalajara. O fato teria sido o estopim para desencadear o sequestro, tortura e morte do agente.
Felix Rodriguez interrogou Camarena, pois suspeitou que o policial da DEA pudesse ter descoberto a fazenda na qual Estados Unidos e narcotraficantes eram aliados.
A participação de Felix no crime foi descoberta por agentes antidrogas que investigavam a morte de Camarena no país mexicano. Ao descobrirem a participação do Cubano “El Gato”, os agentes reportaram aos superiores e uma briga entre DEA e CIA foi desencadeada. Ao final, a história foi abafada e os policiais foram ameaçados de aposentadoria e até prisão.
No final dos anos 80, o muro caiu, os Estados Unidos viraram o país com um sistema econômico hegemônico e essa história ficou enterrada até vir novamente à tona através do trabalho de jornalistas, biógrafos e pesquisadores acadêmicos que se debruçaram para desmascarar a grande farsa da Guerra às Drogas que pautou a política norte-americana no período.
Referências:
https://www.tni.org/my/node/20675
https://progresoweekly.us/cuban-felix-el-gato-rodriguez-murdered-kiki-camarena-say-u-s-agents/
https://www.usatoday.com/in-depth/news/politics/2020/02/27/enrique-camarena-dea-agent-murder-narcos-mexico/2566023001/
La CIA, Camarena y Caro Quintero.: La Historia Secreta, México, 2015 por J. Jesus Esquivel
https://english.elpais.com/elpais/2013/10/15/inenglish/1381856701_704435.html