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“Respeito é pra quem tem”: a conturbada história de vida de Sabotage

Considerado um músico genial, Sabotage viveu entre quebradas, tráfico de drogas, carceragens, cinema e programas de televisão. Sempre trocando ideia, sempre dando uma letra

No dia 3 de abril de 1973, nasceu, em São Paulo, Mauro Mateus dos Santos. Filho de pais pobres, era cria da Favela do Canão, um dos lugares mais violentos da Capital paulista.

Sabotage na Favela do Canão em 1999


O pai, catador de papelão, abandonou a mãe, atitude comum nas periferias do Brasil. O genitor voltava à casa da família de vez em quando, sempre bêbado e pronto para arrumar confusão.
Após uma infância muito pobre, Mauro entra na adolescência e ganha de seus irmãos a alcunha que irá lhe acompanhar até o fim da vida: Sabotage.
O apelido veio porque Mauro aplicava pequenos golpes nos irmãos e sabia se virar muito bem na rua, através das “ideias”.
Na adolescência, ele reencontrou Dalva, a menina por quem era apaixonado desde a infância.
No anos 80, Mauro gostava de ouvir músicas de Chico Buarque e Leo Jaime. Sua canção predileta era “Meu Guri”.

Dalva e os filhos de Sabotage


Crescendo em um dos lugares mais violentos do mundo, Mauro teve passagens pela FEBEM e passou a viver suas primeiras experiências no crime.
Consciente de sua cor e de sua classe social, logo cedo passou a ver na música uma forma artística de expressão. Porém, sem oportunidade na vida artística, Sabotage entra na vida do crime, tentando dar à sua família uma situação diferente da que ele teve na infância.


A vida de Sabotage dá uma guinada quando o irmão foi preso por tráfico de drogas no famoso presídio do Carandiru. Visitando o irmão, ele teve contato com histórias e rappers. Pouco tempo antes da data de saída, seu irmão é morto por traficantes. Esse fato marca a vida do rapper para sempre e dá início a um período nebuloso em sua vida. Sabotage passa a usar crack constantemente e chega a morar na rua.
Após esse tempo nebuloso, Sabotage ganha apoio do RZO e dos famosos Racionais, que conheceram o mano e se encantaram pelos versos do cara.

Sabotage e Helião do RZO


Fazendo aberturas de shows do RZO, Sabotage pega a explosão do Rap de São Paulo. Afiado em rimas, falando a realidade da quebrada, de uma forma única, Sabotage passou a ser muito conhecido e admirado no circuito. O homem fazia rimas fáceis, entregava músicas em poucos dias e transparecia uma verdade muito impactante.
Em 2000, Sabotage é procurado pelos Racionais, que bancam a gravação de seu disco.
Após essa gravação, o cantor passa a ser conhecido nacionalmente e a fazer parceria com uma galera fora do Rap como a banda Charlie Brown Junior. Ele também passa a ser figura frequente no canal MTV.

Sabotage e João Gordo


Sua simpatia e carisma levaram Sabotage a realizar vários filmes como “Carandiru”, de Hector Babenco e “O Invasor”, de Beto Brandt. O filme sobre a prisão foi muito influenciado pelas ideias do cantor. Já que no SET de filmagem, o diretor sempre pedia suas opiniões sobre o mundo do crime e da prisão.

Cenas de Sabotage no filme Carandiru de Hector Babenco


Estourado, finalmente ganhando dinheiro para tirar os filhos da quebrada e mudar de vida, Sabotage ainda tinha alguns contatos no meio do tráfico de drogas e intermediava certas transações. Já na iminência de largar a criminalidade, Sabotage é assassinado com quatro disparos de arma de fogo. O crime foi praticado por traficantes que viam nele uma ameaça ao tráfico da favela, pois ele sabia todos os segredos da dinâmica do comércio de drogas da região e estava ficando famoso.


A carreira de Sabotage foi meteórica, mas muito impactante. Até hoje ele é lembrado dentro do circuito do Rap nacional. Sua história de vida é como a de muitos jovens negros e pobres da periferia de todo o Brasil. Seus versos e músicas são poemas que tocam até hoje nos rádios de garotos, garotas, homens e mulheres de todo o país, como um compêndio sociológico, um manual comunicativo de como se viver em uma selva de concreto e aço, banhada a muita violência, que é a favela num país como o Brasil.

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